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Contratados sem vínculo definitivo já são 7% dos funcionários públicos. Modalidade é mais flexível e custa menos, mas especialistas defendem regulamentação
O número de servidores públicos dobrou no país em todas as esferas e poderes de 1995 a 2022, mas esse avanço foi concentrado nos municípios, onde o crescimento foi de 220,5%. E as prefeituras têm recorrido cada vez mais aos trabalhadores temporários.
Em 20 anos, entre 2003 e 2022, passou de 38,5 mil para 716,2 mil o total de servidores públicos sem vínculo definitivo em todas as esferas de governo no Brasil, segundo o Anuário do Gestão de Pessoas do Serviço Público, de 2024, do Instituto República.org. Os temporários já representam 7,2% de todo o funcionalismo.
Na quarta reportagem da série Estado (in)eficiente, especialistas avaliam que o trabalho temporário tem sido usado como expediente para dar mais flexibilidade e reduzir custos de contratação. Mas alertam que o modelo cria riscos, como de judicialização e de nepotismo.
As atribuições impostas pela Constituição de 1988, de saúde e educação para todos, são uma das principais explicações para o aumento expressivo de trabalhadores nas prefeituras.
Tanto que a maior parte dos profissionais no serviço público brasileiro é formada por professores de ensino básico, e a ocupação que teve o maior crescimento foi a de técnico de enfermagem, segundo o anuário do Instituto República.org. Pesa também a criação de novos municípios no Brasil. Em 1980, eram 3.974 e agora são 5.570.
— Esse aumento está relacionado à prestação de serviços sociais, de saúde, educação e assistência social. Os municípios têm buscado alternativas mais baratas, como a contratação temporária — diz Vera Monteiro, professora da FGV e conselheira da República.org.
Esse tipo de admissão temporária pelo Estado foi permitido por lei federal para suprir lacunas, como licenças médicas, atração para locais de difícil acesso, recenseamento, epidemias e projetos especiais, mas está se tornando uma prática comum.
Na educação a presença é maior: mais de 50% dos professores do ensino básico são temporários, alerta Cibele Franzese, que foi secretária adjunta de Gestão do Estado de São Paulo e é professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da FGV-SP.
Na educação, a contratação temporária é mais forte por não ser permitida a terceirização ou parcerias com ONGs, como na saúde e nas creches. A legislação não permite.
—Tem estados com 80% de temporários na educação. É normal ter esse vínculo para substituir os que não estão em sala de aula, em licença médica, a escola não pode parar. Mas não pode chegar à metade da rede — diz Cibele.
Renata Vilhena, presidente do Conselho do República.org, lembra que a situação toma contornos curiosos. Em Minas Gerais teve servidor temporário que requereu aposentadoria na Justiça após décadas vinculado ao estado.
— Há muita insegurança jurídica, não ficam claros os direitos desses trabalhadores. Eles ficam às vezes por décadas — diz Renata.
Uma série de entidades voltadas para melhoria da gestão pública prepara proposta de regulamentação dessa categoria de profissionais no funcionalismo. A lei federal que permite esse tipo de contratação trata apenas das circunstâncias nas quais os governos podem admitir nesse tipo de vínculo, mas não contempla direitos. Sem isso definido, a Justiça vem recebendo mais ações com pedidos de pagamento de décimo terceiro salário, licença maternidade e férias remuneradas.
Há um grupo que une Republica.org, Movimento Pessoas à Frente, Conselho Nacional de Secretários de Administração (Consad) e outras entidades fazendo um levantamento das condições dos trabalhadores para fazer uma proposta.
— O Brasil precisa de lei que tenha abrangência nacional diante do aumento significativo na contratação de temporários — diz Vera, da FGV.
Além de direitos como férias e adicional, décimo terceiro salário, licença-maternidade, aviso prévio e que a remuneração não seja inferior a um salário mínimo, a proposta vai fixar limites para o uso do expediente no serviço público.
— Tem que impedir o nepotismo, a contratação do amigo do prefeito, do primo do prefeito — diz Vera.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, atribui o aumento às demandas impostas pela União:
— Há décadas a conduta de parte do Congresso, Executivo e Judiciário está fazendo quase um caos nas prefeituras do Brasil, principalmente na área social.
Ziulkoski reclama que foram criados mais de cem programas, por decreto ou portaria, sem se respeitar o limite de 60% da receita corrente líquida para gasto com pessoal determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF):
—Em 2022, temos 7,6 milhões de funcionários públicos (federal, estadual e municipal). Em 2010, eram 5,8 milhões. É tudo na área social. De cada dez servidores, seis estão nos municípios. E a União e os estados, não fazem nada?
Ele cita o piso do magistério e a adoção do turno integral como novas responsabilidades dos municípios:
— Parece que estamos inchando o quadro, mas tudo (serviços) passou para a ponta, para o município.
Ele minimiza o efeito da alta do número de municípios no crescimento do pessoal:
— São cargos políticos, as pessoas confundem. E se for observar, os indicadores sociais são melhores nas cidades menores.
Atualmente, o Brasil tem mais de cem cidades com até dois mil habitantes.
Jessika Moreira, diretora -executiva do Movimento Pessoas à Frente, diz que a tendência é aumentar o uso de temporários no serviço público. Ela cita pesquisa preliminar feita em Pernambuco que mostra que um servidor estatutário ganha 140% a mais que um temporário:
— A tendência é crescer.
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