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POLÍTICA

Por que Bolsonaro foi indiciado por desvio de joias, mas TCU autorizou Lula a ficar com relógio de luxo?

5 de julho, 2024 / Por: Agência O Globo

Decisão da área técnica do tribunal indicou que atual chefe do Executivo pode manter item, mas caso ainda terá que passar pelo plenário, sem data para entrar na pauta

Por que Bolsonaro foi indiciado por desvio de joias, mas TCU autorizou Lula a ficar com relógio de luxo?
Lula e Jair Bolsonaro — Fotos: Valter Campanato, Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O Tribunal de Contas da União ( TCU) adotou, num período recente, dois entendimentos diferentes relacionados a presentes recebidos por presidentes do país de autoridades estrangeiras. No caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinou a devolução de joias. Já o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ficar com o relógio de luxo recebido ainda no seu primeiro mandato, em 2005.

A primeira decisão da corte sobre o tema aconteceu em março de 2023, quando o plenário determinou, por unanimidade, que Bolsonaro devolvesse três presentes dados ao Estado brasileiro pelo governo da Arábia Saudita em 2021, assim como o conjunto de armas ofertado por autoridades dos Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, o tribunal se baseou em um acórdão de 2016 para concluir que presentes de alto valor comercial, mesmo os considerados de uso pessoal, precisam ser devolvidos à União para incorporação ao patrimônio público.

Por outro lado, em maio deste ano, a área técnica do tribunal concluiu que Lula pode ficar com um relógio de luxo, da marca francesa Cartier, avaliado em R$ 80 mil, por entender que a regra adotada em 2016 não poderia ser aplicada de forma retroativa. “A aplicação retroativa do entendimento retromencionado poderia (em tese) macular o princípio da segurança jurídica”, afirma o parecer, que conclui: “Por essa condição e pela ausência de quaisquer outros elementos que indiquem que o referido objeto é bem público da União, reconhece-se a improcedência da representação”.

O parecer foi feito a partir de uma representação do deputado Sanderson (PL-RS). A decisão ainda terá que passar pelo plenário do TCU, sem data para entrar na pauta.

O relógio Cartier foi dado ao presidente Lula ainda no seu primeiro mandato, em 2005, durante as comemorações em Paris do “Ano do Brasil na França”, pelo próprio fabricante. A peça é feita de ouro branco 16 quilates e prata de 750.

Na representação, o deputado alegou que o presidente Lula ficou com o relógio e que o bem poderia ser colocado à venda. O relógio não foi incluído entre os 434 presentes recebidos por Lula e recomendados à incorporação ao acervo da União.

Durante a campanha de 2022, o objeto criou polêmica entre bolsonaristas após uma foto publicada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, nas redes sociais. O argumento usado pela oposição era uma suposta contradição entre o discurso voltado para o eleitorado mais pobre e o uso de bens de luxo.

O que dizem as defesas

Procuradas, as defesas de Jair Bolsonaro, Bento Albuquerque, Marcelo da Silva Vieira, Marcos André dos Santos Soeiro, Osmar Crivelati e Marcelo Costa Câmara não responderam aos contatos da reportagem. O advogado responsável pela defesa de Mauro Cid e de seu pai, Mauro César Lourena Cid, afirma que ainda não teve acesso ao relatório.

Por meio de nota publicada na rede social X (antigo Twitter), Fabio Wajngarten alegou que atuou como advogado e que, por isso, o seu indiciamento é uma “afronta legal”. Ele disse, ainda, que que a ação é “arbitrária, injusta e persecutória”. Também indiciado pela PF, Frederik Wassef afirma que não foi Bolsonaro e nem Cid que pediram para que ele comprasse o Rolex. José Roberto Bueno Junior negou a participação em crimes e disse não ter sido informado sobre o indiciamento. A defesa de Julio Cesar Vieira Gomes disse não ter tido acesso ainda ao relatório da PF, mas nega a prática de qualquer crime por parte do auditor da Receita Federal.


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