POLÍTICA

Planalto critica desempenho de suplentes de ministros no Senado e vê oposição pressionando Lula

23 de janeiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Em véspera de ano eleitoral, governo avalia que 2025 será um ano com tom “plebiscitário” no Senado

O Palácio do Planalto está insatisfeito com o desempenho dos suplentes de ministros no Senado e vê com preocupação a falta de nomes com estatura para fazer o embate com a oposição na Casa. Articuladores políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que 2025 será um ano com tom “plebiscitário” no Senado, em que os adversários da gestão petista deverão fazer barulho por pautas ideológicas, tentarão colar o governo às questões identitárias e vão esticar a corda contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

A previsão pessimista do Planalto é baseada no fato de que 2025 será o ano que antecede o período eleitoral de 2026, quando dois terços dos assentos da Casa serão renovados. Das 81 vagas do Senado, 54 estarão em disputa nas urnas. Mais do que votar com o governo, auxiliares de Lula sentem falta de nomes que façam a queda de braço com bolsonaristas no plenário e nas comissões.

Desde o início do terceiro mandato de Lula, cinco senadores eleitos se licenciaram para integrar o primeiro escalão do governo. São nomes experientes como os ministros da Educação, Camilo Santana (PT-CE); dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL); do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT-PI); e da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD-MT).

Fávaro foi substituído por Margareth Gettert Buzetti (PP-MT), na troca considerada a mais problemático pelo Planalto. A parlamentar tem postura contrária ao governo e faz críticas públicas à gestão de Lula. Fávaro, a pedido do Planalto, se licencia do cargo de ministro toda vez que há uma votação importante para o governo. Como em novembro de 2023, quando voltou para o Senado para votar contra a Proposta da Emenda à Constituição (PEC) que limita decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em dezembro de 2024, voltou à Casa para votar favoravelmente às medidas do pacote fiscal.

Enquanto isso, Buzetti já disse que o governo pecou pela falta de diálogo ao não discutir um projeto seu que atenderia os governadores insatisfeitos com a PEC da Segurança. Ela também reclama que o Planalto envia Fávaro para as votações sem sequer pedir seu apoio antes.

— Nesses dois anos de mandato, segui a orientação do governo em 80% das votações. Tenho duas leis sancionadas e que o governo encaminhou favoravelmente. Entendo que estes números mostram por si que eu faço o trabalho de base. Desde que assumi, sempre deixei claro que não votaria contra minhas convicções pessoais, contra o setor produtivo nem contra o Mato Grosso — afirma a senadora.

Wellington Dias é substituído por Jussara Lima no Senado. Embora a parlamentar do Piauí vote de acordo com os projetos de interesse do Executivo, o Planalto avalia que ela não faz enfrentamento com a oposição como Dias faria. Também não é cogitada para relatar projetos ou mesmo participa de discussões estratégicas. Na visão de auxiliares de Lula, os substitutos são parlamentares de menor expressão e não têm estatura para mobilizar a Casa em momento importante de embate com a oposição Procurada, a senadora não se manifestou.

Ex-governador do Piauí por quatro mandatos, integrante da coordenação da campanha de Lula em 2022, Wellington Dias é considerado um petista com estofo para defender o governo.

Uma ala do Palácio do Planalto defende que Dias e Fávaro retornem ao Senado definitivamente na reforma ministerial, mas reconhecem que esse cenário é pouco provável. Lula gosta do trabalho de Fávaro na Agricultura e avalia que a permanência de Wellington Dias no Desenvolvimento Social também é importante. Isso porque o Planalto prevê que a pasta que cuida da maior parte dos programas sociais do governo, incluindo Bolsa Família, poderá ser alvo de fake news e desinformação na campanha de 2026 e precisará de uma gestão de continuidade. Também pesa o fato de Wellington Dias estar em meio de mandato no Senado e não precisar deixar o ministério para concorrer ano que vem.

A senadora Augusta Brito (PT-CE), suplente do ministro Camilo Santana, é considerada um caso mais positivo pelos articuladores de Lula. A parlamentar foi escolhida para ser vice-líder do governo no Senado. Com histórico de já ter sido deputada estadual por dois mandatos e prefeita no Ceará, é vista como uma postura mais assertiva a favor do governo.

— Temos uma oposição forte no Senado e para se contrapor a ela é necessário estar sempre pronta para defender projetos e posições de governo. Para isso é fundamental um diálogo constante com os ministros e com o Palácio do Planalto — diz a parlamentar.

Nome do MDB de Alagoas, Fernando Farias substitui Renan Filho na Casa. É considerado um voto fiel ao governo, com postura alinhada, mas também não tem perfil de embate à oposição.

Há ainda a vaga deixada por Flávio Dino (PSB-MA), que depois de sair do Ministério da Justiça foi indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF). O posto hoje é ocupado pela senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA).

Na atual formação do Senado, o Planalto considera ter 39 senadores considerados da base, 29 consolidados na oposição e 13 em disputa a depender da votação e da pauta. Dos aliados de Lula, 11 terão mandato até 2030, enquanto 15 da oposição ficarão mais seis anos. São os senadores da base do governo que mais sofrerão trocas de meio de mandato em 2026.

É por isso que Planalto teme que Lula fique emparedado por um Senado bolsonarista em um eventual quarto mandato. Na hipótese da oposição eleger metade das 54 vagas em disputa, já teria maioria da Casa. O cenário mais preocupante se concentra no Norte e Centro-Oeste, que reúnem 11 estados, com chance provável de eleger, de largada, 22 senadores adversários, segundo o cálculo de petistas.

É no Senado onde ocorrem votações de indicações para o Banco Central, agências reguladoras e embaixadores e que pode apreciar impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).


BS20250123152821.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/01/23/planalto-critica-desempenho-de-suplentes-de-ministros-no-senado-e-ve-oposicao-pressionando-lula.ghtml

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