VARIEDADES

Morre aos 84 anos Cacá Diegues, diretor de ‘Bye bye Brasil’ e ‘Deus é brasileiro’

14 de fevereiro, 2025 | Por: Agência O Globo

O cineasta sofreu complicações de uma cirurgia na próstata

O diretor, produtor e escritor Cacá Diegues faleceu nesta sexta-feira aos 84 anos. Um dos fundadores do movimento do cinema novo, ele também foi imortal da Academia Brasileira de Letras. O cineasta sofreu complicações de uma cirurgia na próstata. Ainda não há informações sobre velório e enterro.

Nascido no dia 19 de maio de 1940, em Maceió, Alagoas, Carlos José Fontes Diegues se mudou ainda pequeno com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito na PUC, antes de ser completamente tomado pelo cinema.

São Paulo (SP) 14/02/2025 - Morre cineasta Cacá Diegues, aos 84 anos, no Rio de Janeiro.
Foto: Cacá Diegues/Instagram
Cineasta Cacá Diegues — Foto: ©CacáDiegues/Instagram

Ativo integrante do Centro Popular de Cultura (CPC), participa da única produção cinematográfica realizada pelo órgão: “Cinco vezes favela” (1961). À frente do episódio “Escola de samba, alegria de viver”, ele divide a direção do longa ao lado de Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias e Leon Hirszman.

O primeiro longa solo veio dois anos depois, com “Ganga Zumba” (1963), estrelado por Antonio Pitanga e Léa Garcia, e que, segundo a “Enciclopédia do cinema brasileiro”, foi o primeiro filme nacional com protagonistas negros.

Como outros cineastas de sua geração, Cacá teve o início de sua trajetória marcado por obras políticas e com preocupação social. Em “A grande cidade” (1966), centrou sua atenção na questão do imigrante na grande metrópole.

Com o aumento da repressão no período da ditadura militar no país, Cacá deixa a realidade de lado e investe na metáfora em “Os herdeiros” (1969), voltando ao Brasil da revolução de 1930 para contar a história de um jornalista que entra, através do casamento, para uma família produtora de café e, aos poucos, vai revelando ambições políticas. A metáfora, no entanto, não caiu bem com o governo militar, que censurou o filme.

Ainda em 1969, aproveitando um convite para participar do Festival de Veneza, Cacá deixa o Brasil e se radica em Paris, na França, contando com a companhia de sua esposa à época, a cantora Nara Leão. Após dois anos vivendo fora, retorna ao país em 1971, e realiza dois filmes aparentemente mais leves e menos ambiciosos, embora com claras conotações políticas. Assim nascem “Quando o carnaval chegar” (1972), estrelado por Nara, Chico Buarque, Maria Bethânia, Hugo Carvana e Antonio Pitanga, e “Joanna Francesa” (1973), com Jeanne Moreau.

Os anos seguintes marcariam o período de maior sucesso comercial do realizador. Em 1976, lança “Xica da Silva”, com Zezé Motta, em que retorna ao tema da escravidão13 anos depois de “Ganga Zumba”. O filme foi visto por 3,2 milhões de espectadores no Brasil, segundo dados da Ancine. Na sequência, realiza “Chuvas de verão” (1978), com Jofre Soares e Míriam Pires, e “Bye Bye Brasil” (1980), com José Wilker, Betty Faria e Fábio Jr.. Com trilha sonora de Chico Buarque, o longa participou da mostra competitiva do Festival de Cannes.

Como toda produção da época, Cacá sofre com as ações do governo Collor que desmantelaram o cinema nacional. No período, acaba realizando duas produções lançadas diretamente na TV: “Dias melhores virão” (1989) e “Veja esta canção” (1993), coproduzido por Zelito Viana. Em 1996, lança “Tieta do Agreste”, adaptação de Jorge Amado estrelada por Sonia Braga, Marília Pêra e Chico Anysio, e vista por 500 mil pessoas, número importante no período. Dois anos depois, dirige “Orfeu” (1998), com Toni Garrido e Patrícia França, uma adaptação de Vinícius de Moraes.

Lançado em 2003, com Antônio Fagundes e Wagner Moura, “Deus é brasileiro” marcou o segundo maior sucesso comercial do realizador. O longa vendeu 1,6 milhão de ingressos. Em 2023, vinte anos depois, Cacá filma a continuação “Deus ainda é brasileiro”, que segue inédito. Seu último filme lançado comercialmente foi “O grande circo místico” (2018), exibido no Festival de Cannes.

Com o passar dos anos, o cinema de Cacá foi se destacando mais pelo afeto do que pela reflexão, tão presente nos primeiros passos. Ainda assim, o realizador nunca deixa de ser essencialmente político em sua luta pela inclusão e pela diversidade. Nos anos 1990, é fundamental na idealização do Núcleo de Cinema do Nós do Morro. Já em 2010, produz “5 X Favela, agora por nós mesmos”, o primeiro longa brasileiro totalmente concebido, escrito e realizado por jovens cineastas moradores de favelas do Rio.

Do casamento com Nara, Cacá teve os filhos Isabel e Francisco Diegues. O diretor e a cantora se separaram em 1977, 12 anos antes da morte da artista. O cineasta volta a se casar em 1981, com Renata Almeida Magalhães, produtora com quem iria realizar boa parte de seus filmes. Os dois tiveram a filha Flora Diegues, falecida aos 34 anos, em 2019, vítima de um câncer.

Eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 2018, Cacá Diegues sucede o amigo e colega cineasta Nelson Pereira dos Santos na cadeira 7. Em seu discurso de posse, em abril de 2019, destaca:

— Não preciso explicar o que significa, para mim, ocupar a cadeira que foi de Nelson Pereira dos Santos, nessa Academia. Às vezes, penso até que pode ter sido uma ousadia desavergonhada de minha parte, ter-me candidatado a ela. E peço licença para acrescentar que, mexe também com meu coração e minha excitação, pensar que era esse mesmo número 7 o que víamos às costas de um dos maiores gênios barrocos de nossa história, o incomensurável Garrincha.


BS20250214114052.1 – https://extra.globo.com/entretenimento/noticia/2025/02/morre-aos-84-anos-caca-diegues-diretor-de-bye-bye-brasil-e-deus-e-brasileiro.ghtml

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