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‘Grande ponto de inflexão’: CEO de agência oficial da NFL no Brasil revela surpresa da liga antes de primeiro jogo no país

4 de setembro, 2024 | Por: Agência O Globo

Pedro Rego Monteiro relembra ao GLOBO o caminho percorrido para popularizar o futebol americano em terras verdes e amarelas, e as estratégias adotadas pela Effect Sport

Primeiro jogo da NFL na América do Sul, cerca de 42 mil ingressos esgotados em duas horas, e uma entrada cada vez maior do futebol americano no Brasil. O encontro entre Philadelphia Eagles e Green Bay Packers, às 21h15 desta sexta-feira, na Neo Química Arena, em São Paulo, reúne muitos elementos que já apontam para o sucesso. Principalmente, para quem ajudou o esporte a se consolidar ao longo da última década e tornar um fenômeno no mundo real e digital. Desde 2015, a Effect Sport, agência que é a representante oficial da liga no país, trabalha nesse sentido, liderada por Pedro Rego Monteiro, que aponta o evento desta semana como o ponto alto do processo até agora.

Em conversa exclusiva com o GLOBO, o CEO da empresa relembra o caminho percorrido para tornar a NFL popular em terras verdes e amarelas, as estratégias adotadas junto à organização em todos estes anos, e a surpresa causada por tamanho interesse que os brasileiros vêm demonstrando.

Como avaliaram a rapidez da venda de ingressos?

Eu acreditava que seria em muito pouco tempo, poucas horas. O pessoal falava: “Ah, vai demorar alguns dias”. E eu falei: “Não tem chance”. Pelo que a gente tem de dados, de pessoas interessadas em NFL no Brasil, chegando a quase 40 milhões, com oito milhões de fãs ávidos, com toda a repercussão e demanda que o jogo tinha… Desde que começamos a postar coisas nas redes sociais, no dia 1, em 2015, já tinha comentários da galera pedindo o jogo. Isso só foi crescendo.

Com o evento que a gente faz no Super Bowl, o NFL In Brasa. Esse ano, no meio do Carnaval, foram 10 mil pessoas. Qualquer coisa que a gente faz, vendas… enfim, muitos dados e sinais fortes que não eram só um número de pesquisa de IBOPE. Claro que isso é super relevante, mas tinha várias outras evidências de que a demanda realmente é enorme.

Qual foi o retorno da NFL?

Estão super animados. Surpreendeu a liga. Eu não me surpreendi, mas a liga se surpreendeu. Não só a velocidade de vendas de ingressos, mas quantas pessoas quiseram e acabaram, infelizmente, não tendo ingresso para comprar. Vem sendo um sucesso comercial bacana também, marcas fortes entrando. Acho que a liga não poderia estar mais satisfeita. É difícil que algo diferente do que está acontecendo pudesse acontecer, para ser maior do que já está sendo. A liderança da NFL está diretamente envolvida no jogo, interessada, querendo saber, participando de decisões. O jogo no Brasil não é mais só um jogo.

O jogo entre duas equipes que disputaram os últimos playoffs ajudou?

Calhou de ser um jogo muito bom. Todos são muito bons, mas tem jogos que são especiais. Esse envolve dois times que tem uma fanbase enorme no Brasil. Dependendo de como você mede, o Packers é o time mais popular no país, também pelas pesquisas globais da NFL. Várias métricas e jeitos de medir que mostram o Packers na frente, junto com os (New England) Patriots…

A NFL é muito bem distribuída no Brasil todo, tem um alcance forte, mas São Paulo, claro, como algumas outras coisas, é o epicentro de energia de futebol americano. Um jogo em São Paulo, local de fácil acesso, de malha viária, rodoviária. O primeiro jogo não só no Brasil, mas na América do Sul. Também muita gente vindo de fora do Brasil, muitos americanos vindo. São times que têm fãs que viajam. O histórico de jogos internacionais não é tão grande, mas são fãs que acompanham o time, super ávidos. Tudo confluiu para esse cenário.

E se o jogo fosse em um local maior?

Eu acho que, se a gente tivesse um estádio para um milhão de pessoas, teria vendido tudo. Não ia vender em poucas horas, mas ia vender em poucos dias. Em algum momento, a gente teve quase 500 mil pessoas na fila de espera. Em cima desses números, de quantas pessoas tiveram interesse de comprar, e considerando que cada pessoa compra, pelo menos, para mais uma, eu acho que, de verdade, a gente teria lotado 20 “Neo Químicas”, ou um estádio inexistente de um milhão de pessoas.

Sucesso de vendas projeta mais jogos no Brasil?

É um fator importantíssimo nessa decisão da NFL de seguir no Brasil, ou não. Claro que tem outros fatores. Mas pessoas que falam pela liga já disseram que, se o jogo for um sucesso… e o sucesso passa também muito por venda de ingressos e por essa demanda… a chance do Brasil receber um jogo por ano aumenta muito. A experiência do jogo também, dada a empolgação. Quem estará no estádio é quem realmente conhece, se informou, ficou de manhã no site, e vai chegar com uma empolgação e uma expectativa enorme. São “fãs muito fãs”.

A probabilidade é grande de que a energia do jogo, a vibração, a atmosfera, formem um clima que vai fazer a NFL perceber mais um sinal de sucesso. O estádio é muito bacana. Sem dúvida alguma, os dados de 38 milhões de pessoas interessadas, de oito milhões de fãs ávidos, audiência bacana, patrocinadores entrando super empolgados com a liga… são todos “checks” que eles dão e vão somando pontos.

Trabalham desde 2015 com a NFL. Como avalia todo o caminho de consolidação?

A gente se conectou em 2015, começando a criar conteúdo para a liga. Depois, ganhamos uma concorrência para para montar as redes sociais. Até então, só tinha conteúdo geolocalizado no Facebook no Brasil, mas a gente criou Instagram, TikTok, Twitter, YouTube. O foco durante muitos anos foi nesse aumento da base de fãs através do digital. Os números começaram a aparecer, engajamento super bacana.

Hoje, a gente é a agência de digital, de direito, de patrocínio e de eventos da NFL. Começamos a fazer alguns eventos, menores, com influenciadores e imprensa. Aí os (Miami) Dolphins ganharam o direito de fazer coisas aqui. A gente também toca as redes sociais dos Dolphins e dos Patriots.

Em 2022, vimos que tinha força para começar a abordar canais para botar a NFL de novo na TV aberta. Então, conseguimos assinar com a RedeTV. Ano passado, estava na hora de fazer um evento legal de Super Bowl, e a gente lançou o NFL In Brasa, o primeiro evento de verdade aberto ao público no Brasil. Muita coisa para contar.

Os objetivos da NFL vem sendo alcançados também?

Era uma estratégia da liga aumentar a base até chegar a um ponto de relevância, para podermos pleitear ter um canal de TV aberta, um evento como o NFL In Brasa, para times da liga começarem a se interessar mais e quererem investir por conta própria aqui. E claro, tudo isso culminando nesse momento de trazer o jogo. Um jogo que se tornou disponível porque seria no estádio Azteca, mas ele está sendo reformado para a Copa do Mundo (de 2026). A ideia era trazer para o Brasil ou para a Espanha: Rio de Janeiro, São Paulo, Barcelona ou Madri. A gente participou tanto da candidatura do Rio quanto de São Paulo. Fomos o braço local que estava ajudando as duas cidades.

Por que a escolha por São Paulo?

O pacote de São Paulo foi mais completo, o estádio do Corinthians foi muito bem avaliado. E, sem dúvida, embora a gente tenha tido marcos importantes, o jogo é o grande ponto de inflexão. O crescimento é bem forte, mas a gente imagina que o ângulo vai se acentuar ainda mais. A gente já está vendo, muita gente que é fã, e muita gente que só ouvia falar, mas tinha muito interesse, querendo muito ir ao jogo. Virou objeto de desejo forte.

As marcas começam a entrar e ativar, há mais espaço para estarmos falando sobre NFL aqui. A coisa toma outra proporção. Todo dia, a gente recebe cinco pedidos, pelo menos, de camarote, ingresso para arquibancada, enfim. São alguns fãs e outros que realmente querem estar no evento, que está virando o evento mais cobiçado do ano esportivo no Brasil.

Qual foi a importância do NFL In Brasa?

A gente ouviu da Prefeitura de São Paulo, que está sendo fundamental para o jogo vir, que quando o prefeito (Ricardo Nunes) viu o sucesso do In Brasa, deu um estalo. Falou: “Isso, realmente, não é só número, uma coisa nichada, realmente existe muita empolgação”. No ano passado, que foi a primeira edição e bem menor, para apenas 5 mil pessoas. Também uma das razões que a NFL contou para a gente que acreditava muito no Brasil.

É um feedback que a gente tem da equipe de comunicação e marketing da NFL, um espanto positivo com a repercussão de cada movimento que a gente faz aqui no Brasil. Na coletiva de anúncio do Green Bay Packers como o segundo time para participar do jogo, o pessoal executivo da NFL falou que nunca viram isso em nenhum anúncio de NFL pelo mundo inteiro. As pessoas comemorando, tinha gente no auditório chorando por podder ver o Green Bay.

O que eles viram ali sobre o modo que o brasileiro torce, em um jogo de futebol americano, foi algo que despertou um interesse, e fez a NFL perceber que tinha algo diferente aqui. Nesse modo como a gente é empolgado, nossa vibração, que é uma paixão que eu acho que eles querem também, e acreditam ser importante para a liga, trazer outro sabor.


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