POLÍTICA

Lula protela reforma e ministros viram ‘zumbis’, com eventos cancelados e ausência em viagens

31 de março, 2025 | Por: Agência O Globo

Até agora, só foram anunciadas as saídas da ex-ministra da Saúde Nísia Trindade e do secretário de comunicação, Paulo Pimenta

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e dos ministros de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, da Casa Civil, Rui Costa, da Secretaria Geral, Márcio Macedo, e das Cidades, Jader Filho. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A indefinição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre novas alterações na equipe tem causado desgaste a ministros, que sofrem com a fritura após seus nomes figurarem na lista de possíveis demissões. Aliados do petista avaliam que o presidente, ao protelar a continuidade da reforma ministerial, deixou parte dos auxiliares como “zumbis” em seus postos. O cenário inclui eventos desmarcados, ausência em viagens e lançamentos de programas adiados.

Um dos que estão nesta situação é o ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, pasta alvo de cobiça de setores do PT. O cargo é considerado estratégico por fazer parte da chamada “cozinha” do Palácio do Planalto, formada pelos ministérios que ficam localizados na sede do Executivo, com acesso direto ao gabinete presidencial. Após a saída de Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) e de Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), que também integravam esse seleto grupo, a demissão de Macêdo passou a ser dada como certa por integrantes do governo.

Macêdo é considerado um ministro apagado e sem protagonismo por alas do governo, que defendem usar a Secretaria-Geral como uma espécie de motor político da gestão. A pasta é responsável pela relação do governo com a sociedade civil e movimentos sociais. Esses grupos comentam que o ministro foi “esquecido” por Lula e chamam a atenção para o fato de ele não viajar mais com o presidente, além de ter poucas reuniões com o chefe, mesmo despachando diariamente no quarto andar do Planalto, um acima do gabinete presidencial. Segundo registros das agendas oficiais, não houve nem uma reunião sequer entre os dois neste ano. No mesmo período de 2024, foram cinco compromissos.

Fora de viagens

Além disso, no início de março Lula foi a Minas Gerais participar de um evento com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Macêdo não foi chamado. Duas semanas depois, o presidente fez um tour por estados do Nordeste, região do ministro, que é de Sergipe, mas novamente não levou o auxiliar. Aliados do ministro argumentam que nenhuma das viagens diziam respeito à Secretaria-Geral. Em relação às reuniões no Planalto, afirmam que nem sempre as conversas com o presidente ficam registradas na agenda oficial dos dois. Procurado, Macêdo não comentou.

No caso da ministra Cida Gonçalves, das Mulheres, o gabinete presidencial havia indicado à sua equipe que Lula participaria com ela de um evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher no qual seriam anunciadas políticas públicas voltadas ao segmento. A pasta chegou a mudar a data do evento para se adequar à agenda do presidente. Porém, dias depois, a participação de Lula foi cancelada, o evento suspenso e os anúncios previstos até hoje não foram feitos.

Este foi o primeiro ano do atual mandato em que Lula não se envolveu diretamente nos eventos alusivos ao Dia da Mulher, como fez em 2023 e 2024. As ações da data mais importante para a pasta acabaram reduzidas a uma campanha contra o feminicídio, realizada na Marques de Sapucaí, no Rio. O episódio causou desânimo em integrantes da equipe de Cida, que admitem, sob reserva, a sensação de que a demissão da ministra pode ocorrer a qualquer momento.

Outro sinal visto como “desprestígio” dentro da pasta foi a desistência da primeira-dama, Janja da Silva, de ir a Nova York ao lado da ministra para a 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW), evento ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). As equipes de Cida e Janja vinham se reunindo para preparar a participação do Brasil no evento e já estava tudo combinado para a viagem, quando assessores da primeira-dama avisaram que ela não iria mais. Não houve justificativa.

Decisões de longo prazo, como a contratação de pessoas para cargos de confiança que estão vagos, estão em compasso de espera devido à possibilidade de saída da ministra. A exemplo de Macêdo, Cida também não teve nenhum despacho com Lula neste ano, a não ser na reunião ministerial de 20 de janeiro. Nos primeiros dois anos do governo, ela foi recebida nove vezes por Lula. Também procurada, a titular da pasta das Mulheres não quis se manifestar.

Outro que está na corda bamba, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, vive um cenário diferente. Diante da crise causada pela alta no preço dos alimentos, ele participou de reuniões com o presidente ao longo do mês, quando foi um dos mais cobrados por Lula. Ele enfrenta resistências dentro do MST, que cobra um números maior de assentados, e disputa pelo cargo dentro do PT.

Teixeira também é cobrado pela gestão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que, na visão de alas do governo, não investiu o suficiente em estoques reguladores que poderiam ter sido usados para minimizar os efeitos da inflação. O preço dos itens nos supermercados é um dos fatores que afetaram diretamente a popularidade de Lula.

Sinal de fôlego

Uma agenda do ministro ao lado de Lula em Minas, no começo de março, foi vista por seu entorno como um sinal de fôlego. Além disso, a leve queda no preço de alguns alimentos, como carne, arroz e ovo, foi comemorada pela equipe do ministro como resultado das políticas da pasta.

Teixeira chegou ao comando do Ministério do Desenvolvimento Agrário pelas mãos de Gleisi Hoffmann, então presidente do PT, que durante a transição de governo quis contemplar a corrente do ministro, a Resistência Socialista. O movimento ocorreu em troca do apoio que Teixeira deu a Gleisi em sua reeleição à presidência do partido em 2019. Procurado, o ministro não quis se manifestar.

Tanto aliados de Teixeira quanto de Macêdo nutrem esperança de que o presidente já tenha encerrado as mudanças no primeiro escalão. Um dos principais argumentos é que, a um ano da desincompatibilização para aqueles que irão concorrer nas eleições de 2026, os novos ministros teriam pouco tempo para criar uma marca no cargo.

Outra ala, no entanto, assegura que Lula findará as trocas no retorno da viagem à Ásia, nesta semana. Esse grupo vê a demora do presidente em definir as alterações de ministros petistas como consequência da intenção do presidente em atrelá-las à sucessão no PT, em que seu candidato, Edinho Silva, enfrenta resistências.

Na corda bamba

Márcio Macêdo

Ministro da Secretaria-Geral não viaja mais com o presidente e tem poucas reuniões com Lula, mesmo despachando no Planalto. Segundo registros das agendas oficiais, não houve nenhuma reunião entre os dois neste ano. No mesmo período de 2024, foram cinco compromissos.

Cida Gonçalves

Lula cancelou participação em evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher. Com isso, a cerimônia foi suspensa e os anúncios previstos até hoje não foram feitos. Janja também cancelou, sem justificativa, ida a Nova York com a ministra das Mulheres para evento ligado à ONU.

Paulo Teixeira

Apesar de cotado para cair na reforma, o ministro do Desenvolvimento Agrário participou de reuniões com Lula devido à crise causada pela alta no preço dos alimentos. Uma agenda ao lado do presidente em Minas, no início de março, foi vista por seu entorno como um sinal de sobrevida.

Primeiras trocas

Paulo Pimenta

Titular da Secom deixou o cargo no início de janeiro, após reclamações públicas de Lula sobre a comunicação do governo. Ele foi substituído pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, que fez a campanha de Lula em 2022 e tem como principal missão reverter a queda de popularidade do presidente.

Nísia Trindade

Lula demitiu a ministra da Saúde em fevereiro após demonstrar insatisfação com a falta de resultados. O posto foi ocupado por Alexandre Padilha, que era responsável pela articulação política do governo e foi titular da pasta durante o governo de Dilma Rousseff.


BS20250331063017.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/03/31/lula-protela-reforma-e-ministros-viram-zumbis-com-eventos-cancelados-e-ausencia-em-viagens-veja-quem-esta-na-fritura.ghtml

Artigos Relacionados