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Atriz fala de ‘Matilde’, espetáculo em que contracena com o ator Ivan Mendes, e fala da saudade que sente do humorista: ‘Ele não dormia sozinho, quando Thales viajava, pedia para eu ir para a casa dele’
Foi no sótão da casa da tia de Fábio Porchat que ele e Paulo Gustavo apresentaram pela primeira vez “Infraturas” a Malu Valle. A então dupla de estudantes de teatro da Casa de Artes de Laranjeiras (CAL) insistiu para mostrar o trabalho à atriz na esperança de que ela os dirigisse. Mas Malu só pensava em dar o fora daquela que poderia ser uma grande roubada. “E se fosse chato?”, era só o que pensava, enquanto prometia aos meninos indicar um outro nome.
Mas bastou vê-los em cena por alguns minutos para o jogo virar. A gargalhada começou a rolar solta, o feeling gritava a certeza de que estava diante de dois gênios criativos e que, sim, era melhor tomar a frente daquele espetáculo que seria um sucesso. O que acabou deixando sua empresária de cabelo em pé, já que pensara em projetos mais ambiciosos para uma atriz em alta, que havia acabado de integrar uma novela das 20h (“Senhora do destino”).
Não teve jeito. Malu preferiu mergulhar na aventura daqueles meninos com R$ 7 mil no bolso e alguns esquetes na cabeça. Passaram a ensaiar na casa da atriz, e tudo tinha que terminar a tempo de Paulo pegar a última van para Niterói. Era um momento de vacas magras para o humorista, que, mesmo assim, chegava no QG com café, pão e manteiga debaixo do braço.
— Quando veio o sucesso, eu brincava: “Paulo, sua vida não mudou da água pro vinho, sua vida mudou da água da Cedae para Dom Perignon” — diz a atriz, às gargalhadas, lembrando momentos divertidos ao lado do amigo, que morreu de Covid em 2021.
Mesmo antes de conhecê-la pessoalmente, Paulo, que havia se tornado fã ao vê-la em cena na comédia “Nada de pânico”, dizia a todos que seria dirigido por Malu no teatro. “Mas você a conhece?”, perguntavam. “Não, mas vou conhecer e ela vai me amar”, respondia. Não deu outra. Os dois se bateram e não se largaram mais. Além de trabalharem juntos na tal peça do sótão, responsável por projetar a dupla de humoristas, e nos três filmes “Minha mãe é uma peça”, Malu virou uma das melhores amigas de Paulo.
Foi das últimas a trocar mensagens com ele, minutos antes de o ator ser intubado. “Malu, meu amor, vou ser intubado em meia hora, vai ser melhor pra mim, reza. Eu te amo”, diz a derradeira frase do ator à amiga, que ainda guarda o texto arquivado no Whatsapp. Malu diz que que morreu um pouco junto com ele. Sente saudades imensas do cotidiano de intimidade e das noites que passaram juntos. Paulo não dormia sozinho. Quando o marido, Thales Bretas, viajava, ele apelava para ela.
— Pedia para eu ir dormir com ele. Eu dizia: ‘Mas não vou dormir na sua cama, quero ir para o quarto de hóspedes”. E ele: “Então, eu também vou”. As pessoas me param na rua para dizer que olham para mim e lembram dele.
A dor está guardada do lado esquerdo do peito, mas Malu dá jeito de cantar para subir. E também de materializar um pouco daquela presença, celebrar a existência e o legado de Paulo. Tanto que no próxima quinta-feira, ao lado do ator Ivan Mendes, ela estreia “Matilde”, no CCBB. A peça foi idealizada por Paulo e 2015 especialmente para ela. Com o projeto, celebrariam 10 anos de amizade. A ideia era inverter os papeis: desta vez, ele a dirigiria. Não rolou. Agora, quem assume o posto é Gilberto Gawronski.
O texto, assinado por Julia Spadaccini, parte de uma prerrogativa pensada por Paulo e de algo que ele sempre teve como norte: falar para diferentes gerações. A história gira em torno de uma aposentada de 60 anos, que vê sua rotina pacata em Copacabana se transformar ao alugar um quarto para Jonas, um ator de 36 anos em busca da grande oportunidade. No palco, temas como envelhecimento, relações intergeracionais e os desafios da sociedade patriarcal.
Lançando mão da comédia satírica, recurso que Paulo Gustavo usava bastante para questionar estereótipos e preconceitos, Gawronski rega os personagens de deboche num texto que explora os medos e anseios de Matilde e Jonas. E, aí, tome reflexões sobre discriminação etária, estigmas sociais impostos às mulheres mais velhas e tabus sobre sexualidade e identidade na terceira idade.
— É super importante falar disso, né? A gente saiu daquilo que o gostoso era ter 20, 30 anos. Tudo bem, é. Mas também é gostoso ter 50, 60. O mundo é outro. A mulher de 30 seria a mulher de 60, 70 de outros tempos. Basta olhar as setentonas. A personagem não é uma “cocózinha” de Copacabana. Aliás, Copa é cheia de Matildes. Hoje, é raro uma mulher de 60 anos ser uma velhinha. Olha a Fernanda Torres no auge aos 59 anos — diz Malu, aos 67 anos de idade, 35 de carreira e há nove longe dos palcos.
A instituição casamento também é posta em xeque.
— A gente questiona, mas não de uma forma didática, babaca, sabe? É no desenvolvimento, no fluxo da história. É quase como se você estivesse tomando um tapa sem perceber. Várias coisas que falamos é muito da nossa vida mesmo. Acho que vai ter identificação boa com o público — acredita Ivan.
Seguindo o mote do espetáculo, que trata de relações intergeracionais e dos desafios da sociedade patriarcal que invisibiliza a mulher madura, Malu Valle segue refletindo como a relação com a idade mudou. Conta que sempre pensou na questão do tempo como um ganho, mas diz que não é fácil ter 67 anos.
— Quanto eu tinha 18, falava: “Vou ser uma mulher bacana quando tiver 40”. Tinha essa noção de que precisava de um tempo. Quando fiz 40, foi quase um début. Agora, estou com 67, e é como o Coelhinho da Páscoa e o Papai Noel. Penso: “Não é possível, alguém está me enganando”.
Embora não se sinta a idade que tem, ela reconhece seu próprio vigor. Conta que Paulo Gustavo sempre a comparava com Madonna.
— Quando ela fazia as loucuras dela, ele dizia: “Olhaí, é a Malu, mesma idade” (risos). Tem que ter aceitação. Não quero ficar com uma cara… A escolha é de cada um, mas tem pessoas que a gente nem sabe a idade que tem. Pode ser 30 ou 70 — analisa. — Hoje, minha maior função é ser atriz. Tive vida estudantil, feminista… Agora, minha militância é na arte. Falo dos assuntos no palco. A dificuldade de envelhecer, principalmente, entre as mulheres é grande. Mas e os homens? Brinco que não tem nada mais em baixa do que o hétero masculino, porque vai se achar assim… né?
Aos 39 anos, Ivan Mendes reconhece a precariedade de grande parte dos homens heterossexuais. Ele afirma que procura estar atento e forte, e conta que esse seu processo não é de agora.
— Comecei a pensar o comportamento masculino quando descobri que ia ser pai. Tenho uma filha de 18 anos. Tive a sorte de ter sido criado por homens conectados com o lado sensível do ser humano. Isso me trouxe a percepção de que todas as namoradas que tive até 20 anos, tinham problemas com o pai. Não queria que fosse assim com a minha filha. Pensava: “Não posso ser um desses caras”. Quando a gente é novo, tem tendência a repetir comportamentos. Foi aí que comecei a questionar.
Heterossexual, Ivan explica que enfrentou algumas barreiras e precisou ter coragem para bancar seu comportamento, que não se apoiava, necessariamente, numa virilidade “macha”:
— Tanto homens quanto mulheres ficavam sem entender se eu era homem mesmo. É preciso aceitar que a sensibilidade não é fragilidade e nem é característica apenas feminina. Tenho referências de mulheres fortes com um lado prático incrível; e homens com sensibilidade linda. Tenho amigos de mundos, classes e gêneros distintos que estão reconfigurando esse pensamento. E, aí, não entra nem esquerda e direita. Tem esquerdo-macho que se acha super alternativo, mas têm comportamento padrão de hétero top.
A questão do tempo também é um forte tema de “Matilde”.
— Falamos da importância de valorizar o agora, o tempo presente. Ninguém sabia que perderíamos Paulo Gustavo, por exemplo. Se soubéssemos teríamos aproveitado mais — acredita Ivan.
Falando em Paulo, quase todo mundo da equipe da peça tem uma história com ele para contar. Ivan chegou a dividir a mesma empresária com o humorista.
— Ele me dizia: “No dia que você virar gay, eu termino” — recorda rindo.
O produtor Caio Bucker lembra a vez em que chegou ao teatro a bordo de um carrão, e Paulo gritou: “Não falei que teatro dava dinheiro?”.
— Expliquei que o carro era do meu pai, mas ele nem quis saber: “Para com isso, teatro é foda!”, continuou.
A emoção de realizar algo que veio da cachola de uma pessoa que todos ali admiravam norteia a equipe, que faz o exercício contínuo de imaginar o que Paulo gostaria ou não de ver ao palco mas, ao mesmo tempo, busca identidade própria.
— O que a gente está fazendo é uma comédia dedicada a ele e não são situações para imitá-lo. Estamos equilibrando a nossa estética e trazendo memórias que estão grudadas no inconsciente do espectador que conheceu Paulo — resume Malu. — Ele está presente o tempo todo. São tantas as sincronicidades que dá a sensação de que está mexendo os pauzinhos dele. Às vezes, falo baixinho: “Paulo, você está aí?”.
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Projete sua mente ao futuro mais distante possível, porque o futuro devolverá essa projeção na forma de visões que, mesmo não sendo alcançáveis de imediato, ainda assim servirão de combustível para seguir em frente.