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Ler fortalece a cognição e auxilia na recuperação de pacientes

10 de junho, 2025 | Por: Agência O Globo

Hábito estimula funções cerebrais, melhora a memória e contribui para o bem-estar durante a internação

A leitura faz recrutamento e estímulo de rede neural e estimula diversas regiões do cérebro
A leitura faz recrutamento e estímulo de rede neural e estimula diversas regiões do cérebro — Foto: Freepik

O Alzheimer e outros tipos de demência já são um problema de saúde pública que só tende a piorar com o aumento da expectativa de vida da população. Diante disso, a busca por forma de tratar e prevenir essas condição é incessante.

Atualmente, não há tratamento capaz de curar a condição nem de recuperar a cognição que já foi perdida. Os fármacos atuais apenas agem nos sintomas ou retardam a progressão da doença. No entanto, como as demências começam a se desenvolver anos – até décadas – antes do aparecimento dos primeiros sintomas, o melhor caminho é a prevenção.

E isso pode ser feito por meio da manutenção de bons hábitos, como a leitura. Estudos indicam que exercitar o cérebro por meio da leitura fortalece as conexões neurais, melhora a memória, a atenção e a concentração, além de retardar o declínio cognitivo. O impacto também se estende ao bem-estar emocional, reduzindo o estresse e proporcionando maior equilíbrio mental.

— Do ponto de vista neurológico, a leitura faz recrutamento e estímulo de rede neural, o que é muito interessante porque ela não age em apenas um local do cérebro. Para ler, você tem que enxergar, tem que usar a linguagem, entender o que está escrito, estar atento e conseguir guardar aquela informação na memória. Então, para conseguir ler eu uso várias áreas do cérebro e isso é muito importante porque melhora a cognição, a função executiva, porque vai agir em memória, em atenção e concentração e na interpretação crítica — explica o médico Diogo Haddad, head do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Normalmente, quando pensamos em coisas para fazer para melhorar o alzheimer, a primeira coisa que a vem à cabeça é palavra cruzada. Mas, segundo Haddad, o ideal seria a leitura,

— A leitura não é simplesmente um pequeno estímulo. É a melhor coisa que existe no início bem precoce de quadros cognitivos — pontua o especialista.

A educação deficitária é um dos 14 hábitos que contribuem para o desenvolvimento de demência, de acordo com estudo recente publicado na revista científica The Lancet. Isso significa que ter uma boa educação formal ajuda a prevenir a condição já que esse hábito ajuda a desenvolver reserva cognitiva, que é um conjunto de recursos cognitivos acumulados ao longo da vida que ajudam o cérebro a compensar lesões e a manter a função cognitiva por mais tempo.

De acordo com Haddad, dentro dos fatores protetivos associados à educação formal, a leitura é a principal responsável pela formação dessa reserva.

— Talvez em algum momento ao longo da nossa vida isso mude, devido às mudanças de comportamento da sociedade, mas até agora, a maior parte do que a gente tem de linguagem está associado à leitura. E a hora que eu faço uma reserva cognitiva grande, eu protejo meu cérebro contra o envelhecimento anormal, como o Alzheimer. — pontua o médico.

Aliada na recuperação de pacientes

A leitura não é apenas uma aliada no fortalecimento da cognição e na prevenção de demências, mas também na recuperação de pacientes internados. O médico cita um exemplo prático que ocorre no Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Há dois anos, o Programa de Voluntariado mantém uma biblioteca com cerca de 100 títulos de diversos gêneros literários que são ofertados aos pacientes para estimular a leitura durante a permanência na instituição. Os livros podem ser lidos pelos próprios pacientes ou por voluntários que leem os livros para os pacientes.

A iniciativa visa proporcionar momentos de socialização, integração e descontração, para quem está internado, melhorando sua experiência durante a internação hospitalar.

— O paciente acamado, por exemplo, tende a ter uma reserva muito limitada porque ele tem pouca coisa pra ele fazer ao longo do dia. A hora que alguém lê para esse paciente, essa pessoa puxa ele para uma história, para uma crítica, para que o cérebro dele não fique parado. Dentro da reabilitação e do acompanhamento do paciente, isso é super legal. Vemos que esse paciente muitas vezes melhora mais rápido, tem um entendimento mais rápido, tem uma organização mais rápida do processo cognitivo quando está internado — conclui Haddad.


BS20250610073033.1 – https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2025/06/10/ler-fortalece-a-cognicao-e-auxilia-na-recuperacao-de-pacientes.ghtml

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