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Melancia

27 de maio, 2024

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

Melancia

Digamos que você tenha acordado num domingo qualquer, comido um cogumelo e decidido ir ao cinema no Shopping Iguatemi. Calma, eu sei que você não é desses. Quem vai ao cinema no Shopping Iguatemi? Mas a gente tá brincando aqui, não vai te passar nada que você não dê conta.Vem comigo. Você acordou bem, contente, dormiu pedrinha em lençol de nuvem. Alguém te preparou café, pão torrado e um ovinho mexido, o ovo naquele ponto de “minha nossa senhora, como a vida é boa”. Diante dessa delícia, você saca a ideia do cinema, “queria te levar no cinema” e o alguém do café saca a do cogumelo, “quero. Será que valia a gente comer esse cogumelo antes do cinema?”. Comem lavando os pratos ainda.

Vocês iam no cinema de rua feito todo mundo. Mas aí que se atrapalham entre a porta, o elevador e o táxi e já no táxi se dão conta de que perderam o horário da sessão por uma hora e meia mais ou menos que “eita, esse ano tá voando”. A próxima sessão é a do Shopping Iguatemi. Pedem para o táxi entrar no estacionamento e seguir até o sétimo andar. O taxista obedece sem perguntar por que vocês não ficam na porta de entrada. E a partir daqui, acho que podemos seguir o exemplo do taxista. Pra que perguntar o porquê de tudo também, não é?

O elevador pára no sexto, no quinto, no quarto, onde vocês deveriam ter descido, no terceiro e no segundo. A cada andar entra uma mulher acompanhada de um homem com um casaquinho sobre o ombro. Tá frio, mas por alguma razão, os homens do Shopping Iguatemi não vestem seus casaquinhos. No terceiro, vocês já são oito dentro do elevador. Aí entram uma mulher e um homem com casaquinho e um filho no ombro com seu próprio mini casaquinho no mini ombro. Você acha a cena um pouquinho perturbadora e deixa vazar um “não” meio mais alto e mais rouco do que o seu não normal quando a dona dos acasacadinhos pergunta um “cabe?”. Ninguém escuta porque toda a população do elevador diz que cabe por cima de você. Ai a mulher pergunta pro mini homem, “qual é a frutinha do próximo andar?” Você não entende nada, mas depois o alguém do café te explica que cada andar é representado por uma fruta. Parece que o sétimo é melancia. Vocês decoraram pra não perder o carro na hora de voltar. O mini homem sabe as frutinhas de cor, embora a mulher tenha feito questão de esclarecer que “comer, comer mesmo, ele só come banana”. O coro dos acasacadinhos e suas mulheres ri coreografado.

Vocês conseguem se desvencilhar do elevador e andam cheios de pressa pelos corredores e escadas entre o segundo e o quarto andar. Vocês passam pelo terceiro andar sete vezes. Acham o cinema. O atendente é simpático de dar medo e cada dente dele equivalem a uns 3 seus. Vocês pagam o ingresso tentando evitar os dentes do atendente, mas ele é simpático, lembra? Sorri tanto quanto o povo do elevador. Vocês querem pipoca, Mentos e água. “Qual pipoca?”, o moço do balcão pergunta sem rir, você escuta, mas instala na cabeça uma outra pergunta, “será que esse não tem dentes?”. Ele tinha, mas o Mentos tava em falta. Você fica repetindo que sim com a cabeça, sem entender o que o cara tá perguntando e acaba levando um adicional de azeite trufado por R$27 para uma pipoca doce de chocolate. Vocês entram na sala. A pipoca é ótima, o filme também, mas na hora de voltar, vocês percebem que alguém roubou o carro.

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

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