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JOGO ABERTO

3 de fevereiro, 2025

Gaúcho no tom da boa música O gaúcho Jairo Blank era um peladeiro bom de bola. Mas, aos 18 anos, ele enfrentou um câncer que o levou à amputação da perna direita. O tempo passou e, em 1997, Jairo veio morar em Brasília com a sua mulher, Marilene, contratada pelo Hospital Sarah, onde ainda atua …

Gaúcho no tom da boa música

O gaúcho Jairo Blank era um peladeiro bom de bola. Mas, aos 18 anos, ele enfrentou um câncer que o levou à amputação da perna direita. O tempo passou e, em 1997, Jairo veio morar em Brasília com a sua mulher, Marilene, contratada pelo Hospital Sarah, onde ainda atua como enfermeira.

Goleiro dos bons

Não precisou de muito tempo para que Jairo encontrasse uma turma de peladeiros. Dessa vez, ele atuando como goleiro, saltitando numa perna só, mas com muita agilidade e segurança na posição, dando confiança aos companheiros de time. Alegre e otimista, ele também revelava bom humor, quando afirmava:

“Eu sou o único goleiro
do mundo
que não
sofre gol pelo
meio das pernas…”

        Hoje, aos 57 anos, Jairo está afastado do futebol, mas investe em outra atividade que pratica desde a juventude: tocar gaita e cantar MPB em festas e restaurantes.

Instrumentista

Jairo contou que o gosto pela música se fortaleceu quando ele se recuperava da cirurgia de amputação da perna. Um amigo o ensinou a tocar violão e, em seguida, ele se interessou por outros instrumentos. E, ao longo da vida, aprendeu a tocar gaita de boca, flauta doce, teclado, contrabaixo, violino, saxofone…

 

“A música está no meu íntimo.
Se eu pegar um serrote,
eu faço barulho.
Tudo é música, como ensinou
Hermeto Pascoal”

 

Depoimento de repórter

Vinte e três anos depois que conheci Jairo como goleiro o reencontrei numa típica galeteria gaúcha, em Brasília, abrindo e fechando a sua sanfona, dedilhando o seu violão e, conforme a música, tocando gaita de boca, os seus instrumentos preferidos. Com ótima voz e entonação perfeita ele dá o seu show. E bota muita gente pra dançar.

– Como vai a vida, amigo? – indaguei.

A resposta demonstrou que o otimismo e a disposição para viver não tinham mudado:

“Quando eu tinha 18 anos eu estava morrendo precisei amputar a perna direita. Com aquela cirurgia, ganhei uma oportunidade para viver. Hoje, sou outro Jairo, mais alegre e mais cantor”.

E o futebol? – quis saber

“Praticamente parei, porque cada defesa no gol era uma luxação. Até fraturei três costelas num dos jogos. Acho que deu pro futebol. Vou tentar natação”, revelou.

Dono de casa

Os compromissos de casa são com ele mesmo. Faz isso para dar tranquilidade à família: a mulher, Marilene, e os filhos, Eduardo, o Dudu, que este ano se forma em Odontologia, e Otávio, acadêmico de Direito, já estagiando no Supremo Tribunal Federal. “Faço de tudo lá em casa. “Também pego no rodo, na vassoura, vou no mercado, faço o almoço, cuido da minha agenda de compromissos com a música. Adoro trabalhar. Eu sou o cara do lar”, resumiu.

E Brasília?

“Bah! – que cidade! Aqui é ótimo pra quem gosta de música. Eu cresci musicalmente em Brasília. Em matéria de oportunidades, nem se fala. Tenho 26 anos nesta cidade. Tem tudo aqui, nordestino, paulista, carioca. Se um dia eu precisar voltar pro Sul, não me desgarro daqui. O que tem de gente boa, bah! E não me falta oportunidade pra tocar. Toco em CTG (Centro de Tradição Gaúcha), em restaurante, em casa de amigos, em bares, em exposições agropecuárias, aniversário. Sempre tem uma festa aqui, outra lá…”

Bom conselho

Na despedida desse prazeroso encontro, desejei felicidades ao amigo, “pelos bares da vida”, como lhe disse. A resposta foi no tom de otimismo de sempre. “Tchê, eu vou te contar: sou mesmo privilegiado pela família que tenho. Por isso faço tudo com alegria. E sabe qual a diferença nisso tudo? Eu não tenho patrão…”

 

JOSÉ CRUZ
[email protected]

 

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