Cúpula do MDB tenta driblar Kassab para fechar fusão com o PSDB
9 de janeiro, 2025Emedebistas acenam com apoio a tucanos na disputa pela Presidência para minar conversas da sigla com o PSD
Aproximação entre os partidos ocorre em meio a divergências locais e resistência tucana
A possível federação entre PSD e PSDB a partir de 2026, hoje em negociação pelas siglas, encontra entraves em ao menos cinco estados por posicionamentos conflitantes. A postura oposicionista dos tucanos diverge do governismo majoritário adotado pelo partido de Gilberto Kassab. Os cenários ocorrem em Ceará, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Santa Catarina.
Um dos principais impasses se dá no Ceará, onde o PSD está aliado ao grupo político do PT, que governa o estado com Elmano de Freitas. Como reflexo desta boa relação, as siglas caminharam juntas nas eleições da capital, Fortaleza, e saíram vitoriosas com o prefeito Evandro Leitão (PT) e sua vice, Gabriella Aguiar (PSD).
Nesta mesma corrida, os tucanos indicaram o vice da chapa do prefeito derrotado José Sarto (PDT), Élcio Batista (PSDB). No segundo turno, assim como os pedetistas, preferiram a neutralidade, mas alas do partido chegaram a acenar para o bolsonarista André Fernandes (PL).
Na esfera estadual, os tucanos são oposição ao PT. Em outubro passado, o ex-senador Tasso Jereissati, uma das principais lideranças do Ceará, criticou a gestão de Elmano de Freitas.
— Eu vejo cenas e notícias daqui do Ceará que eu penso que é na guerra do Hamas. Hoje mesmo, vocês viram, foi em Itarema. Houve um massacre enorme em Itarema. É todos os dias uma notícia como essa — disse Jeiressati sobre a política estadual de segurança pública.
O PSD, por sua vez, participa da gestão. O presidente estadual do partido, Domingos Filho, ocupa a pasta de Desenvolvimento Econômico.
A situação de dissonância é similar à que ocorre na Bahia. Enquanto o governo de Jerônimo Rodrigues (PT) tem dois secretários do PSD, o líder da oposição na Assembleia Legislativa é um tucano, o deputado Tiago Correia. Aliado do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), Correia usualmente contrapõe os dois políticos, enaltecendo a gestão municipal e tecendo duras críticas ao Palácio de Ondina.
Até mesmo em cidades governadas pelo PSD, não há consenso entre as siglas. Nas eleições de outubro, os tucanos bancaram a candidatura do ex-senador Dário Berger em Florianópolis, capital de Santa Catarina, contra o prefeito reeleito em primeiro turno, Topázio Neto.
Já em Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) conseguiu atrair o endosso do PSDB para seu palanque, mas não há aliança na esfera estadual. Enquanto o PSD é o maior partido da base governista de Romeu Zema (Novo) na Assembleia, com dez deputados, os tucanos são oposição ferrenha.
A dificuldade de diálogo se dá pelas críticas mútuas entre os grupos políticos: o PSDB esteve à frente do governo mineiro por 20 anos, sendo 16 ininterruptos. As críticas a Zema são, inclusive, protagonizadas por um ex-governador, o hoje deputado federal Aécio Neves. A mais recente se deu em dezembro, após o governador afirmar que poderia federalizar as companhias estaduais.
— Não é de hoje que o governador Zema tem defendido essa alternativa, que dilapida o patrimônio dos mineiros. E o que é mais grave: sem qualquer consulta concreta à população do nosso estado, como determina a legislação em vigor — afirmou Aécio.
Ao GLOBO, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, disse que as negociações ainda não estão certas, mas minimizou as disputas locais. Além do PSD, a sigla tem tratativas com União Brasil, MDB, Podemos, PSB e Solidariedade:
— A gente está conversando com vários partidos, temos sido procurados por vários. Não há nenhuma definição. Qualquer que seja a solução vai implicar na flexibilidade de um lado e do outro, caso contrário não vai ter acordo com ninguém. São disputas que são históricas e tradicionais.
Atrativo por oferecer recursos e tempo de televisão, o PSD vinha negociando com governadores tucanos que serão candidatos à reeleição em 2026 — Raquel Lyra, em Pernambuco, e Eduardo Riedel, no Mato Grosso do Sul. Neste contexto, a possibilidade de federação freia os convites já feitos.
Tanto Lyra quanto Riedel ainda não haviam anunciado formalmente suas desfiliações, mas vinham sendo cortejados e não descartavam deixar o PSDB. Agora, ambos aguardam o desfecho da negociação.
No caso de Lyra, a saída do PSDB envolveria uma aproximação com o presidente Lula (PT), a quem seu atual partido faz oposição. Resta saber se a união das duas siglas levaria a federação hipotética à base do governo federal. Caso contrário, não solucionaria o impasse com a pernambucana, que pretende neutralizar a influência do prefeito João Campos (PSB) junto ao Palácio do Planalto de olho nas eleições para o governo do estado.
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