ECONOMIA
Mapeamento de novos produtos e regiões turísticas impulsionam geração de emprego e renda no país
23 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboGrandes festas populares e religiosas movimentam economia e ajudam a aumentar visitação. Governo estima criar 1 milhão de vagas formais no setor em três anos
Para crescer como destino turístico — tanto para visitantes estrangeiros quanto nacionais — o Brasil vem atuando em melhorias na estrutura de transportes, para aumentar a logística usada pelos viajantes, e em promoção de produtos e destinos.
A estratégia passa ainda por ampliar a divulgação de roteiros regionais e festas populares, perseguindo a meta de subir ao posto de país que mais atrai turistas na América do Sul até 2027, superando a Argentina, atual líder do ranking.
A estrutura turística interna é chave para essa indústria. A previsão é passar de 93 milhões de viagens domésticas este ano para 150 milhões em 2027. Segundo o ministro do Turismo, Celso Sabino, o investimento em hotelaria no país é crescente, há mais voos, enquanto o ganho de renda da população permite que mais pessoas possam viajar:
— Com mais voos, mais hotéis e dinheiro no bolso, o brasileiro está visitando mais o Brasil, conhecendo mais destinos turísticos nacionais — destacou.
Ele participou, na segunda-feira, de debate sobre turismo dentro da série “Caminhos do Brasil”, uma iniciativa de O Globo e Valor Econômico e da Rádio CBN, com patrocínio do Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações.
Essa rede colabora para a maior captação de estrangeiros. No ano passado, 5,91 milhões de visitantes internacionais desembarcaram por aqui e deixaram uma cifra recorde de US$ 6,9 bilhões (R$ 34,5 bilhões), de acordo com dados do Banco Central. O valor supera em 1,5% a maior arrecadação brasileira com o turismo estrangeiro até então, registrada em 2014, quando o país sediou a Copa do Mundo. Este ano, já são quase 5 milhões de visitantes internacionais até setembro.
— Isso indica que vamos bater recorde de turistas internacionais chegando ao Brasil e consequentemente devemos ter uma receita maior do que os quase US$ 7 bilhões de 2023 — disse o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo.
De agosto a dezembro são previstos 34,3 mil voos internacionais no Brasil, que vão ofertar 8,34 milhões de assentos, de acordo com o Ministério do Turismo. Se o Brasil chegar a 2027 com movimento anual de 8,1 milhões de turistas vindos do exterior, isso vai render ao país um faturamento de US$ 8,1 bilhões, estima o Plano Nacional do Turismo.
Mais emprego
Esse plano de voo para o Brasil prevê ainda a ampliação do mapa de municípios turísticos nos próximos anos, passando das atuais 312 para 400 cidades com potencial para turismo. Para se ter uma ideia, Uberaba (MG), Barra do Mendes (BA) e Irani (SC) entraram para o roteiro em 2023, visando fomentar a geração de emprego e renda no setor nessas localidades. No país como um todo, o objetivo é aumentar de 2 milhões para 3 milhões o número de postos de trabalho formais no segmento até 2027.
Grandes festas populares e religiosas são destaque para chegar lá, atuando como chamariz de visitantes não apenas para as cidades onde ocorrem como para outras em seu entorno. Estudo do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFEC-RJ), vinculado à Fecomércio-RJ, mostrou em março que os turistas nacionais e internacionais deixaram R$ 2,35 bilhões no Rio de Janeiro apenas durante o Carnaval deste ano.
Outro achado da pesquisa é o fato de que um terço dos entrevistados afirmaram que foram ou pretendem conhecer outras cidades fluminenses, destacando localidades como Búzios, Arraial do Cabo, Angra dos Reis, Cabo Frio, Paraty, Petrópolis e Niterói.
Com antecedência, passagem aérea mais barata
Já o Festival de Parintins (AM), segundo o governo do Amazonas, atraiu cerca de 120 mil turistas neste ano, ante 110 mil em 2023, e injetou mais de R$ 180 milhões na economia local, um aumento de 23,2% em relação a um ano antes. Quanto ao Círio de Nazaré, em Belém (PA), o fluxo de passageiros no Aeroporto Internacional da capital paraense foi 25% maior que no mesmo período de 2023.
Esse crescimento das viagens dentro do país se dá apesar da percepção de que o turismo é caro para os brasileiros. Segundo a presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Ana Carolina Medeiros, o motivo é a logística custosa, a depender da localidade.
— Turismo caro acontece principalmente naqueles destinos mais resguardados, em cidades pequenas do Nordeste. A gente tem essa trava, infelizmente — afirmou.
Ela adicionou que a entidade tem trabalhado, em parceria com o Ministério do Turismo, para facilitar o desembarque de turistas nessas regiões.
— Já quando falamos de turismo internacional o que se vê é que o nosso país é atrativo, pois o custo de vida é barato frente ao deles. A desvalorização cambial também ajuda — destacou Ana Carolina.
Sabino frisou que quem compra passagem aérea com antecedência garante bons preços. Um dos projetos que visam estimular o turismo nacional, com oferta de bilhetes mais acessíveis, é o Voa Brasil. Lançado pelo Ministério de Portos e Aeroportos no fim de julho, o programa, no entanto, tem atingido resultado abaixo do esperado. Até setembro, comercializou cerca de 12,5 mil bilhetes para 72 cidades. A meta é alcançar 3 milhões de assentos vendidos ao longo de um ano.
Cada trecho custa R$ 200 e pode ser adquirido por aposentados que recebem benefício do INSS e que não tenham viajado nos últimos 12 meses. Segundo o ministério, o Sudeste é a região que tem maior procura, com destaque para Rio de Janeiro e São Paulo.
Entre os bilhetes comercializados, 60% têm como destino pequenas e médias cidades, o que estimula a aviação regional. A expectativa do Ministério de Portos e Aeroportos é lançar a segunda etapa do programa no primeiro semestre de 2025, quando estudantes da rede pública de ensino serão beneficiados.
Conectividade no Norte
Segundo o Ministério do Turismo, o Brasil tem avançado na melhoria da conectividade aérea, tanto interna quanto externamente. Alguns exemplos são a retomada de voos da TAP entre Lisboa e Manaus (AM), a partir de novembro de 2024, favorecendo a chegada de visitantes à Amazônia brasileira.
Além disso, como um desdobramento do Programa “Conheça o Brasil: Voando” — parceria entre MTur, Ministério de Portos e Aeroportos e empresas aéreas, que busca facilitar a realização de viagens de brasileiros no país —, a Gol anunciou a expansão da oferta de voos em suas bases no Pará, nas cidades de Belém, Carajás, Marabá e Santarém. (Do Valor Econômico)