
Arrecadação federal bate recorde em maio e atinge R$ 230 bilhões
Acumulado do ano em R$ 1,2 trilhão também é o maior da série histórica
Expansão de 3,4% da economia no ano passado sofreu influência de inflação acima da meta, dólar alto, recuperação do mercado de trabalho e retomada do investimento
A economia do Brasil cresceu 3,4% em 2024, influenciada principalmente pelo consumo das famílias e pelos investimentos. Mas como as estatísticas afetam o dia a dia do brasileiro? E qual o impacto que o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) pode ter sobre a população?
O consumo é um dos motores do crescimento da economia. No ano passado, para manter o fôlego foi preciso muita ginástica e pesquisa para driblar a alta de preços. E o impacto foi visto no quarto trimestre, quando a economia deu mostras de desaceleração e avançou apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior. O consumo das famílias foi afetado e recuou 1% na mesma base de comparação.
A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), encerrou o ano com alta de 4,83%, acima do teto da meta, impulsionado pela alta dos preços da comida. O grupo alimentação e bebidas foi o que registrou a maior alta no ano passado, com variação de 7,69%.
A inflação continua a ser dor de cabeça para o governo este ano, especialmente a alta dos preços dos alimentos, que afetou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Diante do impacto, o governo anunciou nesta quinta-feira um pacote de medidas que buscam reduzir os preços e que inclui desde alíquotas zeradas de importação para alguns alimentos, como café, carne e azeite, fortalecimento de estoques reguladores e flexibilização da fiscalização sobre produtos de origem animal.
O auxiliar administrativo aposentado Samuel Silva, de 59 anos, sentiu o impacto do aumento de preços no dia a dia. Ele teve de voltar a fazer serviços de contabilidade e investiu em uma lojinha para sua mulher, Rejane, na tentativa de complementar a renda familiar.
Responsáveis pelo sustento de dois filhos, Gabriel, de 13 anos, e Gabriela, de 16 anos, eles afirmam que o orçamento tem ficado cada vez mais apertado. As viagens, antes recorrentes, já não fazem mais parte da rotina. E as compras, ele diz que saíram da “fartura” para “o necessário”.
— Vou ao mercado e sei que está apertado. Estava acostumado a fazer aquela compra grande, agora é só o essencial. E, mesmo assim, tive que deixar de comer o queijo branco, a carne passou a ser de segunda, o azeite não é mais o tradicional, e o café, que está caro em todas as marcas, consumimos menos. Não tem condições. O dinheiro não dura até o fim do mês — diz Silva.
No malabarismo para fazer a conta fechar, o casal ainda cortou o plano de saúde, mantendo somente os dos filhos. O mais novo estuda em escola particular, um gasto que também pesa, enquanto a mais velha estuda em escola pública.
Neste ano, houve alívio temporário em janeiro em razão do bônus da usina hidrelétrica de Itaipu, um desconto aplicado na conta de luz a consumidores residenciais e rurais com consumo mensal de até 350 kWh. Com isso, no primeiro mês do ano, a conta de luz caiu 14,21% e houve uma trégua no orçamento.
A prévia da inflação de fevereiro, porém, aumentou 1,23%, o maior patamar para o mês em nove anos, com aumento nos preços de energia elétrica e educação. Os alimentos, os vilões da alta de preços no ano passado, continuam a subir, embora em ritmo mais fraco do que no ano anterior.
Associações do setor afirmam que a perspectiva de safra maior e a redução nos preços do milho, usado como ração, devem ajudar a reduzir os preços dos alimentos na mesa dos brasileiros. Já o pacote anunciado pelo governo é visto por especialistas como um conjunto de ações de alcance limitado.
Outro fator de pressão no orçamento, nas decisões de negócios e nos planos de viagem do brasileiro foi a escalada do dólar, que ganhou força no segundo semestre do ano passado. Durante o pregão em dezembro, a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 6,30, impulsionada pelas expectativas do mercado em relação ao governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, e pelas incertezas em relação ao rumo da política fiscal no Brasil.
Neste ano, houve sinais de arrefecimento, mas ainda assim, a divisa segue negociada em patamar alto. Antes do carnaval, foi cotada a R$ 5,91, afetada mais uma vez pela política de Trump, após o encontro com Volodymyr Zelenski. Nesta quinta-feira, a moeda fechou a R$ 5,75, influenciada pelo recuo do presidente americano na aplicação de tarifas para México e Canadá.
Seja por turbulência externa ou interna, a escalada do dólar mexeu com os planos de férias dos brasileiros. Depois de consultas seguidas ao calendário e um esforço para conciliar a agenda de férias da filha, que é psicóloga, do filho estudante e do marido, engenheiro aposentado, a bancária Giselle Gaia, de 52 anos, decidiu que as férias da família este ano seriam na França. A meta era passar dez dias em Paris e outras cidades próximas.
A escalada do dólar no fim do ano passado foi um banho de água fria para quem pretendia desembarcar na Cidade Luz em fevereiro. O orçamento saltou de R$ 22 mil por pessoa em setembro, para R$ 32 mil em novembro, já que o euro também se valorizou e parte dos custos é dolarizado. O jeito foi olhar o mapa e trocar o destino. A família acabou mudando a rota de Paris para Natal, no Rio Grande do Norte.
— O dólar subiu muito e a viagem ficou muito cara. Minha filha não pôde ir, e o que gastaríamos por pessoa na França pagou toda a viagem para Natal para mim, meu marido e meu filho — calcula.
Antes acostumada a fazer até duas viagens internacionais por ano, a bancária tem conhecido mais destinos no Brasil. No ano passado, foi para cidades históricas de Minas Gerais, além de Recife, em Pernambuco, e Gramado, no Rio Grande do Sul.
— Vamos esperar passar, tentar uma outra data e um dólar um pouco menos alto para retomar a viagem para a França. Espero conseguir ainda esse ano — diz.
Mas com um crescimento da economia de 3,4%, 2024 foi também um ano marcado pela forte recuperação do mercado de trabalho, inclusive com aumento da renda.
De acordo com dados do Caged, o país gerou 1,69 milhão de postos de trabalho com carteira, um aumento de 16,5% no saldo de vagas na comparação com o ano anterior. O salário médio de admissão ficou em R$ 2.177,96, aumento de 2,59% em relação ao ano anterior.
Para a amazonense Dalvina Bezerra de Souza, de 40 anos, 2024 foi um período de recomeço. Após 12 anos de emprego formal, ela ficou desempregada em 2023, quando a empresa em que trabalhava fechou as portas.
Mãe de duas meninas, de 7 e 17 anos, a moradora do Anil, bairro da Zona Oeste do Rio, buscou vagas em diferentes setores, mas enfrentou um ano fora do mercado de trabalho.
A renda da família desabou. As contas antes divididas entre ela e o marido passaram a depender apenas do salário dele, enquanto ela fazia bicos como boleira.
— Tive que me virar. O que conseguia com os bolos ajudava na alimentação, mas ainda tem o aluguel, as contas…. é muito difícil. Não tinha roupa nova ou sapato para as meninas, nem lazer. O máximo que tentávamos para sair da mesmice era fazer um lanche em casa no fim de semana para elas se distraírem um pouco — lembra.
A vida da família só voltou aos trilhos em março, quando Dalvina conseguiu uma vaga de auxiliar de produção numa indústria farmacêutica. Com a melhora na renda, as compras no supermercado têm agora menos restrições, e o lazer também voltou à rotina.
— Ficar parada é muito difícil. Gosto de trabalhar, ter meu dinheiro. Acho que a principal mudança foi no psicológico. Passei a dormir melhor sabendo que ia trabalhar e no fim do mês ia ter o salário e o vale-alimentação para ir no mercado e comprar o que minhas filhas pediam e eu não podia dar — comemora.
Há dúvidas entre economistas a respeito de até quando o mercado de trabalho pode seguir à margem de movimentos como o aumento da taxa básica de juros e o esfriamento na economia.
Em janeiro, o Caged registrou saldo de 137.303 contratações, acima das projeções de analistas, mas abaixo do registrado em janeiro do ano passado. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, atribuiu ao aumento dos juros a desaceleração em relação ao ano anterior.
Diante de sinais como alta da Selic, atualmente em 13,25% ao ano, e escalada do dólar, um dos fatores positivos do resultado do PIB foi o aumento do investimento, que cresceu 7,3% no ano.
Algumas empresas com investimentos planejados para o ano confirmam que vão seguir adiante mesmo com o cenário mais desafiador. É o caso da rede de hotéis Accor, que conta com 340 hotéis no país. Ela já assinou contrato para a abertura de outros 19, que vão consumir investimentos de R$ 700 milhões. O número se somará aos seis novos endereços previstos para abrir este ano.
Segundo Abel Castro, diretor de Desenvolvimento da Accor Américas, um dos focos de crescimento da companhia envolve o avanço dos hotéis de perfil econômico, com a marca Ibis, que responde por quase 70% do crescimento no ano passado. Em 2024, lembra ele, a receita por quarto, que mede a ocupação e o valor da diária, cresceu 11%:
— Em 2024, tivemos um crescimento tanto da ocupação quanto do valor da diária média, que conseguiu aumentar. A perspectiva é positiva para o Brasil. Ainda há bastante espaço para crescer nessas duas métricas.
Segundo Castro, a taxa de juros tem impacto na expansão. Para ele, a Selic no patamar atual é um dificultador. Porém, ele ressalta que o investimento no segmento é de longo prazo.
— A taxa de juros no patamar atual leva o investidor sempre a pensar se vai investir ou deixar o dinheiro em uma aplicação. Competimos com essas decisões, já que não somos os donos do ativo imobiliário. Claro que eu preferia que os juros fossem menores e os financiamentos mais adequados, mas temos que nos adaptar à realidade. Ainda assim, o investidor acredita no setor.
Ele destaca o apetite pela expansão de hotéis ligados ao avanço da zona do agronegócio. Castro cita a assinatura de contratos para novas unidades em cidades como Santarém, Vilhena, Uberaba, Patrocínio, Dourados e Nova Mutum, além de unidades no Rio Grande do Sul.
Acumulado do ano em R$ 1,2 trilhão também é o maior da série histórica
Valores são depositados em contas abertas automaticamente na Caixa
Apostas podem ser feitas até as 19h, horário de Brasília
Com adicionais, valor médio do benefício está em R$ 666,01