COLUNAS

Não sente raiva de ninguém

28 de janeiro, 2025 | Por: Roberta D’Albuquerque

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

As férias acabaram. Foram bonitos esses dias. Não o bonito do cenário, do cheiro de protetor solar e do não saber se é segunda, quinta ou sábado. Esse também, claro. Mas teve um bonito maior. A viagem foi dividida em dois tempos. No primeiro, fomos minhas filhas, amigos, meu namorado e eu para Alagoas. Alugamos uma casinha na beira da praia e vivemos de água, areia, sol e música por uma semana. Delícia, não preciso nem dizer. No segundo, fomos essa galera toda (éramos 8) pra Pernambuco.

Nenhum dos paulistinhas conhecia a terra dos altos coqueiros, nenhum deles conhecia a minha família. Era um evento importante, tu entende? O de apresentar os amores de um lado aos amores do outro. Parte de mim foi de peito aberto: vão se gostar. Parte de mim guardava um 0,5% de dúvida. Não vou te deixar tenso, digo logo que deu tudo certo. Mas é que tudo certo é pouco.

Chegamos em um domingo à noite (desse dia eu estava sabendo) e minha mãe montou uma ceia nordestina pra receber as visitas. Passei a vida a cuscuz, queijo coalho, munguzá e bolo de rolo, mas alguma coisa naquela noite fez o gosto ultrapassar a barreira do gostoso e eu sentia como se cada pedacinho do jantar me acarinhasse por dentro. Não vou descrever todas as refeições que a minha mãe botou na mesa porque acho até maldade ouvir falar da comida de Ana Maria sem poder prová-la. Mas te digo que aplaudimos ao fim de cada uma delas.

Que fomos a Olinda no fim de uma tarde e quando escureceu, cruzamos o ensaio de uma orquestra de frevo, que cruzamos também um maracatu e comemos tapioca no alto da Sé. Te digo que navegamos o Capibaribe como se o Recife inteiro fosse nosso. Entramos no mar de Boa Viagem só até a canela no respeito absoluto aos tubarões e às nossas próprias canelas. Visitamos o Brennand que deu tempo de visitar e o povo ficou meio passado com o tamanho da coleção. Ouvimos Reginaldo Rossi e Eddie e Mundo Livre e Academia da Berlinda e tudo de muito e de bom. Tudo de muito e de bom.

Mas teve uma noite específica que a gente foi para o centro da cidade ver o Boi Marinho. Quando convidaram as crianças pro terreiro e minha irmã e sobrinha entraram na roda dançando do jeito que só dançam os pernambucanos, eu chorei. Pode ser que tenha sido a imagem mais bonita que eu vi nos últimos anos. As visitas e os parentes se adoraram, Recife se amostrou como poucas cidades sabem fazer e eu me senti tão dentro daquele carnavalzinho, minha gente.

Tão, mas tão dentro de mim. Chega o mundo parou um pouquinho pra eu perceber, sabe? A música que cantavam nessa hora dizia assim: Como é bom a gente amar, como é bom amar alguém, quando a gente tá amando não sente raiva de ninguém. Pronto, pra mim, o ano começou. Tomara que tenha começado nessa chave pra vocês também. Bora no amor. Boa semana, queridos.

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

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