ARTIGOS
Por mais tolerância nas relações
1 de dezembro, 2023Flávio Resende, jornalista, empresário e mentor de projetos e iniciativas de impacto social.
Esta semana, a juíza Kismara Brustolin – que atua como substituta na Vara de Trabalho de Xanxerê (SC) – tornou-se conhecida nacionalmente após a divulgação de um vídeo no qual ela aparece gritando com uma testemunha e advogados durante uma audiência por videoconferência. Na gravação, aos berros, ela exige ser chamada de “excelência”.
Ao questionar se era obrigado a tratar a juíza daquele modo, o rapaz foi intitulado “bocudo” por Kismara, tentou prosseguir com o depoimento, mas, por não atender à exigência da magistrada, teve sua janela de videoconferência fechada e foi excluído da sessão.
Após o ocorrido, Brustolin desconsiderou o depoimento da testemunha, alegando “falta de urbanidade e educação”. A servidora pública, que pediu licença médica por 15 dias, está sendo investigada pelo Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, após o episódio ocorrido no último dia 14 de novembro. O vídeo viralizou nas redes sociais nesta terça-feira (28/11).
O episódio trouxe à tona a discussão acerca dos limites dos espaços de poder, em relação ao cidadão comum. E mais: por que algumas categorias profissionais são endeusadas pela sociedade e isso é tolerado de forma pacífica?
Outro fato polêmico tomou conta do noticiário, no final de novembro, envolvendo um casal lésbico, que acusou um segurança do shopping Multicenter, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, de lesbofobia. O vídeo, que movimentou as redes sociais, mostra o momento da discussão entre as duas mulheres e o segurança. Ao que tudo indica, as vítimas estariam na praça de alimentação do shopping, onde teriam se beijado. Diante da cena, o segurança as teria abordado e repreendido o gesto. Assim como no caso da juíza, com gritos escandalosos, uma das moças se defende, agredindo o segurança e chamando a atenção do público para o que elas entenderam como “ato preconceituoso, já que se fosse um casal heterossexual, o mesmo não teria ocorrido”.
Sem entrar no mérito, o que justifica elevar o tom de voz e posicionar o dedo em riste, quando nos sentimos desrespeitados? Que valores temos recebido de casa? Que exemplos temos dado aos nossos filhos? Como reagimos diante daquilo que não alcança nosso ego? Nos dois casos, a forma de expressão é o ponto.
Nunca fez tanto sentido olharmos para estas questões como algo urgente a ser revisto. No entanto, num mundo que nos cobra resultado e imediatismo, a pressão acaba por nos desconectar de nós mesmos. E sem consciência, fica mais difícil perceber os limites e o espaço do outro.
Em tempos de planejamento para o ano novo que vem por aí, o convite que pisca em letras garrafais e em neon na nossa testa é de ampliarmos a nossa tolerância e respirarmos algumas vezes, contendo os nossos impulsos, quando precisarmos fazer valer a nossa voz. Que em 2024, mais pessoas conheçam os princípios básicos da Comunicação Não-Violenta para que entremos nos trilhos com destino a uma sociedade mais pacífica e amorosa.