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Prometeu tá prometido

2 de outubro, 2023

Deve-se evitar, a quase qualquer custo, faltar a três tipos de evento: casamentos, velórios e lançamento de livro. Por que? Veja bem, casamento, dá até […]

Prometeu tá prometido

Deve-se evitar, a quase qualquer custo, faltar a três tipos de evento: casamentos, velórios e lançamento de livro. Por que? Veja bem, casamento, dá até pra faltar, mas só se você não tiver confirmado a ida, tá? Porque a pobre da pessoa já pagou e é caríssimo. Ela dispensou alguém pra te chamar. Ninguém chama todo mundo que quer. Se chama o que cabe no orçamento. Se confirmou, vá. E é pra levar presente sim senhora. Vale igual pra festa de formatura e aniversário em buffet, só que nesses casos, o presente é opcional. Velório não precisa explicar, precisa? Tem que ir e acabou. Ninguém vai te convidar, você é quem vai atrás das informações, vai ser longe, vai ser triste, não me interessa, falte à reunião, ao date, à endoscopia e vá. E tem mais, cumprimente o enlutado, que aqui é todo mundo adulto. 

Pode até não parecer, mas de todos o mais não faltável é o lançamento de livro. A pessoa quando escreve um livro, não pensa no dia do lançamento, talvez até pense, mas na chave da comemoração e da glória. Só que quando o dia chega, nos minutos que antecedem o primeiro autógrafo, o coitado do autor só pensa que não vai aparecer ninguém e que ele vai ter que ficar lá sentado, caso alguém apareça, com uma caneta – parcelada no cartão – na mão. A pessoa nunca tinha pensado em comprar uma caneta, mas na véspera, problematizou a Bic, a Stabilo e qualquer caneta que já tivesse em casa. A pessoa comprou uma roupa com cara de eu já tinha essa em casa, mas olha como sou linda e sabida. E será que vocês vão gostar mesmo da leitura? Não, será que vocês vão ler? Não, será que vocês vão vir? Não, será que vocês existem? E eu? Onde estou? Quem sou eu? Tu entende? É sério o compromisso com o lançamento de livro.

E aí que eu vou. Me chamou, tô indo. Conheço a pessoa super? Vou. Conheço mais ou menos? Vou também. Fiz inglês por um semestre aos 15? Já tô lá. Agora, tem que ir e comprar o livro, certo? De maneira que o orçamento vai dando aquela comprometida. É pior do que noiva dando festa. Porque o psicanalista/escritor é o novo diretor de arte/DJ. Lembra quando todos os amigos eram DJs e você tinha que ir a 500 festas por mês e todas tinham cartazes lindos que te convenciam porque eles também eram diretores de arte. É meio isso. Hoje eles são o psicanalista/escritor. Os. Não tem mais espaço em casa pra tanto livro e tem que ler, porque vai que o autor comenta uma passagem e tu não faz a menor ideia do que ele tá falando. 

Pensando agora, no próximo, vou sacar um velório ou um casamento de desculpa, que tal? Um, outro ou até os dois. “Fulano do céu, não vou conseguir ir no lançamento. Tava num casamento e a noiva (substituir, caso queira, por noivo, padre, madrinha) morreu. O velório vai ser agora, não posso faltar de jeito nenhum”. Pronto, vou fazer  isso. Mas se um dia eu lançar um livro, vocês vão, por favor? Massa, combinado. Prometeu tá prometido. Olha lá. Boa semana, queridos.

 

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quemmandaaquisoueu – Verdadesinconfessàveissobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

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