
Lula rejeita intromissão dos EUA em regras para big techs: ‘Se não quiser regulação, sai do Brasil’
Presidente disse que Trump tenta ferir a soberania brasileira com medidas anunciadas
Presidente afirma que irá conversar com líderes da Índia e da China
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quarta-feira (dia 6), em entrevista à Reuters, que irá chamar os líderes da Índia, Narendra Modi, e China, Xi Jiping, para discutir uma resposta conjunta do Brics ao tarifaço de Donald Trump. Além dos três países, o grupo também tem entre seus membros a Rússia e outras economias emergentes. A taxa de 50% sobre produtos brasileiros entrou em vigor nesta quarta.
— Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como é que cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão — disse Lula. — Eu sou presidente dos Brics até dezembro e vou conversar com todas as pessoas, é da minha responsabilidade.
A Índia também recebeu tarifa de 50%, essa sob a justificativa de importar produtos da Rússia. Já há uma ligação prevista entre Modi e Lula para esta semana. Enquanto a China tem negociações paralelas em andamento com os EUA.
Trump chamou o Brics de “antiamericano” e ameaçou as nações que participam dele, enquanto o grupo se reunia em uma cúpula no Rio de Janeiro.
— O que o presidente Trump está fazendo é tácito, ele quer acabar com o multilateralismo, em que os acordos se dão coletivamente numa instituição, e quer criar o unilateralismo em que ele negocia sozinho com outro país — disse Lula. — Qual é o poder de negociação que tem um país pequeno com os Estados Unidos na América do Norte? Nenhum.
Lula disse ainda que não enxerga espaço para negociar diretamente com o Trump, pois afirmou rejeitar uma “humilhação” em uma conversa com o governo americano.
— Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar — disse. — Um presidente da República não pode ficar se humilhando para outro. Eu respeito todo mundo, eu exijo respeito comigo. Eu adoro respeitar as pessoas, e adoro ser respeitado.
Lula falou em “ameaças” na carta em que Trump anuncia as tarifas, publicada há um mês.
— Não liguei porque ele não quer telefonema, não vou entrar numa análise do porquê o Trump falou aquilo — disse. — Eu não tenho porque ligar para o presidente Trump, porque nas cartas que mandou das decisões ele não fala em nenhum momento em negociação, só fala em mais ameaças.
Segundo o presidente, o Brasil não pretende anunciar tarifas recíprocas, e vai insistir nas negociações sobre o tarifaço via o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
— Ora, o que nós não estamos encontrando é interlocução, sabe, na hora que quiserem conversar, vamos conversar — disse, acrescentando: — Estou fazendo tudo isso quando poderia anunciar uma taxação contra os EUA, e não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento que ele, quero mostrar que quando um não quer, dois não brigam, e eu não quero brigar com os EUA.
O presidente brasileiro também criticou o conteúdo da nota em que Trump anuncia as tarifas sobre o Brasil. Lembrou que os EUA têm superávit na relação comercial e disse que o Brasil é soberano nas relações comerciais.
— Espera aí, esse país é soberano, tem uma constituição, uma legislação, é da nossa obrigação regular o que a gente quiser regular, de acordo com os interesses e cultura do povo brasileiro — afirmou, acrescentando: — Se não quiser regulação, sai do Brasil, não existe outro mecanismo, da mesma forma que lá nos EUA, uma empresa brasileira é obrigada a seguir a legislação americana, e na França é do mesmo jeito.
Lula reiterou que o governo tem tentado negociar com os EUA, citando o vice Geraldo Alckmin e os ministros Mauro Vieria (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda):
— O que nós queremos é, primeiro utilizar e gastar tudo que é possível gastar em negociação, antes da gente tomar qualquer outra medida que signifique que as negociações acabaram.
Para Lula, o Brasil não pode agir como se tivesse “o cobertor curto”. O governo prepara um plano de socorro para as empresas afetadas pela taxação. As medidas, segundo Lula, são para cuidar da manutenção dos empregos e ajudar as empresas a procurar novos mercados.
— Nós vamos aquilo que estiver no alcance da economia brasileira, mantendo a responsabilidade fiscal que estamos mantendo no governo. Mas nós vamos fazer o que for necessário. A única certeza que eu tenho é que eu acredito que a gente vai encontrar uma solução.
Sem um canal aberto de negociação com a Casa Branca, o governo brasileiro apresentou, nesta quarta-feira, um pedido de consulta à missão dos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), sediada em Genebra (Suíça), sobre o tarifaço promovido por Donald Trump. Esse é o primeiro passo para uma ação na OMC contra as sobretaxas impostas pelos EUA a produtos brasileiros.
Na última segunda-feira, o Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou que o Brasil recorra à OMC contra o tarifaço. Caso não haja acordo com os EUA, o governo brasileiro pedirá a instalação de um painel, ou comitê de arbitragem, para avaliar o caso.
Nesta quarta-feira, entrou em vigor uma sobretaxa de 50% sobre parte das exportações brasileiras que têm como destino o mercado americano. O Brasil argumenta que a medida está em desacordo com as normas internacionais de comércio.
Na prática, a ordem executiva assinada por Trump na última quarta implementou uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, somando-se aos 10% anunciados em abril e elevando o total da tarifa para 50%.
O governo americano definiu quase 700 exceções de produtos — entre os 4 mil itens que o Brasil exporta para os EUA — a essa tarifa adicional de 40%. Entre essas exceções estão artigos essenciais para o mercado americano, como aviões da Embraer, peças aeronáuticas (como turbinas, pneus e motores), suco de laranja, castanhas, vários insumos de madeira, celulose, ferro-gusa, minério de ferro, equipamentos elétricos e petróleo.
No entanto, alguns dos principais itens da pauta de exportação brasileira, como café, cacau, carne e frutas, ficaram de fora da lista de produtos que não terão tarifa adicional.
BS20250806211242.1 – https://extra.globo.com/economia/noticia/2025/08/lula-diz-que-nao-vai-se-humilhar-em-ligacao-com-trump-e-ira-debater-tarifaco-com-os-brics.ghtml
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