
VIVER A VIDA
A vida de Ana Loureiro já é uma festa, mas, no dia em que ela troca de idade, se transforma numa espécie de evento oficial no Lago Sul, onde reside.
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
Sonhei que estava no banco de trás da van escolar de minhas filhas usando o uniforme do Dom Expedito Lopes, o colégio que frequentei na educação infantil. Em corpo de adulta, eu me sabia criança. Vestia saia plissada cinza com camisa rosa, gola e manga cinzinhas da cor da saia, meião branco até o joelho e sapato Vulcabrás. Lara e Sofia de roupa normal – nunca precisaram usar uniforme – não estranhavam a inadequação de minha presença. Éramos amigas.
Na época que as meninas iam de vanzinha pra escola (tinham uns 6, 4 anos) minha irmã costumava contratar um animador de festa pros aniversários de meus sobrinhos que se chamava Lulão. O nome do motorista da van era Lula e já no primeiro dia, num medo infantil de soltar as crianças com aquele moço, mandei um “qualquer coisa, por favor, me liga, Lulão”. Lara e Sofia, que já o conheciam da escola, me olharam com cara de “que intimidade é essa, mulher?”.
Cometido o engano, chamei Lula de Lulão até as duas crescerem o suficiente pra fazer o trajeto andando. Dar o braço a torcer definitivamente não é um esporte que pratico com facilidade. Me fiz de mãe informal e tentei como pude fazer o apelido do motorista pegar entre as outras mães pra não sair de doida sozinha. Não pegou, claro.
Tenho pensado sobre isso e talvez esteja aí a razão do sonho. Observo a dificuldade que tenho de “voltar pra trás” desde a época do uniforme do Dom Expedito Lopes e isso é pra lá de péssimo. Taí uma coisinha que a gente faz o tempo todo: mudar de ideia. Hoje cedo escutava uma analisanda que anda às voltas com um desejo antigo que se avizinha. Ela quis, quis muito, o que lhe parecia quase impossível. E agora que está na esquina de conseguir o que quis, enfrenta o dilema de dizer pra si que não quer mais. Um medo danado de perder o que, para ela, a define como quem é.
Uma outra analisanda, a primeira do dia de hoje, me contou rindo de mostrar todos os dentes de uma figurinha que recebeu no celular. Dizia assim: não sabendo que era impossível, foi lá e soube. Me contava de um desejo cultivado e não realizado. Foi bonito vê-la brincar com a própria impossibilidade. É o que o sonho me convida a fazer com mais frequência. Não adianta insistir, Lulão nunca vai ser Lula. Estendo o convite a vocês também. E quem tiver essa figurinha, me manda, por favor? Boa semana, queridos.
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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A vida de Ana Loureiro já é uma festa, mas, no dia em que ela troca de idade, se transforma numa espécie de evento oficial no Lago Sul, onde reside.
Você tá colhendo tudo que plantou com trabalho, empatia e respeito. Uma pessoa de verdade, de coração puro.
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