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POLÍTICA

PSDB paulistano prepara expulsão de militantes que fizeram ato contra Datena na convenção partidária

30 de julho, 2024 / Por: Agência O Globo

Comissão provisória que dirige a sigla na capital irá instaurar processos disciplinares contra Fernando Alfredo e grupo que tentou invadir auditório

PSDB paulistano prepara expulsão de militantes que fizeram ato contra Datena na convenção partidária
Dissidentes do PSDB tentam entrar à força no plenário da Alesp — Foto: CNN/Reproução

O diretório municipal do PSDB em São Paulo prepara a abertura de processos disciplinares contra o grupo de militantes tucanos que tentou entrar à força no auditório da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) durante a convenção partidária que oficializou José Luiz Datena (PSDB) candidato a prefeito. A tendência é que Fernando Alfredo, ex-presidente municipal do PSDB, responda a uma representação no Conselho de Ética, o que pode desencadear expulsão.

A convenção partidária realizada no sábado, 27 de julho, foi marcada por confusões. Alfredo, aliado do prefeito Ricardo Nunes (MDB), mobilizou dezenas de pessoas que chegaram ao local em ônibus fretados e se apresentaram com camisetas pretas e o termo “militância tucana”. Ao serem impedidos de entrar no auditório por seguranças, tentaram furar o bloqueio aos empurrões e foram impedidos com apoio da Polícia Militar. O grupo também levou ao entorno um equipamento que reproduzia frases antigas de Datena e um carro de som que cobrava um “debate” interno com o apresentador de TV.

O GLOBO apurou que o partido já estuda como se dará o andamento dos procedimentos disciplinares. E que, pelo regulamento interno, a análise caberá exclusivamente ao diretório do PSDB na cidade de São Paulo. O corpo jurídico foi acionado para tratar do assunto. Também circula entre tucanos uma espécie de “dossiê” da confusão, contendo um vídeo que mostra Alfredo discutindo com uma mulher e forçando a entrada no auditório; ele termina com a mão presa na porta. Segundo o advogado Guilherme Ruiz Neto, o rito será “seguido à risca”, com direito a ampla defesa de todos os envolvidos.

No caso específico de Alfredo, existem dois processos abertos que podem penalizá-lo, sem a necessidade de abertura de uma nova representação. Um deles acusa o ex-dirigente de postar uma mensagem de cunho homofóbico em um grupo de WhatsApp (“Ficou bem de máscara rosa, bela homenagem”) como reação a uma foto de um filiado ao lado do governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB). O segundo sustenta que Alfredo se recusou a entregar as chaves da sede, documentos e senhas quando deixou o comando da legenda em São Paulo, o que poderia ser enquadrado como infidelidade partidária.

Alfredo afirmou ao GLOBO que foi o presidente do PSDB paulistano “que mais abriu espaço para diversidade” e que o conteúdo da mensagem envolvendo a foto de Leite era irônico porque o remetente seria “bolsonarista”. Sobre a transição de comando no diretório, alegou que continuou despachando normalmente na sede apenas enquanto a sua destituição do cargo era questionada na Justiça e que o PSDB poderia obter por conta própria os acessos devidos. A terceira possibilidade, de ser enquadrado em um novo processo pelo incidente na convenção, também é contestada:

— Não cabe representação nenhuma. Fomos lá democraticamente. Eu fui agredido lá, estou com a mão com três dedos fraturados, fiz boletim de ocorrência. Eu fui impedido de entrar na convenção do meu partido — relata Alfredo.

A fratura teria ocorrido quando prendeu os dedos na porta do auditório, na tentativa de entrar à força na convenção:

— Eles fizeram várias barreiras com seguranças e eu fui empurrando, fui entrando. Quando chegou na porta, seguraram a minha mão e forçaram com tudo.

Ainda no sábado, o ex-senador José Aníbal, anunciado como vice na chapa de Datena, declarou não existir a “menor chance” de Alfredo permanecer no partido e que “medidas legais” seriam tomadas contra os chamados “camisas pretas”. Nesta segunda, 29, reforçou que a questão será conduzida pelo Conselho de Ética, mas que não pretende se envolver por estar totalmente focado nos preparativos da campanha e no programa de governo.

— Estou desinteressado desse cara. Não é no terreno da política o problema dele — afirma José Aníbal.

Datena: ‘Não tenho medo de baderneiro, de safado’

Datena, que acusou o grupo de Alfredo de ter sido financiado por Nunes e trocou ofensas com os militantes antes de deixar a convenção, não quis opinar sobre qual decisão julga adequada para o caso, mas lembrou que o PSDB prometeu um cenário pacificado em torno de sua candidatura após a homologação.

— Não tenho que me meter nisso. O partido (é que) tem que decidir — afirma o candidato tucano, que também disse não temer novas confusões em agendas de campanha. — Isso é problema dele (Fernando Alfredo). Não tenho medo de baderneiro, de safado. Só fico triste porque isso é antidemocrático, o cara tentar invadir assembleia, quebrar porta, não deixar sair pela porta da frente. Acho muito triste.

Fernando Alfredo era ligado aos ex-prefeitos João Doria e Bruno Covas e defende o apoio a Nunes nas eleições municipais de 2024, por entender que se trata da continuidade da gestão tucana. Dirigentes atuais do PSDB, por outro lado, acusam Alfredo de atuar por interesses próprios. Sua esposa, Ana Paula França de Souza, é empregada da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab), que faz parte da administração indireta da prefeitura, desde 2020, com remuneração de R$ 17 mil mensais. Alegam ainda que a influência exercida nos diretórios zonais do PSDB da capital passa pela indicação de outros servidores em cargos comissionados na máquina pública.


BS20240730063014.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/07/30/psdb-paulistano-prepara-expulsao-de-militantes-que-fizeram-ato-contra-datena-na-convencao-partidaria.ghtml