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POLÍTICA

Lula faz nova ofensiva para atrair governadores, mas sofre resistência de aliados de Bolsonaro

7 de agosto, 2024

Interlocutores do presidente acreditam que proximidade das eleições municipais afasta oposicionistas do governo

Lula faz nova ofensiva para atrair governadores, mas sofre resistência de aliados de Bolsonaro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto — Foto: Ricardo Stuckert / PR

Eleito com o apoio de uma frente ampla de partidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva traçou como uma de suas metas no governo estreitar a relação com governadores. Passado um ano e meio de mandato, contudo, o presidente admite ter dificuldade de ter os chefes dos executivos estaduais ao seu lado, principalmente os que tiveram apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro para serem eleitos.

O desabafo de Lula foi feito no último dia 26, durante evento de anúncio de obras do PAC no Palácio Planalto. Na ocasião, apenas 8 dos 27 governadores estavam presentes, apesar do esforço do ministro da Casa Civil, Rui Costa, de telefonar diretamente para fazer os convites. O presidente afirmou durante o evento que os problemas nas relações resultam do clima de polarização deixado no país pelo seu antecessor no cargo.

No Planalto, auxiliares avaliam ainda que o período eleitoral tem inibido os governadores de oposição de estarem em atos com Lula. Interlocutores do presidente dizem que os chefes dos executivos estaduais sofrem ataques da base bolsonarista nas redes quando fazem qualquer gesto em direção ao petista.

Por sua vez, os governadores de partidos de oposição dizem, de forma reservada, que evitam eventos do governo federal porque enxergam, em muitos deles, uma intenção de politização exagerada por parte da gestão federal. Alegam também que no caso do PAC a disposição para realizar cerimônias é muitas vezes maior do que a verificada para tocar as obras em si.

Um episódio lembrado por auxiliares de Lula como exemplo de patrulha enfrentada pelos chefes de executivos aconteceu em outubro do ano passado com Jorginho Mello (PL). O governador de Santa Catarina gravou um vídeo em que agradecia “a coragem do presidente Lula” por ter assinado um decreto que beneficiava pequenos produtores de leite do estado. Mello fez referência ao petista após ouvir um apelo de auxiliares do presidente que estavam em seu estado. Nos dias seguintes, o governador de Santa Catarina, aliado próximo de Bolsonaro, recebeu uma avalanche de ataques.

Desde então, Mello se afastou do governo federal. No evento do dia 26, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o governador de Santa Catarina não costuma “participar de solenidades”, mas mesmo assim receberia R$ 1 bilhão para obras de macrodrenagem em seu estado. Mello esteve com Lula em duas oportunidades desde o ano passado: na reunião com todos os governadores realizada um dia após os ataques de 8 de janeiro de 2023 e em um encontro sobre segurança nas escolas realizado após o ataque a uma creche de Blumenau (SC).

Aliados de Mello, por sua vez, alegam que a gestão local tem tido dificuldades em seus pleitos junto ao governo federal. Relatam que, historicamente, o estado sofre para conseguir recursos devido aos bons indicadores sociais. Em um episódio específico, os aliados do governador entendem que houve uma demora excessiva, de mais de um ano e meio, para que a gestão Lula aceitasse abater da dívida estadual paga mensalmente à União um investimento de quase R$ 500 milhões que o antecessor de Mello, Carlos Moisés, havia feito em obras de rodovias federais que estavam paralisadas.

Na próxima sexta-feira, está prevista a participação de Lula na cerimônia de inauguração da obra do Contorno Viário de Florianópolis, capital catarinense, que está sendo tocada pela iniciativa privada. Mello foi convidado, mas ainda avalia se irá.

Um dos receios dos governadores de oposição ao participarem de eventos com Lula é o de serem expostos a plateias hostis. Foi o que aconteceu na quarta-feira passada, quando o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), que apoiou Bolsonaro em 2022, foi vaiado, ao lado do presidente, em um evento de entrega de unidades habitacionais em Cuiabá. Lula defendeu Mendes, disse que o governador estava lá porque foi convidado por ele e pediu respeito.

O mesmo já havia ocorrido em junho durante um ato em Belo Horizonte em que Lula anunciou repasses de verbas para programas federais em Minas. O vice-governador de Minas Gerais, Professor Mateus Simões (Novo), que representava o governador Romeu Zema (Novo), foi vaiado. Na ocasião, Lula também interveio para que o público se contivesse.

No governo federal, a avaliação é que as principais resistências ao governo federal estão nos estados do Sul, de Minas e de São Paulo.

Em relação ao chefe do executivo paulista, Tarcísio de Freitas, a percepção é que o distanciamento aconteceu depois que as suas chances de ser candidato a presidente em 2026, como representante do bolsonarismo, aumentaram. O calendário eleitoral teria acentuado esse movimento. No dia 26, enquanto Lula fazia a cerimônia de anúncios do PAC no Planalto, Tarcísio entregava obras de uma estrada e de uma vicinal no interior do estado. Para a cerimônia do governador federal em Brasília, mandou o vice Filipe Ramuth.

Há um entendimento no Planalto que uma boa relação com os governadores ajudam a melhorar a imagem da gestão federal nos estados. Citam como exemplo os números da pesquisa Quaest em Pernambuco divulgada na semana passada que apontam 73% de aprovação a Lula no estado.

Os auxiliares do presidente relatam que no começo de seu mandato, a governadora pernambucana Raquel Lyra (PSDB), resistia a citar Lula nominalmente. Após uma intensificação nas articulações, Lyra mudou de postura e passou a ser figura frequente nos eventos no Palácio do Planalto. A avaliação é que, como deixou de enfrentar críticas locais, Lula pôde construir uma boa avaliação em Pernambuco.

O próximo grande desafio do governo para juntar os governadores se dará nos próximos meses com a discussão da PEC da Segurança Pública. Elaborada pelo Ministério da Justiça, a proposta estende a atuação da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal. Lula já anunciou que pretende reunir todos os 27 governadores antes de enviar o texto para o Congresso. Ainda não há, contudo, data para isso acontecer.


BS20240807063009.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/08/07/lula-faz-nova-ofensiva-para-atrair-governadores-mas-sofre-resistencia-de-aliados-de-bolsonaro.ghtml