
VIVER A VIDA
A vida de Ana Loureiro já é uma festa, mas, no dia em que ela troca de idade, se transforma numa espécie de evento oficial no Lago Sul, onde reside.
Desde o dia em que chegou ao consultório, anunciou o quanto detestava aniversários. E não era um detestar tranquilo. A coisa era grande. Qualquer parabéns ou menção da data era capaz de acionar as lembranças mais dolorosas e fazê-lo reviver toda sorte de experiências duras que teve na infância. Ele cuidava para que isso não …
Desde o dia em que chegou ao consultório, anunciou o quanto detestava aniversários. E não era um detestar tranquilo. A coisa era grande. Qualquer parabéns ou menção da data era capaz de acionar as lembranças mais dolorosas e fazê-lo reviver toda sorte de experiências duras que teve na infância. Ele cuidava para que isso não acontecesse. Tentava. Se chegava a um trabalho novo, avisava da questão no RH, se se tornava mais próximo de alguém, contava sobre seu limite, no facebook, tratou de apagar de pronto a informação. Mas era difícil fazer funcionar. E ano após ano, escapavam os parabéns de tudo quanto era lado.
À medida em que avançávamos nas sessões, fui ouvindo seu relato sobre cada uma das vezes em que viu o tempo passar doído quando março se aproximava. Nasceu em março, no terceiro dia do mês, exatamente como eu. Nunca lhe contei sobre a coincidência, mas pensava nela vez por outra. Pensava em como tinham sido as minhas comemorações e na diferença da relação que tínhamos com a data. Eu gosto muito do meu aniversário. Parece besta, mas é quando sinto, de verdade verdadeira, a possibilidade de renovação.
Ontem, recebi uma mensagem sua e fiquei comovida. Já não nos falávamos há algum tempo e ele escreveu querendo voltar. Embora fosse alguém a quem sempre gostei bastante – mesmo – de escutar, não entendi imediatamente a razão do que senti. No fim da noite, li a coluna da Maria Ribeiro na Veja Rio, também coincidentemente mencionada esses dias por aqui. Bonito o texto. Ela dizia de sua mais nova desobediência. Propunha que nós passássemos a ignorar o calendário e inventássemos as nossas próprias datas. Para ela, era ano novo.
Esse não foi o único texto que li sobre um ano novo simbólico que vem visitando o imaginário (corre aqui Lacan) de alguns de nós ultimamente. Ainda na semana passada, ouvi de Babi Amaral o texto da Cris Lisbôa que trata do mesmo tema. Aliás, vocês conhecem essas duas? Se não, procurem conhecer. Tanta gente sabida que a gente encontra por aí, não é?
Toda essa enrolada pra dizer que sinto junto. Sinto com Maria, Babi e Cris que a vida está por recomeçar. Sinto que apesar de ser outubro, em mim, é março. Feliz ano novo para mim, para vocês e para elas. Para meu analisando desejo vida cheia. Cheia de sentido, de sentir, hoje e todos os dias. Desejo a desobediência da Maria e que se queimem todos os calendários. Boa semana queridos.
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quemmandaaquisoueu – Verdadesinconfessàveissobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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A vida de Ana Loureiro já é uma festa, mas, no dia em que ela troca de idade, se transforma numa espécie de evento oficial no Lago Sul, onde reside.
Você tá colhendo tudo que plantou com trabalho, empatia e respeito. Uma pessoa de verdade, de coração puro.
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Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…