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Autoridades brasileiras tentam passar tranquilidade, mas, além dos argentinos, que estão no epicentro no assunto, episódios envolvendo uruguaios e paraguaios ligam alerta
Principal torneio do futebol da América do Sul, a Libertadores, que tem hoje o início de sua fase de grupos, também tem sido uma fonte crescente de conflitos nos últimos anos, especialmente entre brasileiros e as outras nacionalidades do continente. Casos de racismo e demais tipos de discriminação dentro e fora do país, além de episódios de desmedida truculência policial, vêm alimentando uma certa animosidade geral. O Extra consultou diversas autoridades que estarão envolvidas na organização da edição deste ano, a resposta foi de tranquilidade em relação à escalada de tensão, mas há alguns alertas.
O único representante brasileiro em campo hoje será o Fortaleza, que recebe o Racing às 21h30. A Argentina se tornou epicentro no assunto, por conta dos numerosos casos de torcedores imitando macacos quase sempre que brasileiros viajam para assistir a seus jogos. Porém, são Uruguai e Paraguai que mais preocupam para 2025.
Em outubro do ano passado, a visita do Peñarol ao Botafogo, pelo jogo de ida da semifinal, gerou enorme confusão entre uruguaios e a Polícia Militar do Rio de Janeiro, terminando com centenas de detidos — 21 ainda estão no Brasil, sendo dois presos e 19 em liberdade provisória — no Recreio dos Bandeirantes. Vários casos ainda tramitam na Justiça. A volta acabou sendo uma retaliação para os alvinegros que foram a Montevidéu, com muitos evitando usar camisas de time ou até falar português na cidade.
— Há muito tempo os times, não só os uruguaios, que viajam com contingente significativo para o Brasil sofrem todo tipo de abusos da polícia e muitas vezes de organizações que têm base territorial lá — disse Ignacio Alonso, presidente da Associação Uruguaia de Futebol (AUF). — Assim como o racismo deve ser combatido, acho que beira a xenofobia (o que acontece) no Brasil. Não vejo isso em relação a ninguém além dos estrangeiros — declarou à rádio Carve Deportiva.
Procurada, a AUF não se posicionou, assim como a AFA (Argentina) e a APF (Paraguai). Contudo, a declaração de Alonso mostra um indício de tentativa dos países em terem “sua própria reivindicação” frente aos protestos brasileiros por conta do racismo. Em 2023, as torcidas de Argentinos Juniors e Boca Juniors também estiveram envolvidas em conflitos no Rio de Janeiro por jogos da Libertadores.
As forças de segurança locais porém, não externam preocupação com a chegada de mais uma edição do torneio. A Polícia Militar, responsável pela atuação direta nas ruas e a operação nos estádios, garantiu ao Extra que “possui a experiência de décadas” para manter a segurança nos jogos na cidade. Neste ano, além de Botafogo e Flamengo na Libertadores, Fluminense e Vasco estão na Copa Sul-Americana, e são previstos jogos simultâneos.
“Os incidentes ocorridos envolvendo a torcida do Peñarol representam um fato isolado num histórico de dezenas de partidas”, afirmou a PMERJ, em nota oficial. “O histórico recente de participações dos clubes do Rio de Janeiro em competições internacionais contribui para o ganho de experiência e a evolução das estratégias de segurança.”
Confrontos que chamam especial atenção nesta edição são os entre Palmeiras e Cerro Porteño, sorteados no Grupo G — no dia 9 de abril, em São Paulo e, 7 de maio, em Assunção. Há uma escalada de tensão após torcedores paraguaios cometerem racismo contra Luighi e outros jogadores alviverdes na Libertadores sub-20, no início de março.
O clube paraguaio fez um comunicado nas redes sociais pedindo à sua torcida “que se comporte” nos futuros encontros. O resultado foi uma enxurrada de comentários de paraguaios em tom de discriminação, e indicando a vontade de dar o troco pelo tratamento recebido no Brasil.
O Extra consultou as Embaixadas brasileiras em Assunção, Buenos Aires e Montevidéu, e o Itamaraty respondeu que “manterá a operação para atender cidadãos que precisem de ajuda longe do Brasil”, mas não determinou uma cartilha específica para a chegada do torneio. As Embaixadas dos países sul-americanos no Brasil também foram consultadas, e a apenas a do Peru retornou o contato, dizendo estar atenta a “qualquer situação que coloque em risco a segurança ou viole os direitos de seus cidadãos”.
Na semana passada, a Conmebol reuniu os dez países integrantes da entidade e criou uma força-tarefa, focada no combate ao racismo e à discriminação, liderada pelo ex-jogador Ronaldo, prometendo “foco integral e soluções concretas”. A iniciativa veio após o presidente Alejandro Domínguez dizer que a Libertadores sem times brasileiros seria como “Tarzan sem (a macaca) Chita”. A declaração foi repudiada por três órgãos governamentais: o próprio Itamaraty, o Ministério da Igualdade Racial e o Ministério do Esporte.
“O governo brasileiro exorta a Conmebol e as Federações Nacionais de Futebol da América do Sul a atuarem decisivamente para coibir e reprimir atos de racismo, discriminação e intolerância, promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes, imigrantes e outros grupos vulneráveis ao esporte.”
Procurada pela reportagem do Extra, a entidade não respondeu às indagações sobre preocupações com o torneio deste ano, assim como CBF e Fifa.
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