COLUNAS

Masterchef chernobyl

Sei cozinhar não. Eu tento, juro que tento. Mas me saem assim uns 6 pratos, no máximo e tudo meio mais ou menos. Eu faço carbonara, tacos mexicanos, franguinho com purê de batata, bife na manteiga, arroz japonês, feijão preto, só que sem ser feijoada, panqueca doce e é meio que isso. Quando minhas filhas não estão em casa, passo a salada e grelhadinhos, almoço e jantar. No máximo um sanduíche de atum.

Essa semana elas estão aqui. Acabamos comendo um monte fora porque tive demandas extras e não houve muito tempo para o fogão. Cozinhei um total de três vezes. Na quarta-feira, o almoço foi a feijoada que não é feijoada. Rolou não, embora eu tenha até feito uma farofinha. Errei a mão na pimenta. Sem brincadeira, não sei o que aconteceu, fiz igualzinho a sempre. Ficou incomível. A menor foi na despensa buscar um pão de forma para intercalar as garfadas, só pra vocês terem uma ideia. Acabamos no queijo quente e leite com Nescau.

Pedi desculpas. Na sexta-feira, fiz tacos mexicanos. Comprei cream cheese, o queijo ralado fresquinho no super como elas gostam. Teve guacamole, tomate miúdo cortado na régua, salada, os tacos e a carne, claro. Errei a mão na pimenta de novo. Todo mundo nadando no queijo pra ver se compensava. Mas não tinha a menor condição. Fritei ovo. A maior matou a charada. É que coloquei a pimenta caiena no potinho que costumava guardar o tempero baiano. Aí, minha nossa.

Pedi desculpas. No domingo foi franguinho com purê de batata. Brilhei no purê. Pra não errar no franguinho, comprei um tempero pronto – orgânico, juro – que paquero há um tempão. Foi azeite, sal e o tempero. Só que o tempero pronto já tinha sal e vixe Maria! Todo mundo tomando suco pra ver se rolava. Assei pão de queijo.

Já ia pedindo desculpas quando lembrei que costumo errar pra menos. Menos sal, menos pimenta, menos limão. Ambas odiaram quando fiz o texto de que os desastres culinários eram, no fundo, boa notícia. Estamos radicalmente vivas nós três. Nos excessos, na honestidade de não insistir no erro, na liberdade de dizer ao outro o que incomoda, na tentativa de reparação. Sei lá. O plano pra semana é o quilinho daqui do bairro. Parece que terça é lasanha. Eba! Boa semana pra vocês, queridos. Tomara que venha gostosa e na justa medida do tempero.

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

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