Propriedades rurais do DF são referência no cultivo da baunilha
14 de fevereiro, 2024
Agricultores visitaram as plantações e receberam instruções de técnicos da Emater sobre as vantagens do cultivo da herbácea, que possui alto valor agregado
Produtores do Distrito Federal e de Minas Gerais visitaram duas propriedades rurais referências no cultivo da baunilha. Na ocasião, orientados por técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), os agricultores familiares tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre todo o processo que envolve a produção da planta, que possui alto valor agregado.
As visitas ocorreram em duas propriedades rurais pioneiras no plantio da baunilha: as chácaras Raziel, no Núcleo Rural do Tororó, e do Alecrim, no Núcleo Rural Altiplano Leste, ambas no Jardim Botânico. A Emater calcula que existam na capital federal 36 produtores com área cultivada em tamanho de comercialização.
Técnicos da Emater levaram agricultores familiares do Distrito Federal para conhecer um pouco mais sobre todo o processo que envolve a produção de baunilha | Fotos: Tony Oliveira/Agência Brasília
Um dos produtores assistidos pela empresa é Ângela Almeida, 69 anos. Ela é proprietária de uma das chácaras visitadas na tarde de sexta-feira (9) pelos agricultores familiares e conta ter sido como uma “brincadeira” que tudo teve início. “Eu comecei a cultivar por ser uma plantação que tem uma técnica que não exige muito de você, apenas no período da floração”, narra.
Ângela Almeida conta que começou a cultivar como que por brincadeira. Depois do apoio da Emater, está aumentando o plantio para cinco mil metros, que será todo computadorizado
Com o apoio da Emater, logo o que era um mero passatempo virou uma alternativa de renda para a produtora rural. “Eles me ajudam em tudo. Hoje, estou ampliando para cinco mil metros de plantio, que será todo computadorizado. Poder passar esses ensinamentos adiante é muito bom, ainda mais porque eu acredito muito que a gente, como produtor rural, não precisa desmatar para produzir”, diz.
Comércio em dólar
O técnico da Emater Carlos Morais afirma que o objetivo da empresa é difundir o cultivo da planta para criar uma cadeia de produção local. “Ainda não vivemos essa realidade aqui no DF e no país. Hoje, o estado mais adiantado na produção da baunilha é a Bahia, com cinco mil plantas maduras em produção”, explica.
US$ 100é o preço de 100 gramas do fruto desidratado
As espécies do gênero Vanilla são as únicas orquídeas cultivadas com o objetivo de aromatizar alimentos; todas as outras possuem interesse apenas ornamental. Além de aromatizante de chocolates, sorvetes, doces e algumas bebidas, a essência de baunilha também é usada em cremes, sabonetes e perfumes.
Segundo o especialista, uma das maiores vantagens em investir nessa produção é seu alto valor agregado. A baunilha é, atualmente, o segundo condimento mais valorizado do mundo, ficando atrás apenas do açafrão. “Uma planta produz, pelo menos, meio quilo; e, para se ter uma ideia, 100 gramas de fruto desidratado custam em torno de US$ 100”, detalha.
O seu elevado valor de mercado pode ser atribuído, em grande parte, ao longo processo de cultivo necessário para sua produção. A baunilha, conhecida por sua complexidade e delicadeza, pode levar até três anos para florescer pela primeira vez. E, após esse período, demora de nove meses a um ano para que um único fruto amadureça completamente. Já o preparo do produto a ser disponibilizado no comércio leva mais dois ou três meses.
De acordo com o técnico da Emater Carlos Morais, o objetivo da empresa é difundir o cultivo da planta para criar uma cadeia de produção local
Estima-se que o consumo anual de baunilha no mundo chegue a 5,5 milhões de toneladas. No contexto nacional, uma das espécies que se destacam pela alta produtividade é a baunilha-do-cerrado, podendo produzir meio quilo no primeiro ano, com a possibilidade de duplicar ou triplicar a produção à medida que a planta se adapta.
Passo a passo
O processo se inicia com o plantio de mudas, onde as gemas da planta são cultivadas por meio de estacas, permitindo a polinização manual e conduzindo o crescimento para uma altura gerenciável.
Após a colheita, os frutos passam por um processo de fermentação conhecido como “cura”. Nesse estágio, são submersos em um banho quente a 68ºC por cerca de três minutos, seguido por um período de 48 horas em uma caixa de isopor para interromper o amadurecimento.
Em seguida, as favas são colocadas para “suar”. Ou seja, ficam expostas ao sol no horário mais quente do dia, envolvidas em pano ou plástico para manter a temperatura durante a noite. Este processo, que dura cerca de 15 dias, resulta na perda de 70% de umidade, iniciando a fermentação e escurecimento das favas. Após essa fase, as favas entram em repouso na sombra.
A etapa seguinte é crucial para ressaltar o aroma da baunilha. Por meio do massageio das favas, é possível desgrudar a glicose da vanilina, composto químico responsável pelo sabor característico da baunilha.
Em seguida, as mesmas favas são embrulhadas e colocadas em caixas, amarradas com cordas e envoltas em papel. Os recipientes são fechados hermeticamente e permanecem assim por 40 dias, sendo abertos periodicamente para verificar a ausência de fungos e garantir a qualidade. Após esse período, as caixas estão prontas para a distribuição e comercialização.