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Ex-kid preto diz que Cid via em general investigado ‘alguém que pudesse cumprir uma ordem’

15 de março, 2024 / Por: Agência O Globo

Coronel Bernardo Romão Corrêa Netto é apontado pela PF como homem de confiança de Mauro Cid; em depoimento, ele comentou relação do tenente-coronel com o general Estevam Theophilo

Ex-kid preto diz que Cid via em general investigado ‘alguém que pudesse cumprir uma ordem’
O coronel do Exército Bernardo Romão Correa Netto — Foto: Reprodução

Coronel do Exército preso por suspeita de ter integrado uma organização criminosa que planejou uma tentativa de golpe de Estado no país, Bernardo Romão Corrêa Netto afirmou em depoimento à Polícia Federal que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, via no general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira “alguém que pudesse cumprir uma ordem”.

Até o momento, segundo depoimentos obtidos pela PF, o comandante do Exército, general Freire Gomes, se negou a participar de uma ação golpista junto com Bolsonaro que visava mantê-lo no poder e impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Conforme o ex-comandante da Aeronáutica, tenente brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, Gomes chegou a ameaçar prender Bolsonaro caso ele tentasse colocar em prática um golpe de Estado.

Corrêa Netto é coronel da cavalaria do Exército e já fez o curso de Forças Especiais, cujos militares são apelidados de “kids pretos”, entre 2000 e 2009. O militar estava fazendo um curso nos Estados Unidos quando a PF deflagrou a operação Tempus Veritatis, e retornou ao país para que fosse cumprido o mandado de prisão.

A investigação da PF aponta que havia uma pressão por parte de militares e do próprio ex-presidente para que Freire Gomes embarcasse na aventura golpista e colocasse as tropas do Exército à disposição. Em uma das mensagens obtidas pela polícia e que constam no inquérito, o general Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na chapa de 2022, se refere a Gomes como “cagão” e pede para que a cabeça dele seja oferecida.

Diante da falta de sinal verde de Freire Gomes, Cid buscou contato com o general Theophilo, que era comandante de Operações Terrestres (Coter). Os militares das Forças Especiais são subordinados ao Comando Militar do Planalto, mas são vinculados ao Coter. Segundo a PF, o general integrava o núcleo de “oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos”, junto com os generais Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira.

As investigações apontam que Theophilo se encontrou com Bolsonaro em dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e “teria consentido com a adesão ao golpe de Estado”.

Homem de confiança

Na época em que um golpe era discutido pelo grupo, Corrêa Netto era assistente do Comando Militar do Sul. Ele é apontado como homem de confiança de Cid, responsável, segundo a PF, por executar tarefas fora do Palácio do Planalto que o então ajudante de ordens não conseguiria desempenhar “por razão do seu ofício”.

Dentre os diálogos obtidos pela PF entre Corrêa Netto e Cid, existe um no qual o coronel pergunta ao então auxiliar de Bolsonaro se havia alguma evolução que o deixasse “otimista”, referindo-se a informações sobre suposta fraude eleitoral, que era buscada pelo grupo, sem sucesso, segundo a investigação da PF. “Até agora… nada. Nenhuma bala de prata… Por mais que tudo pareça”, responde Cid. Perguntado sobre isso, Corrêa Netto disse que não sabe o que o tenente-coronel quis dizer ao falar em “bala de prata”.

O militar foi, ainda, questionado pela PF se entendia que havia sido manipulado por Cid, ao que respondeu ter dúvidas.


BS20240315190435.1
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