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Janela bilionária reflete competitividade financeira e busca por ‘nomes prontos’ no futebol brasileiro

3 de setembro, 2024 / Por: Agência O Globo

Entrada de SAFs muda panorama econômico e faz com que detalhes sejam cada vez importantes — e caros — na definição de títulos e quedas

Janela bilionária reflete competitividade financeira e busca por ‘nomes prontos’ no futebol brasileiro
Almada, Alcaraz e Luciano Rodríguez: os mais caros da segunda janela — Foto: Guito Moreto; Gilvan de Souza/Flamengo; Celo Gil/Bahia

Em um campeonato com 25 rodadas já disputadas, quatro clubes como postulantes ao título e três campeões brasileiros na briga contra o rebaixamento, cada passe certo, finalização ou desarme faz a diferença. Ontem, o futebol brasileiro fechou sua segunda janela de transferências em 2024 com fartas mostras de que está disposto a alcançar essa qualidade, mesmo que tenha que desembolsar muito: os 20 clubes da Série A somaram mais de R$ 1 bilhão em gastos, repetindo um feito da primeira janela do ano e deixando para trás o comparativo com 2023.

No dia final para adquirir jogadores sob contrato, os clubes correram para fechar seus negócios de última hora. Botafogo, Fluminense e Vasco, por exemplo, anunciaram a volta do zagueiro Adryelson e as chegadas do lateral-esquerdo Gabriel Fuentes e do meia Maxime Dominguez, respectivamente. Mas as contratações que movimentaram grandes quantias ficaram para o início ou para a última semana de janela. Caso do meia Thiago Almada, que além de transferência mais cara desta janela, se tornou a maior do futebol brasileiro: 25 milhões de dólares (R$ 137 milhões na cotação do dia do negócio).

A segunda maior foi a do também meia Alcaraz, que custou R$ 110 milhões ao Flamengo, com Luciano Rodríguez, do Bahia, fechando o top 3, por R$ 65 milhões. A lista tem dois argentinos e um uruguaio, bem como duas SAFs e um clube com forte poderio financeiro. Sinais que apontam para dois lados: o poder de atração (principalmente econômico) do campeonato e o impacto dos investimentos nos clubes do país.

Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, agência que cuida de centenas de carreiras, diz que vivemos uma fase inédita de desejo de ida ao futebol brasileiro por parte dos atletas. Isso se dá principalmente entre aqueles que não se estabelecem nas grandes ligas e veem a chance de viver o protagonismo bem remunerado no futebol do país.

— Hoje, excluindo a Inglaterra, nenhuma liga europeia tem mais do que quatro clubes capazes de pagar aos brasileiros o que os seis ou sete principais clubes daqui pagam para seus destaques. Se o atleta não é visto ou não se vê como um jogador que pode ascender na Europa e chegar ao topo da pirâmide, a chance de que consiga um salário maior no Brasil, se não é tão grande, é ao menos mais que considerável.

Jogadores prontos

Essa busca pelo futebol brasileiro vai ao encontro das necessidades fruto da alta competitividade do Brasileirão. No primeiro semestre, os técnicos Tite e Abel Ferreira, de Flamengo e Palmeiras, abordaram o assunto algumas vezes e deram mostras de que hoje, os clubes que “competem” querem jogadores “prontos”, ou seja, mais experientes e provados em alto nível.

— Contratem bons, muito bons jogadores. Se é para contratar um jogador que está em um processo de evolução, dê oportunidade à base — disse Tite em janeiro.

Três meses depois, quando seu Palmeiras enfrentaria o rubro-negro, Abel foi direto ao responder sobre a diferença entre os trabalhos dos dois clubes:

— Eles têm mais dinheiro que o Palmeiras para comprar jogadores feitos.

Essa busca parte também de uma margem de erro que ficou menor. Na edição passada da Série A, a diferença entre o campeão Palmeiras e o vice Grêmio foi de dois pontos. Do primeiro rebaixado, o Santos, ao primeiro fora do Z4, o Bahia, foi de apenas um. Margens curtas que não aconteciam desde 2020, quando o Flamengo conquistou o Brasileirão um ponto à frente do Internacional e o Fortaleza se salvou com o mesmo número de pontos do Vasco — rebaixado pelo saldo de gols. Cada detalhe importa mesmo.

E esses detalhes estão cada vez mais disputados com a entrada no mercado de players abastados financeiramente. Se antes o rubro-negro e o alviverde corriam bem à frente em termos financeiros, as SAFs nivelaram o jogo. Nesta segunda janela, por exemplo, Cruzeiro e Botafogo, dois clubes comandados por investidores, gastaram mais. E já veem retorno em campo: o alvinegro lidera o Brasileiro e está nas quartas da Libertadores, enquanto a Raposa faz sólida campanha de G6.

Mesmos as SAFs com realidades financeiras menos vultuosas sabem que é preciso manter os erros em todas as frentes no mínimo para seguir competitivo no Brasil.

— Procuramos investir no elenco de forma estratégica. O plantel atual é resultado de várias janelas. Contamos com profissionais capacitados para identificar oportunidades de mercado que possam fortalecer a equipe sem prejudicar as contas — explica Marcelo Paz, CEO do vice-líder Fortaleza. — Queremos continuar conquistando bons resultados e crescendo dentro de campo de forma saudável.


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