ECONOMIA

Mulheres dedicam quase 10 horas semanais a mais do que homens a cuidados não remunerados, mostra estudo

19 de novembro, 2025 | Por: Agência O Globo

Pesquisa revela ainda que metade das mães deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho

Estudo revela que metade das mães deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho
Estudo revela que metade das mães deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho — Foto: Divulgação/MDS

As mulheres dedicam, em média, 9,8 horas a mais por semana do que os homens ao trabalho de cuidado não remunerado no Brasil. A diferença é ainda maior entre as mulheres negras, que destinam cerca de 22,4 horas semanais a essa atividade. Os dados são de um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

Segundo o levantamento, nas áreas rurais a diferença de gênero é maior do que no meio urbano. No campo, as mulheres realizam 12,4 horas a mais de trabalho de cuidado do que os homens, o equivalente a mais que o dobro.

O estudo, intitulado Políticas para a Corresponsabilidade no Mundo do Trabalho, apresenta um panorama dos impactos das responsabilidades familiares na vida profissional dos trabalhadores. Luana Pinheiro, diretora do Departamento de Economia do Cuidado do MDS, avalia que a sobrecarga de cuidados limita a participação das mulheres no mercado de trabalho, ao afetar o acesso ao emprego, à formação profissional e à progressão na carreira, perpetuando desigualdades estruturais.

— As jornadas de trabalho longas, com pouca flexibilidade, dificultam a compatibilização da vida pessoal, familiar e profissional — reforçou a diretora

Metade deixa mercado após nascimento do filho

A nível global, as mulheres realizam 76,2% de todo o trabalho de cuidado não remunerado, dedicando 3,2 vezes mais tempo do que os homens. Isso significa que, 606 milhões de mulheres em idade ativa trabalham em tempo integral em atividades de cuidado não remunerado, em comparação com 41 milhões de homens.

O estudo indica ainda que metade das mulheres deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho. Já os homens, em média, aumentam seus rendimentos no mesmo período.

Diante desse cenário, a ampliação das licenças maternidade, paternidade e parentais — com uso equitativo entre homens e mulheres — é apontada como uma medida essencial para reverter o quadro.

— A corresponsabilidade no cuidado é um pilar fundamental para a construção de sociedades mais justas e igualitárias. Sem ela, não há como garantir trabalho decente para todas as pessoas — diz a especialista sênior de Gênero e Não Discriminação do Escritório Regional da OIT, Paz Arancibia.

Caminhos

A pesquisa também destaca a importância da Convenção nº 156 da OIT, que trata de trabalhadores com responsabilidades familiares e propõe medidas para garantir a conciliação entre trabalho e cuidado, sem discriminação ou penalizações no emprego. A Convenção já foi ratificada por 13 países da América Latina e do Caribe e, no Brasil, está em tramitação no Congresso Nacional.

O estudo aponta caminhos para transformar a realidade de trabalhadores com responsabilidades familiares no país. Entre as propostas estão políticas integradas que assegurem o direito ao cuidado, a ampliação dos serviços públicos de assistência no território e medidas que incentivem a corresponsabilidade entre homens e mulheres.


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