POLÍTICA

Malafaia ignora conselho de Bolsonaro e acusa Motta de conluio com Moraes para agir contra anistia

10 de abril, 2025 | Por: Agência O Globo

Bolsonaro havia recomendado que ele cessasse os ataques ao presidente da Câmara e sugerido que o partido negociasse a votação

Bolsonaro com o líder evangélico Silas Malafaia — Fotos: Isac Nóbrega/PR

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ignorou os conselhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e voltou a atacar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos -PB), menos de 24 horas depois de os dois terem se encontrado para tratar do projeto de lei que anistia condenados pelo 8 de janeiro. Malafaia, que organizou todas as manifestações de Bolsonaro desde que deixou a presidência, afirmou que Motta age contra o projeto da anistia por supostamente “trabalhar em parceria” com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Horas antes, Bolsonaro havia recomendado que ele cessasse os ataques ao presidente da Câmara e sugerido que o partido negociasse a votação.

— Ele (Motta) cancelou a reunião de líderes desta quinta-feira com medo de o líder Sóstenes Cavalcante (RJ) apresentar 257 assinaturas pela urgência do projeto. Na semana que vem, todas as sessões serão remotas. A verdade é que ele está afinadíssimo com o ministro Alexandre de Moraes, um ditador de toga. E outra: a batata dele e do pai dele está assando, existe investigação da Polícia Federal contra eles. Não adianta empurrar isso. No dia 21, Sóstenes vai apresentar as 257 assinaturas e o honrado povo da Paraíba vai dar uma resposta a Hugo Motta nas urnas — afirmou o líder religioso nesta quinta.

Em entrevista ao podcast “Direto de Brasília”, da Folha de Pernambuco, Bolsonaro foi questionado sobre as críticas recentes do pastor ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ele iniciou sua fala fazendo elogios, destacando que grande parte do movimento realizado no último domingo se deve ao pastor. No entanto, reconheceu que o líder tem um comportamento mais impetuoso.

— Malafaia é duro com muita gente. O movimento em São Paulo, em grande parte, se deve a ele. Ele tem o seu comportamento, e eu, comparado ao Malafaia, sou bombeiro. Ele fica indignado com muita coisa.

Em seguida, Bolsonaro afirmou que o pastor não “sabe como funciona o Parlamento” e tenta resolver as questões “na base da pancada”, o que, em sua avaliação, não dá certo.

— Malafaia é bastante verdadeiro e objetivo, mas ele não sabe como funciona o Parlamento, com todo respeito. É um líder evangélico, cristão, psicólogo, mas não teve a vivência que eu tive de 28 anos de Parlamento, 2 como vereador e 4 na presidência. Não dá para fazer as coisas na base da pancada. Explica a rosca e não vai chegar a lugar nenhum. Ele queria que se mantivesse as obstruções, mas obstrução tem limite.

Desde o último domingo, o pastor tem enfrentado Hugo Motta. Em seu discurso na Avenida Paulista, Malafaia afirmou que Motta tem tentado frear a pauta da anistia aos envolvidos nos eventos de 8 de janeiro. Na terça-feira, ele fez um vídeo para as redes sociais acusando Motta de priorizar projetos que, supostamente, favoreceriam o Judiciário.

Nesta quarta, Motta ouviu pressões de Bolsonaro em relação aos votos do seu próprio partido para o projeto de lei que anistia os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, durante encontro nesta quarta-feira. Bolsonaro disse a Motta que espera ter a totalidade dos votos do Republicanos para a matéria e lembrou que em São Paulo, reduto eleitoral de um dos seus principais aliados, o governador Tarcísio de Freitas, o Republicanos não entregou assinaturas valiosas à urgência da proposta, como a do deputado Celso Russomanno.

Embora seja do PL, Bolsonaro exerce influência sobre boa parte da bancada do Republicanos na Câmara e no Senado. Alguns dos principais nomes do partido, como os senadores Hamilton Mourão (RS) e Damares Alves (DF), além do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já se posicionaram pela anistia. O presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, tem sido pressionado a trabalhar pelo número máximo de assinaturas, mas questiona se este seria o melhor momento para pautar a anistia. Por isso, Bolsonaro passou a recorrer a Motta.


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