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ECONOMIA

Produção de ar-condicionado bate recorde e salta 83% no ano, com ondas de calor em pleno inverno

9 de setembro, 2024

A três meses do verão, consumidores já têm dificuldade em encontrar alguns modelos nas lojas

Produção de ar-condicionado bate recorde e salta 83% no ano, com ondas de calor em pleno inverno
Foto: Reprodução/Rádio Uirapuru

A três meses do início do verão, a produção brasileira de condicionadores de ar bate recordes, com previsão de encerrar o ano com 6 milhões de aparelhos fabricados. Mas, em meio a ondas de calor previstas para diferentes partes do país, já em setembro os consumidores têm dificuldades de encontrar alguns modelos nas lojas.

Representantes da indústria garantem que a produção está azeitada, com a demanda do varejo sendo distribuída normalmente. Mas, nas lojas, já faltam, ainda que pontualmente, unidades disponíveis à venda.

Números da Eletros, a associação nacional de fabricantes, mostram que a produção de condicionadores de ar bateu recorde este ano: de janeiro a julho, houve crescimento de 83% frente ao mesmo período de 2023. Foram 3,28 milhões de aparelhos entregues ao varejo no período.

Considerando-se apenas o primeiro semestre, as vendas de ar-condicionado para o varejo subiram 88%, patamar bem acima do registrado por outras categorias, como a linha branca (geladeiras, lavadoras e fogões), que subiu 16% na comparação com o ano passado, e a marrom (TV e home theaters, por exemplo), que avançou 20%. Já no caso dos ventiladores de mesa, houve salto de 123%.

Queixa sobre preços

As vendas das varejistas para os consumidores também vêm crescendo. O Magazine Luiza registrou alta de 30% nas vendas de condicionadores de ar em agosto, na comparação anual. O modelo mais procurado e vendido é o split.

O advogado Luciano Medeiros de Melo, de 45 anos, busca um aparelho de janela para sua casa, mas não tem encontrado bons preços:

— Achei que ficaria mais barato por não estar ainda no verão, mas só estou encontrando na faixa de R$ 1.700, e não estou vendo vantagem em comprar agora. E quanto mais próximo do verão, a tendência é encarecer mais, pela procura.

Segundo o Índice de Preços Fipe/Buscapé, os preços dos eletrodomésticos avançaram 3,6%, no acumulado em 12 meses até julho. Essa alta foi puxada pelos aparelhos de ar-condicionado, que subiram 14,6% no período.

O Magalu afirma que, no momento, as indústrias enfrentam algumas dificuldades no recebimento de insumos. “Isso ocorre principalmente por conta da seca que afeta a região da Zona Franca de Manaus e das dificuldades com frete internacional, já que a maior parte dos componentes de ar-condicionado é importada”, afirmou a varejista em nota. E ressaltou que antecipou suas compras e não terá problemas de estoque.

O presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento, diz que relatos de falta dos produtos no comércio “causam surpresa, já que a produção está batendo recorde”. Ele afirma não haver qualquer problema logístico na Zona Franca de Manaus, responsável por toda a produção de ar-condicionado no país, seja na chegada de insumos ou no escoamento da produção:

— A seca que assola os rios da região não está impactando o abastecimento. Tudo que está sendo produzido já saiu de Manaus. Talvez o que esteja acontecendo é que entre um pedido e outro nas lojas os produtos tenham acabado. A indústria não está deixando de atender. Mas há de fato um aumento imenso na procura por ar-condicionado e ventiladores.

Nascimento reconhece que fatores climáticos e econômicos — como a inflação menor e programas de renegociação de dívidas — “estimulam o consumo” e contribuem para o aumento das vendas. Mas assegura que a indústria suporta uma possível expansão da produção:

— As 17 fábricas de ar-condicionado no país têm parques muito grandes e estão com uma capacidade ociosa em torno de 20%, então o mercado suportaria ainda um crescimento grande (de demanda).

Indústria se antecipou

Os rios das Bacia Amazônica estão em níveis abaixo dos de 2023, quando a passagem de navios chegou a ficar interrompida em alguns pontos de acesso à Zona Franca. Além disso, a previsão é que as chuvas continuem escassas nos próximos meses.

Lucio Flavio Moraes, presidente executivo do Cieam, entidade que representa a indústria do Amazonas, diz que a seca que atinge a foz do Rio Madeira e a passagem de Tabocal — considerados os pontos mais críticos — já era prevista. Segundo ele, o setor se planejou para a possibilidade de impactos tão severos quanto os do ano passado:

— As fábricas anteciparam a chegada de insumos e também o escoamento da produção para as varejistas. Tudo está sendo entregue normalmente.

A fabricante Gree foi uma das que anteciparam a produção, com 80% das entregas de 2024 já realizadas.

— A expectativa é que, até a metade de setembro, os demais insumos sejam recebidos nas fábricas, para que a demanda anual seja concluída — diz Carlos Murano, gerente executivo de Vendas da marca.

O Globo procurou ainda Springer Midea, LG, Samsung e Whirpool (dona das marcas Consul e Brastemp), mas as empresas preferiram não se manifestar.


BS20240909105413.1 – https://oglobo.globo.com/economia/negocios/noticia/2024/09/09/forte-calor-aquece-a-demanda-e-producao-de-ar-condicionado-salta-83percent-no-ano.ghtml