POLÍTICA

Possível federação com o PT pode levar à saída de Ciro Gomes do PDT

24 de janeiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Tido hoje como uma liderança mais simbólica que efetiva, ex-ministro tem destino incerto no partido, mediante sua postura de oposição ao governo federal e estadual

Ciro Gomes em entrevista exclusiva para O Globo — Foto: @cirogomes

A possibilidade de formação de uma federação com o Partido dos Trabalhadores (PT) tem gerado tensão no Partido Democrático Trabalhista (PDT) e pode culminar na desfiliação de um dos seus principais nomes nacionais, o ex-ministro e ex-presidenciável Ciro Gomes. De olho nas eleições de 2026, dirigentes do PDT vêm conduzindo conversas com o PV e o PSB, na busca por alternativas para superar a cláusula de barreira.

Essas negociações, entretanto, entram em choque com a postura ideológica de Ciro, que atualmente se posiciona como opositor ao PT. Em 2023, o ex-ministro rompeu com seu irmão, o senador Cid Gomes, por querer manter o afastamento das gestões petistas, representadas pelo presidente Lula e pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas. Pessoas próximas ao ex-presidenciável afirmam desconhecer essas tratativas e não confirmam uma eventual desfiliação.

Caso o PDT opte por se aliar ao PT ou a outros partidos ligados ao governo federal, Ciro dificilmente permanecerá. Sem mandato e com sua imagem desgastada desde as eleições de 2022, quando intensificou as críticas a Lula, ele mantém-se como uma liderança simbólica. O controle efetivo do partido está nas mãos do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, e do presidente interino, o deputado federal André Figueiredo.

— Ele está calado, observando os movimentos. Não ser candidato o deixa em uma posição confortável — avalia Eduardo Bismarck, secretário de Turismo do Ceará e filiado ao PDT.

Integrantes da direção nacional do PDT, ouvidos pelo GLOBO, afirmam que a federação com o PT ainda não é uma certeza. A resistência ocorre pela diferença de tamanho entre os partidos, que colocaria o PDT em uma posição de menor influência.

O partido enfrenta uma crise local no Ceará, seu antigo reduto. Nas eleições municipais de 2024, o PDT elegeu apenas cinco prefeitos, em contraste com os 67 conquistados em 2020. Em Fortaleza, o prefeito José Sarto (PDT) ficou em terceiro lugar, tornando-se o primeiro prefeito da história da cidade a não se reeleger.

A sigla que ocupou o espaço deixado pelo PDT foi o PSB, que cresceu no estado após atrair os prefeitos, ex-pedetistas, ligados a Cid Gomes. Diante da mágoa entre os irmãos, é improvável que Ciro continue no PDT, caso esses partidos se unam. Já a aliança com o PV, que é da base de Elmano, também não seria bem vista por Ciro, dado o posicionamento mais à esquerda do partido.

Acenos à direita

Além das críticas ao PT, Ciro tem feito movimentos em direção à direita, o que vem gerando desconforto com a direção nacional do PDT. Durante o segundo turno das eleições municipais em Fortaleza, disputado por Evandro Leitão (PT) e André Fernandes (PL), o PDT orientou neutralidade. No entanto, aliados de Ciro, como o ex-prefeito Roberto Cláudio, apoiaram Fernandes.

Ciro chegou a comentar, em uma publicação no Instagram, que o pior cenário para a capital cearense seria “a premiação do maior esquema de corrupção da história do Ceará”, em alusão à candidatura de Leitão. O hoje prefeito era filiado ao PDT até 2023 e foi o primeiro cidista a deixar a sigla, mediante autorização judicial.

Caso a federação com o PT se concretize, articuladores avaliam que Ciro não seria o único a deixar o PDT. Ele pode ser acompanhado por Roberto Cláudio, cotado para disputar o Senado pelo PL em 2026. As lideranças locais do partido de Bolsonaro, André Fernandes e Carmelo Neto, não possuem idade suficiente para concorrer à Casa. Fernandes tem 27, e Neto, 23. A legislação prevê o mínimo de 35 anos.


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