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Gourmet Brasília

17 de janeiro, 2025 | Por: Redação

Por que comemos peru no Natal?

Muita gente imagina que o alimento natalino adveio com o cristianismo.

Mas na gastronomia as coisas não funcionam bem assim. Há um cruzamento de informações, de culturas e de hábitos que, por muitas vezes, também são modificados por questões econômicas.

Com o principal prato da nossa ceia de Natal não é diferente. O peru é uma ave norte-americana, originária dos Estados Unidos e do México e só passou a integrar o jantar de aniversário do Cristo no século 17. Foram os espanhóis que levaram o peru para a Europa, no final do século 15. A ave era usada pelo povo Azteca para realizar sacrifícios aos desuses. Mas já era domesticada muito antes desse período.

O peru é uma ave norte-americana e começou a ser a estrela do Natal e de Ação de Graças nos Estados Unidos, em 1621 – Fotos: divulgação

Existem registros de criação de perus na península de Yucatan, no México, há mais de mil anos. Porém, essa ave só desembarcou na Europa em 1511, levada por Francisco Pizzaro. E só passou a integrar os cardápios caseiros e de mosteiros no final do século 17.

Antes de ser saboreada pela realeza europeia, contudo, o peru foi apreciado em uma ceia de Ação de Graças na cidade de Plymouth, Massachusetts, nos EUA, em novembro de 1621. Naquela ocasião, foram os índios mexicanos capturados por espanhóis que preparam o assado como prato principal.

Enquanto isso, na Europa, a carne principal das grandes ceias era de gansos, cisnes e pavões, as aves nobres. Com a dificuldade econômica dos europeus, por causa dos gastos com os grandes descobrimentos, o peru passou a substituir as aves nobres nos banquetes dos palácios reais.

Por ser mais barato, ganhar peso facilmente e alimentar muitas pessoas, o peru passou a ser servido aos monges, padres e bispos que viram naquela ave uma alternativa de matar a fome da população em datas festivas, com baixo orçamento, e, ao mesmo tempo ditar uma certa regra de unificação da Ceia de Natal. A fama do peru de Natal alcançou tamanha proporção que em Portugal, no século 18, passou-se a chamar de Peru toda a região latina da América do Sul colonizada pelos espanhóis.

A importância nutritiva da carne de peru, para os Estados Unidos, ainda no período de colônia inglesa, foi vital. Com a expansão da criação desta ave, conseguiu-se aplacar a fome dos colonos ingleses que lá chegavam para ocupar o interior do continente. E até hoje o peru é prato obrigatório na Festa de Ação de Graças!

Foi Cristóvão Colombo quem primeiro conheceu e experimentou a carne de peru quando chegou à América. Ele pensava que estava desembarcando nas Índias, por um novo caminho, e por essa razão, quando a ave chegou à Itália foi chamada de gallo d’Índia ou dindio/dindo. Na França era dinde ou coq d’Índe. E numa referência a Calcutá, os alemães a chamavam de calecutischerhahn.

O peru pegou os europeus pelo estômago, literalmente. O excelente sabor de sua carne foi aceito nas principais mesas. Devido ao sucesso, o peru foi oferecido à rainha Catarina de Médicis, em Paris, em 1549. No banquete foram servidas cem aves: 70 “galinhas da Índia” e 30 “galos da Índia”. Depois dessa “solenidade” de introdução à nobreza, o peru foi guindado ao posto de principal prato das grandes ocasiões, substituindo as aves nobres de até então e reduzindo o custo dos banquetes. No Brasil, trazido pelos portugueses, o peru é apreciado desde o período colonial.

Harmonize vinho branco com a parte mais seca, como o peito. Mas se preferir vinho tinto, opte pela coxa e sobrecoxa, que são mais gordurosas

Chardonnay ou tinto leve na harmonização

Se o peru for cozido tem de ser vinho branco. O melhor é Chardonnay. Mas se o peru for assado, também pode ir no vinho branco, desde que seja encorpado, com mais madeira. Mas se você preferir vinho tinto para acompanhar o peru assado, pode acompanhar com um tinto mais leve, com toques adocicados e frutados. O Pinot Noir norte-americano é uma boa pedida, especialmente os do Oregon. São vinhos leves, equilibrados e não vão brigar com a textura da carne do peru. Outros vinhos que se forem jovens e frutados vão combinar com o peru assado no Natal são os de uva Cabernet Sauvignon. Essa uva combina principalmente com a carne escura da coxa. Outra ótima opção é o Merlot, mais frutado. Nesse caso, os rosés das mesmas uvas são uma ótima harmonização. Mas, para esse prato, fuja dos vinhos chilenos.


@rodrigofreitasleitao
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