ECONOMIA
Golpe do consignado: aposentada perde R$ 9.595 em empréstimos feitos em seu nome com o uso de documentação falsa
11 de novembro, 2024 / Por: Agência O GloboBandidos conseguiram crédito de quase R$ 130 mil de forma fraudulenta
A aposentada Georgia Infante, de 61 anos, foi surpreendida por uma série de golpes financeiros. Entre agosto de 2023 e setembro deste ano, documentos falsos utilizando os dados da vítima foram usados para a aprovação de empréstimos consignados no Banco Santander e na Facta Financeira, que resultaram num desconto total de R$ 9.595,62 em seu benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), até que ela conseguisse suspendê-los.
Mesmo com uma ordem judicial para sustar as transações, os valores já descontados ainda não foram devolvidos, deixando Georgia numa batalha frustrante para reaver o que é seu por direito.
— Entrei com cinco ações na Justiça, mas não devolveram o meu dinheiro. Até contas bancárias foram abertas em meu nome — lamenta a aposentada.
Ao todo, foram realizadas 12 tentativas de golpe, sendo que cinco desses pedidos de empréstimos, que juntos chegam a R$ 129.788,46, foram liberados pelas instituições financeiras e pelo INSS.
A primeira fraude ocorreu em agosto de 2023, com um empréstimo de R$ 16.999,95, feito na Facta Financeira sem a autorização de Georgia, que antes havia bloqueado seu benefício para operações de crédito consignado por meio da plataforma Meu INSS.
Ao recorrer a uma agência do INSS para resolver o problema, a aposentada foi instruída a contatar a Facta Financeira. Mas, durante a ligação, ela foi informada de que o atendimento seria interrompido por motivo de segurança, já que outro telefone constava do cadastro feito em seu nome.
Três meses após a primeira fraude, mais uma dívida foi feita no benefício de Georgia, no valor de R$ 20.791,66. A dor de cabeça se intensificou neste ano, com três novos empréstimos realizados: em fevereiro, de R$ 30.340,41; em abril, de R$ 30.445,54 (cancelado antes dos descontos); e em setembro, de R$ 31.210,90.
— Eu tenho mais de R$ 9 mil de descontos. O valor faz a diferença na hora de fechar as contas, porque tenho que arcar sozinha com as despesas de alimentação, condomínio, luz e gás. E o pior é que fico com medo de novos empréstimos serem realizados nos próximos meses — lamenta.
Em nota, o INSS informou que a devolução de valores descontados é de responsabilidade das instituições financeiras.
Questionada sobre a devolução dos valores descontados da aposentadoria de Georgia, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) respondeu que “cada instituição financeira tem sua própria política de análise e devolução”.
Já o Santander e a Facta Financeira informaram apenas que vão prestar informações aos órgãos judiciais.
Criminoso se passa pela vítima no INSS
No mês passado, Georgia teve um novo susto: recebeu dois e-mails do INSS afirmando que ela teria comparecido a uma agência do órgão nos dias 15, às 7h49, e 18, às 8h19 em busca de atendimento. A aposentada, porém, diz que estava dormindo nos horários informados:
— Recebi e-mails afirmando que eu tinha comparecido a uma agência do INSS. Como pode, se eu estava dormindo no horário? Alguém foi no meu lugar. Será que o funcionário não confere o documento?
De acordo com a vítima, sua senha de acesso ao sistema Meu INSS foi trocada, o que possibilitou a liberação dos empréstimos consignados. O e-mail de login também foi alterado diversas vezes, segundo ela.
O advogado da aposentada, Aloysio Silva, protocolou uma notícia-crime no Ministério Público Federal (MPF), em 24 de outubro, solicitando as imagens da agência previdenciária.
O Extra teve acesso a uma identidade falsa com uma foto que não é de Georgia. O documento foi utilizado nos pedidos de empréstimos.
— O documento é prova material anexada aos autos pelo Santander. Há contratos com endereço, telefone, selfie e identidade que não são de Georgia — explica o advogado.
O INSS, por sua vez, informou ao Extra que enviará as filmagens de sua agência — referentes às visitas dos criminosos — para a Polícia Federal (PF). O órgão também declarou que implementou a exigência de biometria para a contratação de empréstimos consignados no benefício da segurada. “Essa medida impede a realização de operações sem a autorização da titular”, justificou. A aposentada, porém, diz que não foi informada sobre a atualização de seu acesso.
O instituto afirmou ainda que a Secretaria de Governo Digital, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), é a responsável pela senha do Gov.br — que dá acesso ao Meu INSS. Questionada, a pasta respondeu que todos os acessos à plataforma são registrados, mas não explicou o que fez para impedir entradas indevidas na conta de Georgia.
O que fazer para não cair no golpe do consignado?
Caso discorde de operações de crédito consignado feitas em seu nome, o INSS orienta que o beneficiário procure, de forma imediata, a instituição em que a operação financeira foi realizada, além de fazer um boletim de ocorrência na polícia e de registrar a denúncia na ouvidoria do órgão e no Portal do Consumidor, no site.
Além disso, para evitar que o benefício seja alvo de empréstimos consignados fraudulentos, aposentados e pensionistas podem bloquear a solicitação de novas operações por meio do aplicativo ou do site Meu INSS, com login via conta Gov.br, feito por meio de CPF e senha.