VARIEDADES

João Vicente de Castro, de ‘Vale tudo’, abre a casa e o coração: ‘Meu maior fetiche é ter uma família’

22 de setembro, 2025 | Por: Agência O Globo

Ator de 42 anos vibra com sucesso da novela das nove, em que interpreta Renato Filipelli. Personagem coleciona romances. Fora da ficção, o “pai” do cachorro Luiz conta quando chorou pela última vez, elenca melhores amigos e não cogita relacionamento aberto quando encontrar um grande amor

Foto colorida do ator João Vicente
João Vicente de Castro e o seu cão, Luiz, na casa do ator no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio — Foto: Reprodução

João Vicente de Castro não nos recebe pela porta dos fundos. Numa quarta-feira de inverno, a reportagem chega ao casarão de 500m² no Jardim Botânico 15 minutos antes do combinado pela imponente entrada de madeira, após o portão principal. Pelo WhatsApp, ele avisa que chega logo. Não mente. Enquanto isso, repórter, fotógrafo, maquiadora, estilista e camareira ocupam parte da sala. No cômodo com dezenas de obras de arte, objetos de família, presentes de seu meio milhão de amigos, um tamborim e referências sutis a Ogum, já é possível intuir que o intérprete do Renato de “Vale tudo” não é um espelho do personagem.

Na equipe, não há profissional algum que ele tenha escolhido a dedo, prática hoje comum em ensaios de revista e que dificilmente Renato Filipelli dispensaria. Para quebrar o gelo com cinco desconhecidos dentro de seu lar, o filho da estilista Gilda Midani e do jornalista Tarso de Castro, educado também pelo padrinho, Caetano Veloso, e Paula Lavigne — o casal o acolheu aos 8 anos — puxa assunto sobre o clima:

— Tá um solzinho frio e chato, né? — diz, com seu café na mão, enquanto o verdadeiro dono da mansão, o longilíneo cão Luiz, um leão-da-rodésia, passeia calmamente pelos aposentos.

“Vale tudo”, sua terceira novela, a primeira das nove, é um dos assuntos principais da entrevista.

— Quando Manuela (Dias, autora) chamou para fazer, eu fiquei chocado. Um transe — exagera.

Na varanda da casa, o papo com a reportagem trata de família, arte, amizade, amor e sonhos. Na novela, o publicitário acaba de iniciar um romance com Heleninha (Paolla Oliveira), mais uma de sua fila de affairs. João, autorrotulado “primeiro moreno misterioso” do Rio — por ter sido assim chamado pela imprensa na época de seu romance com Daniella Cicarelli —, hoje, quando tem namoricos ou relacionamento sério, pode optar pela discrição.

— Aprendi a esconder mais. Antes, eu rodava muito. Mas minha última namorada me escondeu: ela tinha pânico de aparecer comigo — admite o ex-marido de Cleo Pires, que também já se relacionou com Sabrina Sato, a chef Renata Vanzetto (“Chef de alto nível”) e a ex-BBB Rafa Kalimann, entre outras famosas e anônimas.

De enfileirar romances a se dedicar intensamente ao trabalho, algumas semelhanças entre ator e personagem levam telespectadores a fazerem comentários nas redes sociais. Meses atrás, até o fato de o publicitário da ficção morar com o primo Marco Aurélio (Alexandre Nero) devido a uma obra interminável em casa suscitou brincadeiras na internet. João Vicente, de 1,90m de altura, gargalha alto ao lembrar as comparações.

— Renato é diferente de mim. E esse é o elogio que mais me pega, principalmente de gente que me conhece. Ele tem uma doçura, a roupa não tem a ver com a que uso… — diz o artista de 42 anos.

As características do intérprete comuns a Renato, segundo o ator, têm mais a ver com trabalho:

— Perco um pouco a mão. Outro dia, baixei no hospital. Tive uma estafa, coração acelerado… Acordei estranho, com medo de ter algo parecido com burnout, fiz exames. As taxas que indicam estresse estavam altas… Existe uma vaidade em trabalhar muito. É um perigo. “Ai, não posso me cuidar porque trabalho muito…” — afirma.

Gravar a novela de segunda a sábado, liderar as reuniões do Porta dos Fundos, criar roteiros, apresentar o programa “Papo de segunda” (GNT) e o videocast “Não importa”, fazer fotos e vídeos para campanhas publicitárias e cumprir compromissos relacionados a negócios, como sua loja de objetos de design, Estúdio Orth, lotam a agenda do polivalente carioca.

— Outro dia, saí do “Papo de segunda” 1h30 da manhã. Até dormir, eram 2h30. No dia seguinte, acordei às 8h e pensei: vou adiar (o compromisso). Dormir é importante. Renato me mostrou o que poderia acontecer comigo — diz, referindo-se à internação do personagem por burnout e abuso de medicamentos: — Remédio de performance, como aqueles para concentração, não tomo. Para dormir, sim. Isso é uma merda, mas tomo.

Automedicação, ganância, crimes, machismo… A reação do público de “Vale tudo” aos temas, como era de se esperar, destoa das de quando a novela foi exibida pela primeira vez (1988). Aos dados e impressões de Brasil que vêm por essa audiência da TV aberta, somam-se outros. João Vicente tem a noção de como pensam outros milhões de consumidores do audiovisual por também criar e apresentar um programa de debates há dez anos e por abordar, há 13, temas polêmicos via esquetes de humor do Porta dos Fundos ou no recém-criado “Não importa”. A habilidade para aplicar esse conhecimento mostra por que o videocast criado para tratar de assuntos triviais com Gregorio Duvivier alcançou rapidamente o ranking dos 25 mais ouvidos do país, segundo o Podcast Charts do Spotify.

— Tanto na novela quanto no “Papo de segunda” e no Porta dos Fundos, toda vez que propomos um assunto que está no debate público, como racismo, machismo, trazemos mais pessoas para o lado bom da força do que pro ruim — acredita.

Grande parte das espectadoras — a minoria é homem — que procura o ator nas redes sociais (só no Instagram, são dois milhões de seguidores) também é atraída pelos atributos físicos. Nos bastidores desta reportagem, houve frisson de um dos integrantes da equipe, que soltou, durante os cliques:

— Você deve ser bonito até pelado, né, João?!

— Olha, se Deus quiser! (risos)

Há quem diga que a beleza não está só na casca. Minutos antes da entrevista, pelo celular, Sabrina Sato se referiu ao ex como um cara “muito amado”. Rafael Portugal, do “Domingão com Huck”, destacou sua generosidade. Dias após a entrevista, Humberto Carrão, já entre seu top dez de melhores amigos, elogiou o jeitão raro de João nutrir amizade e demonstrar carinho; Daniel Furlan, ator e humorista, vê sobressair a sensibilidade do colega de profissão; o diretor Matheus Senra, que deu um puxão de orelha no ator num dia de brincadeiras em excesso nos intervalos de “Vale tudo”, ressalta a capacidade de reconhecer erros e estabelecer confiança.

— O cenário da Tomorrow é de muitos amigos. Ficava uma galhofa. João precisava de uma atenção especial porque não tem a chave que Alice (Wegmann) e Carolina Dieckmann, que já fizeram mais de dez novelas, têm. Eu disse: “João, a gente faz piada, mas quando vem o ‘ação’, a Alice aperta um botão e faz a cena lindamente, Carolina chora em dois minutos. Toma cuidado para a brincadeira não te atrapalhar. Não quero que você só faça a cena, quero que arrase”. No dia seguinte, ele voltou de outro jeito. Agradeceu de verdade e mostrou que tinha escuta, confiança. Nosso laço estreitou ali — diz Senra, que costuma jantar com JV em casa e, por ser vizinho, volta e meia passeia com Luiz.

O cachorro parece gente. A impressão que dá é que, embora discreto e educado, Luiz é o verdadeiro dono do pedaço. João admite:

— Se um dia ele morrer… Hahaha.. Se um dia… Na verdade, ele vai morrer um dia, né? Não gosto nem de pensar. Eu vou morrer junto — diz, enquanto Luiz observa a repórter sentada em seu lugar cativo no sofá gigante do “pai”.

Por conta disso, João Vicente abre uma exceção para o pet deitar bem do seu ladinho:

— Ah, eu tenho muito medo de incomodar ele, sabia? Eu juro.

Pelo “filho”, vale tudo, inclusive rejeitar convites para festas ou encontros. Hoje, domingo, dia sem gravação, o cachorro provavelmente está do lado do tutor enquanto ele lê essa reportagem.

— Domingo, assim… Sou um pai de pet convicto. Sou louco pelo Luiz. E me sinto mal porque trabalho muito. Toda noite, durmo com ele, e saio de manhã. Então, no domingo, por mais ridículo que alguns leitores possam achar, eu o priorizo. Nesse dia, gosto de não fazer nada — admite.

Enquanto Luiz ouve relaxadamente as declarações do entrevistado, João, solteiro, conta que seu “maior fetiche”, para não dizer sonho, é construir uma família. A declaração surge minutos antes de dizer que a última namorada, da qual não revela o nome, foi uma de suas maiores paixões, “a mulher de sua vida”.

— Quero ter uma família, Natal, criança, minha mulher. Isso é um objetivo, embora eu tenha essa fama aí de solteirão. Vai vir quando vier. E seria relacionamento fechado. Eu não tenho a menor vontade de ter relacionamento aberto — frisa.

De frente para as palmeiras imperiais do Jardim Botânico, no sofá onde chorou pela última vez, o ator diz que tem momentos melancólicos:

— Não tenho problema em sofrer, boto música triste, abro um vinho, sofro mesmo. Injustiça, principalmente em relação a trabalho, me dói. Mas de derramar lágrima… a última vez foi numa reconciliação com a minha mãe. A gente estava com uma relação muito distante, ruim. Por minha causa, porque eu tava bloqueadão. Aí a chamei para passar o Dia das Mães aqui, a gente conversou e chorou pra caramba — revela ele, que continua a conversa lembrando ter sido vítima de uma traição anos atrás: — Acho muito doido trair. Quando fui traído, não terminei. Entendi o que aconteceu e segui em frente. Não perdoaria mau-caratismo. Se ficou com amigo meu, por exemplo. Dizem que combinado não sai caro, mas até com o não combinado a gente tem que lidar. E se for a mulher da sua vida, vai deixar ir embora? Por um vacilo?

Enquanto a vida de solteiro segue sem mudança de status até o fechamento desta reportagem, a profissional vai de vento em popa. Pelo Porta dos Fundos, o ator trabalha na criação de um podcast que terá três mulheres à frente, admite a entrada numa nova novela e a possibilidade de rodar um filme em Portugal.

— Fazer novela é uma delícia. É cansativo, com certeza, mas é uma faculdade. Acho cafona quem fala mal de novela — afirma.

Foram quase duas horas de conversa no térreo da mansão. Ao segundo andar, a equipe não pôde ir. Ao ouvir da repórter a pergunta sobre o motivo da proibição seguida da suposição de lá haver o “quarto do sexo”, como dizem ter existido na casa de uma artista malandra e poderosa, ele responde, brincalhão, um “talvez”. Mas é raro ouvir uma hesitação de João. Normalmente, ele é aberto e superlativo. Diz estar apaixonado e louco pelos colegas de elenco, entre eles Debora Bloch e Maeve Jinkings, e, ao falar de celebridades que internautas pensam serem suas grandes amigas, é franco:

— Neymar nunca foi meu amigo. Foi um cara genial comigo quando fui a Paris, me chamou para a casa dele, vimos o jogo, me deu camisa. Mas amigos nunca fomos. É um moleque muito educado, legal. Tem as paradas que ele faz, mas a gente tem que entender que as pessoas têm diferenças — diz o santista, ex-torcedor do América, time do pai.

Amigo ele é de Chay Suede, Alex Lerner, Rafa Sampaio, Barbara Duvivier, Gregorio Duvivier, Sebastian Orth. Com Thiaguinho, a parceria rendeu até letra de música. Mas até hoje a única canção de JV gravada foi “Ponta solta”, faixa do último álbum do duo Anavitória. Arriscar-se em terrenos desconhecidos não amedronta o artista, que encara bem as críticas:

— Aquele sujeito que escreveu que você é o melhor do mundo está errado, assim como o que escreveu que você é o pior. Você vai errar, acertar, fazer bem, fazer mal. Mas “Vale tudo” me colocou em outro lugar como ator.

Créditos: Texto: Thayná Rodrigues. Produção Executiva: Leo Ribeiro. Fotos: Leo Martins. Styling: Ale Duprat. Camareira: Maria Helena Ferreira. Maquiagem: Lais Regia.


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