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Ovário policístico: composto de planta medicinal é nova alternativa para tratar a síndrome, diz estudo na Science

8 de julho, 2024 / Por: Agência O Globo

Em testes iniciais, artemisininas melhoraram sintomas da doença, que afeta grande parte das mulheres em idade reprodutiva e tem opções limitadas de tratamento

Ovário policístico: composto de planta medicinal é nova alternativa para tratar a síndrome, diz estudo na Science
Ovário — Foto: FreePik

Compostos derivados de uma planta medicinal chamada de Artemisia annua podem ser uma nova alternativa para o tratamento de síndrome dos ovários policísticos (SOP), um dos distúrbios endocrinológicos mais comuns entre mulheres em idade reprodutiva, afetando de 8% a 13% delas segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em estudo publicado na revista científica Science, uma das mais prestigiosas do mundo, cientistas da Universidade Fudan, em Xangai, relataram resultados positivos no uso das artemisininas para o alívio de sintomas da doença entre camundongos e pacientes humanos.

O trabalho, embora pequeno, revela um novo caminho de tratamento para a SOP, cujas alternativas hoje são limitadas. As artemisininas já são usadas na medicina contra a malária. Porém, estudos anteriores dos pesquisadores já haviam indicado uma ação em mecanismos metabólicos do organismo, por isso o interesse contra distúrbios endocrinológicos.

As causas da SOP não são tão bem definidas, mas sabe-se que há uma relação com níveis elevados da produção de testosterona pelas pacientes nos ovários. A doença está associada a uma ampla gama de impactos na saúde, incluindo desequilíbrios hormonais, cistos no ovário, períodos menstruais irregulares, ovulação prejudicada e, frequentemente, infertilidade.

No estudo com camundongos, os cientistas descobriram que as artemisininas atuaram induzindo a degradação da CYP11A1, uma enzima crucial para a produção da testosterona. Com isso, os animais tiveram melhorias na produção excessiva do hormônio, na regularização dos ciclos e na fertilidade.

Em seguida, os pesquisadores decidiram avaliarr o composto com 19 pacientes humanas para saber, de forma inicial, o efeito terapêutico. Para isso, foi usado o diidroartemisinina, um remédio comum para malária. Em 12 semanas, o tratamento levou a uma redução significativa dos principais biomarcadores da SOP e a uma maior regularidade dos ciclos menstruais, sem efeitos colaterais.

“Embora sejam necessários mais estudos para entender completamente os efeitos a longo prazo e para otimizar as estratégias de dosagem para maximizar os resultados terapêuticos, a descoberta das artemisininas como remédios eficazes para a SOP representa, sem dúvida, uma nova abordagem promissora para o desenvolvimento de terapias específicas que potencialmente mudarão o cenário do tratamento da SOP”, avaliou a pesquisadora do departamento de Fisiologia e Farmacologia do Instituto Karolinska, na Suécia, Elisabet Stener-Victorin.

Stener-Victorin não participou do novo estudo, mas publicou um artigo na Science junto à publicação em que comentava os seus resultados. Também com um olhar positivo, a pesquisadora da Universidade da Extremadura, da Espanha, que também não estava envolvida com o novo trabalho, destacou que os experimentos foram “meticulosamente conduzidos”:

“Essa brilhante pesquisa reforça o futuro promissor na pesquisa, no desenvolvimento e na aplicação clínica de extratos de plantas em distúrbios reprodutivos femininos, que demonstram experimentalmente maior eficácia e segurança do que os tratamentos convencionais. Nesse caso, estaríamos falando também do reposicionamento de um medicamento antimalárico para uso na saúde da mulher”, disse em comunicado sobre o estudo.

Ao jornal britânico The Guardian, Channa Jayasena, professora clínica sênior do Imperial College London, no Reino Unido, celebrou ser “um tremendo avanço” e algo “muito bem-vindo”, especialmente no contexto em que “a saúde das mulheres tradicionalmente não recebem a mesma atenção que as doenças cardíacas e o câncer.”

Agora, para que o medicamento de fato seja reposicionado para o tratamento da SOP são necessários estudos clínicos maiores que confirmem em larga escala a sua segurança e eficácia em comparação com o uso de um placebo.

De acordo com a OMS, a síndrome do ovário policístico pode se manifestar de forma diferente de paciente para paciente, porém os principais sintomas envolvem:

  • Menstruações pesadas, longas, intermitentes, imprevisíveis ou ausentes;
  • Infertilidade;
  • Acne ou pele oleosa;
  • Excesso de pelos no rosto ou no corpo;
  • Calvície de padrão masculino ou queda de cabelo;
  • Ganho de peso, especialmente ao redor da barriga.

Além disso, a organização destaca que mulheres com SOP têm mais probabilidade de ter outros problemas de saúde, como diabetes tipo 2; hipertensão arterial; colesterol alto; doenças cardíacas e câncer do endométrio.

Além disso, devido à sua manifestação clínica, a síndrome também pode causar ansiedade, depressão e uma imagem corporal negativa e levar a um estigma social devido a sintomas como infertilidade, obesidade e crescimento indesejado de pelos.


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