VARIEDADES
Podcast premiado, Projeto Querino ganha versão em livro, que amplia proposta original“
11 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboProjeto Querino: um olhar afrocentrado sobre a História do Brasil” tem lançamento na Flip: ‘Vi o potencial de realmente fazer algo novo’, diz o jornalista Tiago Rogero
Idealizado pelo jornalista Tiago Rogero, o Projeto Querino cruzou a fronteira do mundo dos livros após conquistar milhares de ouvintes como podcast e vencer o Prêmio Vladimir Herzog em 2023. Durante a Flip, Rogero participa de três debates e apresentará, pela primeira vez, o livro “Projeto Querino: um olhar afrocentrado sobre a História do Brasil” (Fósforo). Nele, o autor revisita a História do Brasil a partir de uma perspectiva da população negra, protagonista frequentemente apagada das narrativas tradicionais.
Rogero falou na quinta (10) na Casa de Histórias com Tiago Coelho e Daniel Bergamasco. O escritor participa nesta sexta (11), na Casa Sete Selos, às 15h, do debate “Perspectivas afrocentradas sobre a formação do Brasil”, com Tiganá Santana e mediação de Bianca Santana, às 15h. Por fim, participa ao lado da autora indígena Txai Suruí da mesa “Novas Histórias do Brasil” no sábado (12), na Casa Folha, às 18h30.
O Projeto Querino surge como podcast e se expande para outras mídias. Qual o maior desafio de fazer a transição da palavra falada para a escrita?
Quando lançamos o podcast, produzido pela Rádio Novelo, ele logo fez sucesso. Fui procurado por editoras de livros e produtoras audiovisuais para fazer uma adaptação. Resisti inicialmente, porque não queria que fosse uma simples transcrição do que já estava no podcast, já que o podcast é um produto completo por si só. Com o livro, vi o potencial de realmente fazer algo novo. Passei mais de um ano pesquisando e escrevendo. Depois de ajustarmos o tom, mantivemos a oralidade, que é um dos principais atrativos do Projeto Querino, além da simplicidade na forma de tratar os temas.
Já que você citou a oralidade, como enxerga essa tendência do podcast e da valorização da palavra falada?
Não acho que seja um interesse repentino. Podcasts estão em alta desde 2014 e só crescem no Brasil. É algo muito antigo, como a oralidade em si, que é a base de todas as culturas. O mercado de áudio no Brasil está se consolidando, com uma oferta e um público cada vez maiores. O podcast também se adapta bem ao ritmo moderno das pessoas, que estão sempre fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo. Ele oferece a oportunidade de aprender ou se divertir enquanto se faz outra atividade.
Como o lançamento do livro contribui para ampliar o alcance do Projeto Querino?
O podcast ainda depende de internet, algo que não é acessível a todos no Brasil. O livro, por outro lado, tem a chance de chegar a um público que talvez o podcast não alcançaria. Isso é importante, pois o objetivo final é que o Projeto Querino chegue ao maior número possível de pessoas.
Haverá uma adaptação também para quadrinhos…
Sim, o que representa outro desafio, mas ainda estamos na fase inicial.
Não faz muito tempo, as mazelas da escravidão eram ignoradas na educação escolar. Esse movimento de contar essas histórias a partir de outras perspectivas não é exatamente novo, certo?
Não é. Intelectuais negros vêm contando essas histórias há muito tempo. Também houve uma revolução no conhecimento do Brasil, com as políticas de ações afirmativas, permitindo que mais pessoas negras acessassem o ensino superior e produzissem conhecimento. O Projeto Querino se insere principalmente nesses dois movimentos, contribuindo para os esforços dos nossos antecessores. Além disso, o mercado percebeu que ignorava um público consumidor majoritário no Brasil.
Na pesquisa para o Projeto Querino, qual personagem histórico mais te impactou?
Foi a do Manuel Querino, primeiro intelectual brasileiro a tratar africanos e afrodescendentes de maneira positiva. Foi abolicionista, jornalista e um dos primeiros a reconhecer o protagonismo dos negros na História do Brasil. Outras histórias que me tocam profundamente são a de Maria Firmina dos Reis, primeira mulher a publicar um romance no país, e Luiz Gama, meu maior herói, cuja trajetória é incomparável.