Ministro quer divulgar ações fora da Corte; outros três colegas têm atuação frequente na plataforma
O ministro André Mendonça criou, no fim do mês passado, uma conta no Instagram, tornando-se o quarto integrante do Supremo Tribunal Federal (STF) a atuar na rede social. O volume de publicações cresceu nos últimos dias, com acenos do ministro principalmente aos evangélicos. Mendonça é pastor e o apoio de lideranças religiosas foi fundamental para sua aprovação ao STF.
A intenção de Mendonça, segundo o Globo apurou, é dar visibilidades às suas outras atividades, fora do STF, como palestras e pregações. Desde que tomou posse, no fim de 2021, o ministro tem adotado uma postura discreta, evitando entrevistas, e o objetivo seria suprir uma lacuna na comunicação.
Além de pastor, o ministro também atua como professor na Faculdade Mackenzie e na Universidade de Salamanca, na Espanha. No ano passado, fundou o Instituto Iter, ao lado do ex-ministro da Educação Victor Godoy, que disponibiliza cursos envolvendo temas do Direito, mas também em áreas como gestão e oratória.
Outros cinco ministros do STF têm contas no Instagram, mas apenas três deles são atuantes: o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, Flávio Dino e Gilmar Mendes. Nunes Marques tem um perfil, mas fez apenas uma publicação, enquanto Cristiano Zanin deixou de postar após virar ministro.
A rede passou a ser a mais utilizada pelos ministros da Corte desde o ano passado, após eles diminuírem sua participação no X, em meio a embates da plataforma com o STF.
A primeira publicação de Mendonça na nova conta ocorreu no dia 29 de março, com trecho de uma fala sobre a necessidade de esperar o tempo de Deus. Desde domingo, quatro novas postagens foram feitas, sendo três delas com referências religiosas.
Mendonça esteve no Maracanã no domingo, acompanhando o jogo entre Fluminense e Santos, e publicou fotos com jogadores dos dois times, incluindo Neymar. “Seja exemplo, então Deus fará a obra”, escreveu para o atleta santista. Também divulgou foto de um almoço com o poeta Carlos Nejar, ressaltando que ele é o “único evangélico membro da Academia Brasileira de Letras”. A publicação mais recente fala sobre o direito à educação, ressaltando que é previsto na Constituição.
O ministro também tem uma conta no X desde janeiro de 2019, mas o perfil era mais usado quando ele integrou o governo de Jair Bolsonaro, como advogado-geral da União e ministro da Justiça. Depois que ele foi para o STF as publicações se tornaram esporádicas, e a última ocorreu em agosto do ano passado, comentando a morte do apresentador Silvio Santos.
A indicação de Mendonça ao STF, feita por Bolsonaro em 2021, foi uma forma do ex-presidente cumprir a promessa de escolher alguém “terrivelmente evangélico” ao STF. O ministro é pastor da Igreja Presbiteriana de Pinheiros.
Na época, no entanto, o então presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre, hoje presidente da Casa, tinha resistência ao seu nome e segurou a votação por mais de quatro meses, um tempo recorde. Lideranças evangélicas ajudaram a pressionar pela análise do nome de Mendonça.
A então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que também é evangélica, foi uma de suas principais defensoras. Os dois oraram juntos enquanto ocorria a votação no plenário do Senado em que ele acabou aprovado.
Outro aliado importante do ministro foi o pastor Silas Malafaia — que já fez críticas públicas a Mendonça, mas que diz que continua sendo seu amigo. Malafaia considera que a exposição da “convicção religiosa” do magistrado faz parte de outros posicionamentos de integrantes do STF:
— Hoje os ministros do STF estão se expondo de diversas formas. O André resolveu expor sua convicção religiosa — afirmou ao Globo, ressaltando que não viu as publicações.
Os outros ministros do STF que estão no Instagram também usam a rede social para divulgar principalmente participação em eventos acadêmicos. Os magistrados também aproveitam, contudo, para emitir posicionamentos públicos. Em fevereiro, por exemplo, Flávio Dino fez uma defesa pública do colega Alexandre de Moraes, em meio a críticas por decisões suas envolvendo plataformas digitais.
Há duas semanas, Barroso divulgou trecho de uma fala sua durante a sessão no plenário do STF que julgou a chamada ADPF das Favelas, sobre regras para operações policiais em favelas do Rio de Janeiro, na qual afirma que a Corte se solidariza com as mortes de policiais.
Dino lidera entre os números de seguidores: 1,4 milhão. Barroso vem em seguida, com 263 mil. Zanin tem 96 mil seguidores em sua conta, onde não publica desde 2022. Mesmo sem postagens, Nunes Marques tem 18 mil seguidores. Gilmar Mendes tem 5,6 mil, enquanto Mendonça reuniu 1,8 mil nas primeiras semanas.
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