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ECONOMIA

Por que o mercado dá como certo que os juros seguirão em dois dígitos em 2025? Analistas explicam

15 de outubro, 2024 / Por: Agência O Globo

Investidores preveem Selic em 11% ao ano ao fim do ano que vem, mas projeções já chegam a 13%

Por que o mercado dá como certo que os juros seguirão em dois dígitos em 2025? Analistas explicam
Painel eletrônico da Bolsa. — Foto: Pixabay

O mercado financeiro prevê uma taxa básica de juros mais alta que a atual para o fim de 2025, ainda que a expectativa seja de inflação mais baixa. A média da previsão dos analistas é de uma Taxa Selic de 11% ao ano no fim do ano que vem, com IPCA em 3,96%. O número foi revelado pelo Boletim Focus, que faz um levantamento semanal da expectativa de agentes financeiros para vários indicadores da economia e foi divulgado ontem.

Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano, e o IPCA em 12 meses se aproxima do teto da meta do Banco Central (BC), 4,5%. Além disso, o documento prevê uma inflação mais alta para este ano.

O documento do Banco Central, divulgado na manhã de segunda, mostrou que, para 2024, a previsão é de um IPCA de 4,39%, ante 4,38% na semana passada. Esta é mais uma aproximação ao teto da meta estipulado pela autoridade monetária, que é de 4,5%, e que vem “desancorando” semana após semana do centro da meta, que é de 3%.

‘Medidas continuam desancoradas’

Para Milena Landgraf, que chefia a área de análise macroeconômica da Jubarte Capital, a economia aquecida e os impulsos fiscais, que aceleraram a atividade, contribuíram para a piora das previsões para a taxa básica necessária para controlar a inflação:

— As expectativas continuam desancoradas, o mercado segue revisando a expectativa de Selic para cima, e o mercado precifica a taxa acima de 13%. E não vemos perspectiva para baixo da inflação futura — ela diz.

Hoje, um novo dado alimentou a perspectiva de uma economia resiliente: o IBC-Br, indicador da autoridade monetária conhecido como “prévia do PIB”, aumentou 0,2% em agosto.

Milena faz um paralelo com a precificação do mercado nas taxas de juros. A taxa de depósito interfinanceiro (DI), utilizada em contratos, prevê a Selic alcançando, ao fim do ciclo de alta, pouco mais de 13% ao ano.

O número é superior em mais de um ponto percentual do que bancos e casas preveem para a taxa no fim de janeiro do ano que vem, quando alcançaria os 12% e encerraria a trajetória de aperto.

Nesta segunda-feira, a taxa do depósito interfinanceiro (DI) para outubro do ano que vem chegou a prever uma Selic a 13,17%, enquanto, para novembro, os investidores embutiam na negociação uma expectativa da taxa básica a 13,15%.

Segundo a especialista da Jubarte, parte dessa possibilidade inclui dúvidas acerca da condução de política fiscal:

— O mercado sempre vai cobrar um prêmio de risco até ter uma agenda crível de corte de gastos. O mercado vai esperar o impulso fiscal e a atividade desacelerarem para conseguir precificar uma Selic terminal menor, ou conseguir enxergar o fim do ciclo de alta de juros — diz Milena.

Em relatório, a Warren Rena apontou que, para o ano que vem, é previsto um déficit de 0,83% do PIB nas contas públicas, enquanto a projeção do governo é de déficit zero.

O documento, assinado por Felipe Salto, Josué Pellegrini e Gabriel Garrote, aponta que a diferença de R$ 104,3 bilhões — que supera os R$ 40,4 bi, apresentados no projeto de Lei Orçamentária — advém das projeções de receitas, como as extraordinárias.

Para este ano, os analistas apontam um déficit de R$ 62,4 bilhões, ou 0,53% do PIB. A banda inferior da meta — estipulada em déficit de 0,25% do PIB —, diz o relatório, é possível de ser alcançada se houver cortes de R$ 4,5 bilhões em despesas discricionárias.

O número leva em conta a exclusão de R$ 33,6 bilhões referentes a despesas relativas aos gastos na recuperação das chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul.

Aperto maior

A expectativa para 2024 é que a Selic termine o ano em 11,75% ao ano, ou seja, que nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária, opte-se por um aumento de meio ponto em cada encontro.

Se isso se confirmar, o ritmo do aperto será maior, já que o ciclo, iniciado na última reunião, em 18 de setembro, foi de um aumento de 0,25 ponto percentual.

Para este ano, os investidores também revisaram para cima o PIB, de 3% para 3,01%. Câmbio e Selic se mantiveram estáveis na comparação com o documento da semana passada, a R$ 5,40 e 11,75% ao ano, respectivamente.

Já para 2025, além da previsão para uma Selic maior no fim do próximo ano, a previsão do câmbio também subiu, para R$ 5,40. Já a perspectiva para inflação registrou queda, para 3,96% (ante 3,97%). A previsão para o crescimento se manteve estável em 1,93%.


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