POLÍTICA

PF encontrou dinheiro e santinhos do prefeito de Nilópolis com policiais militares e ex-chefe de gabinete

18 de fevereiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Flagrante na véspera do primeiro turno das eleições municipais de 2024, vencida por Abraãozinho (PL), foi o ponto de partida de uma operação deflagrada na última quinta-feira

Operação da PF apreendeu R$ 172 mil na casa do prefeito de Nilópolis, Abraãozinho (PL) — Foto: Divulgação/PF

A investigação da Polícia Federal (PF) envolvendo o prefeito de Nilópolis (RJ), Abraãozinho (PL), sobrinho do bicheiro Anísio Abraão David, flagrou policiais militares e um ex-chefe de gabinete da administração municipal com santinhos eleitorais e dinheiro em espécie, além de anotações contendo nomes e dados pessoais de eleitores. O flagrante, na véspera do primeiro turno das eleições municipais de 2024, foi o ponto de partida de uma operação deflagrada na última quinta-feira, que apreendeu R$ 172 mil na casa de Abraãozinho.

A PF afirma que identificou um “complexo esquema de corrupção eleitoral” em Nilópolis, município da Baixada Fluminense conhecido como sede da escola de samba Beija-Flor – cujo patrono é Anísio, tio do prefeito. De acordo com os investigadores, o esquema “envolvia o uso de candidaturas laranjas e uma rede de apoio que se estendia a servidores públicos e políticos locais”.

O inquérito, obtido pelo Globo, aponta que dois policiais reformados, os subtenentes da PM Cicero Moreira Mendonça e José Gomes de Souza, além do soldado da ativa Willian Tadeu Nunes de Oliveira, foram flagrados em uma casa, em Nilópolis, durante uma diligência que apurava indícios de “pagamento em dinheiro em troca de votos”.

Os investigadores observaram que a casa tinha “uma placa apontando que estava à venda” e “não havia nenhuma informação que pudesse indicar que seria um comitê político”.

Na diligência, a PF encontrou R$ 15,2 mil em espécie com o subtenente Gomes, no momento em que ele deixava a residência em um veículo com outras quatro pessoas. O policial portava uma pistola calibre 0.40. Dentro do veículo, embaixo do banco do carona, a PF encontrou outra pistola, de calibre .38, e nenhum dos ocupantes “assumiu a propriedade” do objeto, o que fez todos eles, incluindo o PM, serem enquadrados por porte ilegal de arma de fogo.

Um dos ocupantes do carro era o auditor do município Rodrigo Dias Duarte, que foi chefe de gabinete tanto na gestão do ex-prefeito Farid Abraão — irmão de Anísio e tio de Abraãozinho –, quanto no início da atual administração. Posteriormente, Duarte também foi secretário municipal de Governo, na gestão de Abraãozinho, até junho de 2022.

Com ele, a PF encontrou R$ 25,3 mil em espécie, a maior parte dentro de sua mochila, além de uma “listagem nominal com indicação de valores e a totalização em cada página”. Outro homem, identificado como João Leandro Botelho, foi preso com R$ 11,4 mil dentro de uma bolsa preta, após correr para dentro da casa no momento da abordagem da PF.

“Ademais, no interior do imóvel (…), a equipe descobriu que existiam diversos santinhos, banners e adesivos do candidato Abraão David Neto, alcunha Abraãozinho, como também diversos manuscritos e contratos”, informou o delegado Geraldo Silva de Almeida, titular da Delegacia de Direitos Humanos e Defesa Institucional (Delinst) da PF.

Além de Duarte, ao menos outras dez pessoas presas pela PF em outubro tiveram cargos de confiança na gestão de Abraãozinho.

Um deles foi o subtenente da PM Cicero Moreira Mendonça, que foi coordenador de Ordem Pública na secretaria municipal de Segurança Pública. Ele foi exonerado por Abraãozinho uma semana após sua prisão, assim como outros sete funcionários. A lista inclui três pessoas – Giulia Gabriela Nascimento Alves, Jaqueline de Lacerda Mucheli Lopes e Ricardo de Andrade Elias – que estavam nomeadas no gabinete do próprio prefeito.

Outro alvo preso pela PF foi a professora Gilda Pereira Lima José, que havia se afastado das funções na prefeitura em julho de 2024 para concorrer a vereadora em Nilópolis pelo PP, partido da base de Abraãozinho. Além dela, outros dois candidatos foram flagrados no suposto esquema de compra de votos: Helayne Silva e Alexandre WO, ambos do PL, mesmo partido do prefeito.

Após a prisão em flagrante, todos foram liberados mediante medidas cautelares, como proibição de manter contato com outros investigados e suspensão do exercício de funções públicas.

Além de Abraãozinho, a PF apura a participação do advogado Bruno Cabral Pereira no esquema. Cabral recebeu, ao todo, R$ 111,3 mil para prestar serviços advocatícios para dezenas de candidatos nas eleições de 2024, incluindo o prefeito de Nilópolis e os candidatos a vereador presos em flagrante pela PF.

O advogado chegou a ser vice-presidente do Detran-RJ em 2023, por indicação do deputado estadual Rafael Nobre (União), e hoje atua como procurador-geral da Câmara de Vereadores de Nilópolis.

Em nota, Abraãozinho afirmou que está “à disposição da Justiça para que tudo seja esclarecido” e disse que sua atuação tem “compromisso com a transparência e com a legalidade”. Procurado, Bruno Cabral não retornou os contatos. O Globo não conseguiu localizar as defesas dos demais citados.


BS20250218063033.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/02/18/pf-encontrou-dinheiro-e-santinhos-do-prefeito-de-nilopolis-com-policiais-militares-e-ex-chefe-de-gabinete.ghtml

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