Sucesso nos anos 90, a novela “A viagem” voltou ao ar na TV Globo nesta semana. A nova atração do “Vale a pena ver de novo” teve um elenco estrelado, com nomes como Antonio Fagundes, Mauricio Mattar, Guilherme Fontes, entre outros. Mas um deles foi especialmente escalado para a trama: o da atriz Christiane Torloni.

Isso porque ela estava longe das novelas havia três anos, depois da morte trágica do seu filho Guilherme, aos 12 anos, em 1991, e retornou justamente nesta novela, que tem o espiritismo de Allan Kardec como tema. Na ocasião, Christiane perdeu o controle do seu carro na garagem de casa, e o veículo caiu de uma altura de quase 5 metros. O adolescente teve traumatismo craniano e não resistiu aos ferimentos. Ela e Leonardo, seu outro filho, tiveram apenas escoriações. Os dois gêmeos são filhos do seu relacionamento com o diretor e ator Dennis Carvalho.

“O mistério do amor é maior que o mistério da morte. Está lá em ‘A viagem’, e vai estar lá na história do Chico Xavier. A capacidade do amor ultrapassar as dimensões da nossa humilde, oblíqua e míope compreensão da vida”, disse a atriz em entrevista para o “Memória Globo”.

Cena emblemática

Com a perda trágica, ela pensou em desistir da carreira e foi morar em Portugal, até a produção de “A viagem”, de 1994. Pouco antes do convite, ela recebeu um livro do cantor português Roberto Leal, que a queria introduzir na doutrina espírita. Em um momento difícil, a novela foi importante para o luto da artista.

“A primeira fase da novela é muito amorosa, muito pra cima, mas quando o Alexandre (Guilherme Fontes) morre e tem a cremação do corpo, isso foi muito difícil para mim. Diná (personagem da atriz) era aquela irmã quase mãe do Alexandre”, disse ela, em uma live do Canal Viva.

Durante essa mesma transmissão para o Canal Viva, a atriz Lucinha Lins, que interpretou Estela, a irmã de Diná (Christiane) na novela, lembrou ainda um momento bonito daquela gravação.

“Christiane, você lembra que nessa cena apareceu uma borboleta? Estávamos no estúdio, um lugar que costuma ser muito frio, e apareceu uma pequena borboleta amarelinha, que pousou numa das extremidades do caixão, em frente a você. A cena parou, tiraram a borboleta, mas ela voltou por duas ou três vezes e sempre vinha na sua direção. Eu me senti recebendo uma proteção, uma luz que jamais esquecerei”, recordou a atriz.

Convite enganoso

Christiane já relembrou também que o convite para fazer “A viagem” feito pelo diretor Wolf Maya foi pensado especialmente para ela aceitar. Na verdade, valendo-se de umas mentiras…

“Eu estava morando fora quando o Wolf me chamou. E ele mentiu para mim, dizendo que o Fagundes já tinha aceitado e que era uma comédia. Quando você olha ‘A viagem’, é engraçada no começo porque a personagem era insuportável. Então, não me arrependo”, disse ela, em entrevista ao videocast Novelão, do jornal O Globo.

No mesmo programa, a atriz também recordou como o trabalho foi importante para ela.

“Há momentos em que as obras vêm para acalmar um pouco o coração das pessoas. Uma das coisas que eu percebi em “A viagem” foi um feedback em locais como hospitais, asilos e orfanatos. A gente recebia muitas cartas. Era impressionante! Tem muita gente abandonada no mundo. A novela fala desse consolo na alma, de você não estar sozinho”, completou.

Bastidores sobrenaturais

Torloni já relembrou ainda acontecimentos sobrenaturais que vivenciou no início da trama. Em entrevista ao programa Conversa com Bial, a atriz contou que estava morando em um apartamento antigo provisoriamente, naquela época. Quando chegava em casa, dizia que presenciava coisas caindo e luzes acendendo ou apagando.

“Falei: ‘Wolf, a gente pediu licença para fazer esse trabalho?’. Porque acredito nessas coisas. Quando a gente vai trabalhar com coisas reais, você tem que fazer uma mentalização. Falei: ‘Preciso fazer alguma coisa, estou tão cansada, chega na hora de dormir e a casa vira, as coisas caem e tal’. Aquilo começou a me incomodar mais do que assustar. Eu fiquei quietinha lá, eles oraram, me concentrei, e parou”, recordou a atriz.

Conexão com a autora

A atriz conta ainda que sente uma conexão especial com Ivani Ribeiro, autora da novela. Ela morreu em 1995, logo depois da novela “A viagem” ir ao ar. Mas Torloni também atuou em “A gata comeu”, de 1985, como a personagem Jô Penteado.

“A gente não pode ter medo, na vida, de aceitar os desafios. Acima de tudo, você tem que estar muito preparado e atento para as surpresas que vêm para sua vida. Porque às vezes sua mente e seu espírito já estão naquele lugar, você só precisa chegar corporalmente lá. Em muitos dos trabalhos que fiz na minha vida eu não era a primeira opção. Ao longo do trabalho, fui sabendo que não era a primeira opção. Tem um ditado que os meus pais usavam: ‘O que é do homem o bicho não come’. Nesse sentido, se voltarmos um pouco, eu fiz ‘A gata comeu’, que também era um texto da Ivani Ribeiro. Então, tem uma conexão com a Ivani que é muito misteriosa. Todas as interferências que essa autora fez na minha vida, e eu não tive contato pessoal com ela… ‘A gata comeu’ também não era para eu ter feito. Houve toda uma mobilização para que eu aceitasse. Eu não estava querendo trabalhar com aquelas pessoas, para mim era tudo errado naquele momento”, avaliou Torloni também no videocast Novelão, do jornal O Globo, em entrevista para à jornalista Anna Luiza Santiago.

BS20250513070115.1 – https://extra.globo.com/entretenimento/noticia/2025/05/novela-a-viagem-marcou-volta-de-christiane-torloni-a-tv-apos-perda-do-filho-o-amor-ultrapassa.ghtml