POLÍTICA

Entre elogios ao bolsonarismo, ex-tucano Felicio Ramuth cogita repetir chapa com Tarcísio e diz ter ‘perfil executivo’

24 de janeiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Ex-prefeito de São José dos Campos assumiria o governo estadual se o republicano optar por disputar a presidência

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) escolheu o PSD para compor chapa quando ainda não era favorito.. — Foto: Mônica Andrade/Governo do Estado de São Paulo

O vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth (PSD), mantém aberta a possibilidade de repetir uma eventual chapa com Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo do estado em 2026. Em conversa com o Globo em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes, sobraram elogios para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve ter peso na escolha, embora não guarde boa relação com o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab.

— O legado positivo de Bolsonaro é ter despertado mais lideranças de direita — avalia o vice-governador, de perfil discreto. Ele acrescenta ainda que comunga da mesma agenda liberal do líder do PL, ainda que tenham origens diferentes, ele na centro-direita e Bolsonaro em uma ala mais radical.

O vice-governador contabiliza presença em três manifestações favoráveis a Bolsonaro. A última ocorreu em fevereiro de 2024, na Avenida Paulista, em São Paulo, quando o ato mirou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, apesar da proibição de faixas sobre o tema pelos organizadores. Ele alega que não compareceu ao ato de 7 de setembro porque estava em campanha eleitoral para Anderson Farias (PSD) em São José dos Campos.

Apesar dos acenos ao bolsonarismo, fontes do PL relataram ao GLOBO, sob condição de anonimato, que foram “relapsos” em relação à escolha do vice de Tarcísio e que essa postura não deve se repetir em 2026. Além de Kassab e Ramuth, outro nome ventilado recentemente para a chapa é o do presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), André do Prado (PL). O deputado, no entanto, agrada mais ao grupo de Valdemar Costa Neto do que à ala fiel a Bolsonaro.

O posto é considerado estratégico porque, se Tarcísio tentar a reeleição, será encarado como um nome natural a presidente em 2030. Dessa forma, o próximo vice assumiria o cargo no final do mandato, com chance de emplacar uma candidatura à reeleição. Ramuth, no caso, está nessa posição agora e seria beneficiado caso o governador antecipe os planos para 2026.

Do ninho tucano ao gabinete poupado por Doria

Ex-prefeito de São José dos Campos por um mandato e meio, Ramuth passou 28 anos filiado ao PSDB. Em 2022, foi lançado pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, pregando uma “terceira via” independente de Lula (PT) e Bolsonaro, mas retirou a candidatura em favor de uma aliança com Tarcísio.

O carioca ainda era uma aposta contra o ex-tucano Rodrigo Garcia, que havia assumido o governo de João Doria e era desafeto de Kassab. Tarcísio acabou derrotando Fernando Haddad (PT) no segundo turno, com o governador amargando apenas o terceiro lugar.

O vice-governador argumenta que algumas propostas do seu plano de governo foram efetivamente incorporadas por Tarcísio, dando origem a medidas como o modelo de construção de moradia para atingidos por enchentes no município de São Sebastião e o programa de monitoramento de áreas de risco por satélite. Alega ainda que nunca encarou a candidatura como objeto de barganha política:

— Talvez estivesse na cabeça do Kassab. Na minha, não.

Ramuth conta que conheceu o ex-ministro de Bolsonaro ainda quando era prefeito e pediu ao governo federal a inclusão de marginais de São José dos Campos na proposta de concessão da Rodovia Presidente Dutra, extensão de 400 quilômetros da BR-116 que liga São Paulo ao Rio. Na época, surpreendeu-se com a recepção de Tarcísio, mesmo sendo do partido do “calcinha apertada”, apelido pejorativo dado por bolsonaristas a Doria.

As críticas ao ex-governador tucano incluem a decisão de pintar salas do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, de preto e cinza, em um plano que envolvia a locação de espaços para eventos. A sala ocupada hoje por Ramuth foi uma das poupadas na reforma e mantém a estrutura em madeira que complementa a vista para uma grande área verde do bairro do Morumbi, na Zona Sul da cidade.

O responsável pela preservação do espaço teria sido o ex-secretário da Fazenda Henrique Meirelles, antigo ocupante do gabinete, que se opôs à medida na época.

Vice admite pressão sobre Tarcísio, mas externa

Para Ramuth, nenhum partido teve tanto empenho na eleição de Tarcísio quanto o PSD, ainda que admita que a indicação para 2026 possa ficar com outra legenda a depender da articulação política.

O vice argumenta ainda que a política é “muito dinâmica” e que o governador “não perde um minuto sequer com essa pauta” atualmente. O republicano, contudo, pode ser levado a entrar em uma disputa contra o presidente Lula, que patina em termos de popularidade e recentemente trocou a chefia da comunicação, mas tem a máquina na mão.

— A pressão é de fora para dentro, até para que se evite abreviar o governo — declara ele, citando como forças que operam nessa questão o mercado financeiro e alguns setores da imprensa.

Desse modo, o vice tem no horizonte um possível mandato “tampão” à frente do governo estadual, com o afastamento obrigatório do titular seis meses antes do pleito para cumprir as regras da Justiça Eleitoral. Repetiria o histórico de políticos como Cláudio Lembo, Alberto Goldman, Márcio França e o próprio Rodrigo Garcia.

Dois deles, França e Garcia, assumiram a cadeira e tentaram um novo mandato em outubro, mas perderam. A única possibilidade que descarta por completo é tentar uma vaga parlamentar, dizendo ter “perfil executivo”. Nas entrelinhas, leia-se o cargo de governador, vice, secretário ou ministro.

Ramuth afirmou ao Globo que sente-se “contemplado” na gestão de Tarcísio. Divide a rotina entre reuniões do conselho diretor do programa de desestatização e do grupo de trabalho que trata das ações da Cracolândia, recém integrado pelo vice-prefeito de São Paulo, o coronel da reserva da Polícia Militar e bolsonarista convicto Ricardo Mello Araújo (PL).

Já assumiu a chefia do governo 11 vezes, devido a férias e viagens de Tarcísio. As marcas do mandato, avalia o vice, serão a agenda de privatizações e concessões, a Tabela SUS Paulista e o andamento de obras como o Rodoanel Norte e o túnel submerso entre Santos e Guarujá.

A respeito da principal vidraça do governo, o descontrole das polícias com altos índices de letalidade e flagrantes de abusos, Ramuth refuta o termo “crise”, dizendo que os dados de criminalidade estão em baixa. S

egundo ele, existe o “problema” da violência policial, que atinge uma parcela do contingente da PM e pode ser resolvido mesmo com a manutenção do secretário Guilherme Derrite (PL) — ex-capitão da Rota que diz ter sido expulso do batalhão por excesso de mortes em serviço. Outro bolsonarista de carteirinha.


BS20250124063031.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/01/24/entre-elogios-ao-bolsonarismo-ex-tucano-felicio-ramuth-cogita-repetir-chapa-com-tarcisio-e-diz-ter-perfil-executivo.ghtml

Artigos Relacionados