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Andrei Rodrigues também afirmou que acréscimo em relatório que indiciou Bolsonaro será enviado nas ‘próximas semanas’ ao STF
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, comentou sobre a citação do tenente-coronel e delator Mauro Cid de que Michelle Bolsonaro fazia parte do grupo mais radical do entorno de Bolsonaro que apoiava o golpe de Estado. Segundo Andrei, a esposa de Jair Bolsonaro não foi indiciada com ele porque os investigadores não viram “elementos suficientes” para chegar a essa conclusão.
O depoimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro foi prestado em agosto de 2023 e foi revelado pelo colunista Elio Gaspari, do Globo. Na delação, Cid dá destaque ao papel desempenhado pela ala “mais radical”, composta por familiares, integrantes do governo, parlamentares bolsonaristas e militares.
— O fato de participar de um grupo radical, moderado ou light, não traz nenhuma consequência jurídica para o processo. É importante saber qual foi a efetiva participação das pessoas para o conceito criminal e ação criminosa desenhada — afirmou Andrei em entrevista ao programa Roda Viva desta segunda-feira.
Segundo a delação de Cid, o grupo mais radicalizado era dividido em duas partes. A primeira se concentrava em buscar indícios de fraudes nas urnas eletrônicas diante da derrota do ex-presidente para Lula nas eleições de 2022. A ala contaria com a participação de nomes como do deputado federal e ex-ministro Eduardo Pazuello (PL-RJ) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, além do major da reserva Angelo Denicoli e do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS).
Ainda segundo o relato do ex-ajudante de ordens, o grupo buscava por “algum elemento concreto de fraude, mas a maioria era explicada por questões estatísticas”, que eram apresentadas a Bolsonaro pelo major Denicoli. O ex-ajudante de ordens também a disse que “a única coisa substancial que encontraram foi a questão das urnas antigas que ensejou a ação do PL”, protocolada por Valdemar e que pedia a anulação dos votos.
A segunda parcela da ala radical era responsável por “instigar o ex-presidente a dar um golpe”, e era a favor “do braço armado”. O grupo teria figuras como Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-mandatário. Além deles, também integrariam o assessor especial Filipe Martins, os ex-ministros Onyx Lorenzoni e Gilson Machado, o general Mario Fernandes e os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES).
De acordo com Cid, esses aliados formavam um grupo que “não era organizado”, mas sim formado por “pessoas que se encontravam com presidente, esporadicamente, com a intenção de exigir uma atuação mais contundente”. O tenente-coronel também relatou que o grupo queria que Bolsonaro assinasse a minuta do golpe, acreditava que “quando o presidente desse a ordem, ele teria apoio do povo e dos CACs”, além “romantizar o artigo 142 da Constituição Federal como o fundamento para o golpe de estado”.
A Polícia Federal indiciou, em novembro do ano passado, Bolsonaro e outras 39 pessoas por suposta participação numa trama golpista. O relatório será enviado nas ‘próximas semanas’ ao Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o diretor-geral.
— Nada mais faremos do que encaminhar uma análise do material apreendido da operação Contragolpe que tem uma relação direta com o caso que está sob investigação do STF. Isso será breve, não sei exatamente quando, mas creio que nas próximas semanas — disse Andrei.
No relatório de 884 páginas que encaminhou ao STF no final do ano passado, a PF afirma que Bolsonaro “planejou, atuou e teve domínio de forma direta e efetiva” em um plano de golpe de Estado para mantê-lo no poder no fim de 2022. Segundo a PF, os “atos executórios” realizados por um grupo “liderado” por Bolsonaro tinham o objetivo de abolir o Estado democrático de direito — “fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à vontade de Bolsonaro”. Desde que foi indiciado, o ex-presidente tem negado envolvimento em qualquer discussão sobre tentativa de golpe no fim de seu governo.
Em entrevista ao Globo, no início do ano, Rodrigues deu mais detalhes sobre o relatório complementar.
— A partir das apreensões realizadas nessa fase, de depoimentos coletados, dos que ainda serão tomados e de outros fatores que estão sendo apurados, vamos finalizar um relatório complementar que também vai servir de base para a Procuradoria-Geral da República fazer a análise — disse o delegado da PF ao Globo. E acrescentou que um dos focos da PF é apurar o financiamento do suposto plano golpista:
— E agora há esse fato trazido pelo depoimento (de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro). Vai ser apurado exatamente de onde saiu esse valor. Mas são detalhes que não interferem no seio da investigação, que apontou cabalmente a tentativa de golpe.
O diretor ressaltou que o relatório que apontou responsabilidade criminal a Bolsonaro traz “provas” e “não convicções”.
— A Polícia Federal não condena, não denuncia, não pré-julga, mas no âmbito policial chegou à conclusão que aquelas pessoas têm responsabilidade sobre aqueles atos criminosos — afirmou ele.
Novos depoimentos e materiais foram apreendidos durante a Operação Contragolpe, deflagrada em novembro do ano passado. Essas provas estão sendo analisadas pelos investigadores que encaminharão novas conclusões à Procuradoria-Geral da República (PGR), a quem cabe avaliar se apresenta ou não uma denúncia contra os suspeitos. Na prática, isso pode resultar na implicação de novos personagens na trama.
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