O impasse entre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a ex-senadora Heloísa Helena, principais expoentes da Rede Sustentabilidade, ganhou um novo capítulo neste final de semana. Após terem perdido os comandos da legenda há dois anos, aliados de Marina foram eleitos para presidir diretórios estratégicos — São Paulo e Pernambuco.

O resultado obtido no último sábado animou o entorno da ministra. Em Pernambuco, o único deputado federal da legenda e aliado de Marina, Túlio Gadêlha, não conseguiu concorrer à prefeitura de Recife no ano passado. A expectativa de agora é que, com mais força nas decisões, situações como essa possam ser evitadas. Quem representou a federação Rede-PSOL foi a deputada estadual Dani Portela (PSOL), que obteve o apoio explícito de Heloísa Helena.

“Só gratidão! Em pleno carnaval seguimos construindo e fortalecendo nossa democracia de forma cada vez mais participativa”, escreveu Túlio em suas redes sociais.

As alas de Marina e Heloísa Helena terão seu principal confronto durante o próximo congresso nacional, entre 11 e 13 de abril, quando a direção nacional será escolhida.

Rivais, Marina e Heloísa polarizam o partido. A ala ligada à ministra tem 47% dos integrantes, enquanto os aliados da senadora representam 53%. Esta pequena vantagem garantiu que Heloísa Helena conseguisse ganhar as últimas eleições, ao lado de Wesley Diógenes.

Passados dois anos, os aliados da ex-parlamentar agora nutrem o desejo de que o atual secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac, seja o próximo porta-voz. Heloísa Helena o anunciou durante encontro estadual em Minas Gerais, no último sábado (15).

Já Marina Silva vai lançar o nome do atual coordenador nacional de organização da Rede, Giovanni Mockus, seu aliado de longa data.

Nos bastidores, articuladores da ministra garantem que este confronto será mais acirrado que o de 2023, quando o grupo de Marina terminou derrotado. Há uma insatisfação generalizada com supostos abusos de autoridade cometidos pela ala rival, o que originou, inclusive, uma representação disciplinar. Há uma certa expectativa de que antigos votantes de Heloísa mudem de lado neste pleito.

Além de críticas ao comando atual, artilharias contra Lamac serão exploradas. “Há processos contra ele por improbidade administrativa”, disse uma fonte ao Globo.

Do outro lado, filiados ligados à ex-senadora não avaliam que há clima para uma vitória da ministra, que estaria fragilizada no governo federal. A condução do Ministério do Meio Ambiente vem sendo questionada por deputados e senadores.

Confronto antigo

O embate entre Marina Silva e Heloísa Helena simboliza a divisão no diretório nacional da Rede. As divergências entre as duas lideranças remontam a 2022 e estão relacionadas a visões distintas sobre a base teórica do partido. Enquanto Marina se declara “sustentabilista”, Heloísa defende o “ecossocialismo”, que associa a preservação ambiental à mudança do sistema econômico.

Outro ponto de conflito é a relação com o governo federal. Marina optou por integrar a gestão Lula como ministra do Meio Ambiente, enquanto Heloísa mantém uma postura crítica ao PT desde que foi expulsa da legenda, em 2003, após se posicionar contra a reforma da Previdência proposta no primeiro mandato de Lula.

A crise dentro da Rede se intensificou após a eleição de 2023, quando Juliana Sá foi afastada da tesouraria nacional. Na ocasião, a acusação resultou em uma ação judicial, e a militante retornou ao cargo mediante decisão liminar. O grupo ligado a Marina Silva alegou ter sido excluído de reuniões internas e alvo de uma manobra para perder o controle de funções estratégicas no partido.

BS20250224140059.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/02/24/grupo-de-marina-silva-derrota-aliados-de-heloisa-helena-em-diretorios-estrategicos-da-rede.ghtml