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Lulistas faltam e direita discursa sozinha no ‘Agropalooza’ de São Paulo

6 de junho, 2025 | Por: Agência O Globo

Tarcísio, Caiado e Zema, três governadores cotados para a disputa presidencial, fizeram críticas ao governo federal e elogios ao PL do licenciamento ambiental

Painel Governadores do Agro abordou a importância do setor para o desenvolvimento econômico, social e ambiental dos estados (Foto: Júnior Guimarães)

O festival Global Agribusiness Festival (GAFFFF), anunciado como o “maior ponto de encontro de cultura agro do mundo”, realizado nesta quinta-feira (5) no Allianz Parque, em São Paulo, serviu de palanque para governadores de direita cotados para a eleição presidencial de 2026, enquanto autoridades lulistas convidadas faltaram ao encontro.

Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, discursaram para um público que pagou pelo menos R$ 1 mil para acompanhar a programação completa. Havia a expectativa dos organizadores de receber três governadores mais próximos do presidente Lula (PT) e dois ministros, mas nenhum deles apareceu no evento, promovido por XP, Corteva e Datagro.

Os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Celso Sabino (Turismo), além de governadores aliados do governo federal como Raquel Lyra (PSD, de Pernambuco) e Rafael Fonteles (PT, do Piauí) foram as ausências governistas. Apesar do bom momento da agricultura, principal responsável pelo crescimento de 1,4% do PIB no primeiro trimestre, o governo federal também ficou de fora de outros eventos importantes do setor — Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, não foi ao Agrishow em abril, apesar de ter sido convidado, nem ao ExpoZebu, no início de maio.

Com isso, os discursos do GAFFFF foram uníssonos sobre a insatisfação com o governo federal, com apelo a “novos ares”. Embora afirme que pretende tentar a reeleição em São Paulo, Tarcísio, que tem apostado em programas e acenos de apelo federal, fez uma defesa do projeto de lei que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental ao afirmar que sua gestão “faz muito investimento e também preserva”. A proposta, que interessa aos ruralistas, passou no Senado com relatoria de Tereza Cristina (PP-MS), enquanto ambientalistas e a ministra Marina Silva (Rede), do Meio Ambiente, são contrários ao texto.

— À medida que o ambiente vai ficando mais sensível, eu tenho que melhorar os estudos, fazer estudos mais profundos. À medida que eu tenho empreendimentos de maior potencial degradador, da mesma forma. Agora, quando eu pego o empreendimento de maior potencial degradador e confronto isso com um ambiente que é resiliente, podemos ter um processo de licenciamento mais simples, mais rápido, e isso vai destravar uma série de empreendimentos — ele disse.

Caiado no Global Agribusiness Festival
Na Global Agribusiness Forum 2025, em São Paulo, Caiado fala do avanço do Agro goiano (Foto: Júnior Guimarães)

Caiado, como em outras feiras e eventos do agronegócio, reforçou a sua postura de “tolerância zero” com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e apelou para a pauta da segurança pública no interior de Goiás. Em outro momento, disse que países da Europa e os Estados Unidos estariam enriquecendo com a exploração de petróleo enquanto defendem cautela na perfuração de poços na margem equatorial, por representar risco à Foz do Amazonas.

— A Guiana cresceu mais de 40%. Eles podem perfurar, levar o dinheiro, e nós estaríamos cometendo um crime ambiental. Os Estados Unidos produzem petróleo no Alasca. É uma narrativa que tentam nos impor porque sabem que não podem competir conosco — disse. — Em 2026, vocês, líderes rurais, podem arregaçar as mangas porque vamos ganhar as eleições para presidente da República.

Outra ausência foi Ratinho Júnior (PSD), que completa o segundo mandato no Paraná e também busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na empreitada presidencial. Zema, por sua vez, defendeu uma “virada” em 2026 no plano federal.

— O estado que mais contribuiu para o saldo da balança comercial no ano passado foi Minas Gerais, com 25 bilhões de dólares. Minas está contribuindo com o Brasil e tenho certeza que, no ano que vem, teremos uma virada que vai fazer com que o agro tenha a devida valorização que ele tanto merece — declarou Zema.

Após os discursos, Tarcísio circulou pela feira, tirou selfies e comeu carne com batatas no espaço dedicado a aulas de churrasco. A organização disse que 30 mil pessoas estão inscritas, mas a maior parte do público deve comparecer apenas à noite, com os shows de cantores sertanejos como Leonardo e a dupla Fernando e Sorocaba. O evento conta com dezenas de expositores e tem palestras e encontros com empresários.

Além deles, estiveram presentes os governadores do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), e de Roraima, Antonio Denarium (PP), além de representantes da bancada ruralista, como a senadora Tereza Cristina e o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR). O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), outro lulista, consta como uma “participação especial” nesta sexta, por ser o anfitrião da COP-30.

Um dos momentos de maior entusiasmo do público foi quando o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) afirmou que o Poder Judiciário não respeita as instituições. A fala foi seguida de aplausos entusiasmados, mesmo sem maiores detalhes do que exatamente configuraria essa prática.

— Queremos que o agro tenha portas abertas para dizer o que pode ser feito, e não chefes de carimbo dizendo o que não se pode fazer — ele disse.

Para a senadora Tereza Cristina, existem interferências indevidas no processo legislativo, em temas ambientais, por exemplo:

— Hoje está havendo, sim, invasão de competências. Às vezes, o Judiciário quer legislar, que não é papel dele. Se a lei é boa ou ruim, quem faz são os congressistas eleitos para isso. E qual a punição? Se ele for um mau congressista, ele não será eleito na próxima eleição — falou.

Quem quiser acompanhar os encontros com autoridades, empresários e o espaço de expositores precisa desembolsar pelo menos R$ 1 mil pelo ingresso, que dá direito ainda a aulas de churrasco e shows de artistas sertanejos. O passaporte para os dois dias (quinta e sexta) sai por R$ 1,8 mil, com valor reduzido para acesso somente às apresentações musicais.

O evento é realizado pela XP Investimentos e pela empresa de produtos químicos norte-americana Corteva, com organização da consultoria agrícola Datagro. Entre as atrações musicais, estão artistas como Leonardo e Fernando & Sorocaba.


BS20250605204010.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/06/05/lulistas-faltam-e-direita-discursa-sozinha-no-agropalooza-de-sao-paulo.ghtml

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