VARIEDADES

Luiz Antonio Simas resgata festejos de Cosme e Damião em novo livro para crianças e recorda infância: ‘Meu doce preferido era cocô de rato’

27 de setembro, 2025 | Por: Agência O Globo

O lançamento acontece neste sábado, no Alfa Bar e Cultura (Rua do Mercado 34, Centro), às 14h

Luiz Antonio Simas resgata os festejos de Cosme e Damião para crianças em seu novo livro de cordel, rimado e ilustrado
Luiz Antonio Simas resgata os festejos de Cosme e Damião para crianças em seu novo livro de cordel, rimado e ilustrado — Foto: Victor Hugo Vasconcelos

O hoje professor, escritor e compositor Luiz Antonio Simas um dia já foi um menino que corria atrás de doces no Rio e em Nova Iguaçu, animado com a festa de Cosme e Damião, celebrada hoje. Dentro dos famosos saquinhos distribuídos às crianças, sua guloseima preferida era o chamado cocô de rato, como são popularmente chamados os flocos de arroz.

— O nome e a ideia de estar comendo cocô de rato me atraíam (risos) — justifica Simas, que torcia o nariz para o doce de abóbora: — Ainda vinha em formato de coração. Eu tinha horror!

Essa infância, marcada pela rua, pela memória de sua avó mãe de santo e rezadeira Dona Deda e pelo encanto da tradição popular, é a luz que guia Simas em “As três estrelas do céu” (Editora Reco Reco, R$ 59,90), seu mais novo livro infantil. O lançamento acontece neste sábado, no Alfa Bar e Cultura (Rua do Mercado 34, Centro), às 14h.

— Essa data sempre me interessou, e a ideia do livro foi tentar traduzir essa relação que eu tinha com ela para a criançada de hoje. Existia o terreiro da minha avó, e minha primeira lembrança de São Cosme e Damião é de lá, no bairro Jardim Nova Era, em Nova Iguaçu. Era tanta criança para receber doce que, uma semana antes, eram distribuídos cartões. Quem conseguisse pegar, trocava pelo saquinho no dia. Uma verdadeira mobilização, rua cheia — recorda o autor de 33 livros sobre a cultura popular brasileira.

Em formato de cordel e rimada, a obra ilustrada por Camilo Martins encanta crianças e adultos. O livro traz o início da história de Cosme e Damião, médicos que curavam crianças com as mais diversas enfermidades.

— A musicalidade do cordel atrai muito o público infantil. Ele é rimado, com estrofes, ótimo pra ler em voz alta com o filho e para a criança ler sozinha também. A poesia popular cria uma relação afetuosa com a palavra e o ritmo — destaca.

Fusão de crenças

No Brasil, os santos se uniram aos orixás e erês, como reflexo da fusão de crenças, e criou-se o costume de distribuir doces como forma saborosa de agradecer por pedidos realizados.

— Essa festa não mora numa linha reta, mora numa encruzilhada. Ela tem as referências do cristianismo popular, dos candomblés, das umbandas… Você vai ter os santos Cosme e Damião, que são relacionados a Ibeji, o orixá ligado ao culto dos gêmeos. Os saquinhos de doce são uma tradição muito forte, assim como comer caruru — explica ele, que distribui guloseimas com a mulher, Cândida, perto da Praça Afonso Pena, na Tijuca.

O autor enfatiza a importância das festas de rua e a resistência da cultura popular. Ele também reflete sobre o risco que o Dia de São Cosme e Damião corre diante das mudanças das cidades e por conta do racismo religioso.

— A festa de São Cosme e Damião está perdendo força. Ela ainda resiste, mas está sob risco. A gente tem perdido a rua como espaço de sociabilidade. Vivemos tempos em que as cidades são pensadas para circulação de mercadoria e carros — alerta o autor, emendando: — Hoje você tem crianças de famílias de algumas designações religiosas que não pegam doce e demonizam esse ato. Isso está vinculado ao racismo religioso. Assim, as cidades vão perdendo a dimensão do encontro, e as ruas vão ganhando contornos cada vez mais agressivos. É preciso que a gente avive essa tradição para que ela não morra.

A vida não é boa, então festeja

Simas reflete sobre as festas populares: “Elas não podem ser entendidas como alegria gratuita do brasileiro. A gente não faz festa porque a vida é boa, a gente faz porque ela não é. Se tudo fosse bom, a gente não precisava festejar”.

Mundo virtual e desvirtuado

O autor quer fazer ainda mais projetos para os pequenos: “Minha preocupação é com a criançada. A gente está num mundo cada vez mais desvirtuado, de tão virtual que é”.

Próximos projetos

Assunto não falta para o professor: “Todos os meus livros têm um fundamento comum que é a cultura popular brasileira. Estou trabalhando num projeto bastante avançado sobre um dicionário de culturas populares e terreiros. Também tenho outra ideia que envolve São Jorge”, conta ele, que já tem outra obra infantil sobre Jorge.

Amor pela música

O professor popular, que já deu aula em lugares como cemitério, botequim e até campo de futebol, é autor de mais de 40 composições gravadas por nomes como Maria Rita, Marcelo D2 e Criolo. “Confesso que se me mandassem escolher, o que seria terrível, eu preferiria fazer música”.


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