VARIEDADES
‘Quiet beauty’: dermatologistas se mobilizam a favor da tendência estética que respeita as feições naturais do rosto; entenda
25 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboMovimento minimalista ganhou as redes sociais; celebridades brasileiras como Xuxa e internacionais como Julia Roberts, já aderiram à ideia
Nadando contra a onda de cirurgias plásticas (que tornaram o Brasil o primeiro do ranking mundial com mais procedimentos realizados no ano passado), cerca de dois mil dermatologistas apoiaram o abaixo-assinado em favor do Movimento “quiet beauty” (beleza silenciosa, em tradução livre).
O lançamento ocorreu durante o Congresso Médico de Estética Avançada (MAAC, sigla em inglês), que ocorreu neste mês e teve como objetivo educar tanto profissionais de saúde quanto pacientes, a respeito dos riscos associados a uma quantidade excessiva de procedimentos estéticos invasivos, desde harmonizações faciais a preenchimento de membros inferiores com polimetilmetacrilato (PMMA), por exemplo.
Os organizadores do movimento também alertam para um aumento de complicações pós-cirúrgicas causadas, muitas das vezes, por profissionais que não sabem atuar na correção desses problemas, é o que diz uma das líderes do movimento e Coordenadora da Câmara Técnica de Dermatologia, Eliandre Palermo.
— Estamos vivendo realmente uma era de complicações nunca vista antes — revela Eliandre, que é ex-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e foi uma das organizadoras do congresso.
A tendência do “quiet beauty” cresceu nos últimos anos seguindo na esteira do “quiet luxury” (luxúria silenciosa, em tradução livre). O objetivo é não deixar clara a marca da roupa que é usada. Trazendo para a realidade dermatológica, o movimento fomenta o uso de técnicas mais suaves para alternar com procedimentos artificiais constantes, como por exemplo, o preenchimento do rosto com ácido hialurônico ou botox — dois dos mais realizados no país no ano passado, de acordo com levantamento anual da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética.
Com doses quase homeopáticas, os profissionais buscam atenuar as marcas das intervenções no longo prazo e gradualmente realizar a mudança desejada pelo paciente, além de personalizar o atendimento, evitando uma padronização de corpos e rostos.
— Se você fizer tudo de uma vez, vai ficar estranho — diz a dermatologista. E continua: — Tem que ser hora com ácido hialurônico, depois com o bioestimulador de colágeno, que é como uma colcha, cobrindo o rosto e esticando, ou com um laser ADVA que estica e melhora a qualidade da minha pele. Então, é preciso associar essas coisas, porque senão é como se ficasse só fazendo o que a gente chama de “tratamento do travesseiro”: pegar [o produto] e botar debaixo da fronha do travesseiro — completa a médica.
A tendência foi aderida por celebridades nacionais e internacionais, como Xuxa, Luiza Brunet, Hailey Bieber e a Julia Roberts.
— A ideia é que a pessoa respeite os traços do corpo dela — diz a dermatologista.
Além da questão estética, o movimento busca conscientizar pacientes sobre a banalização das intervenções artificiais e os riscos de se realizar tratamentos com profissionais não habilitados ou que não saibam atender em caso de complicações.
— É preciso educar as pessoas para que elas tenham consciência de que todo procedimento estético é passível de risco, todo, até o botox feito por profissionais competentes. Existe uma faixa de consideração de efeitos adversos que podem acontecer dentro de qualquer procedimento cirúrgico, mesmo simples — argumenta Eliandre.
E profissionais que busquem “clientes e não pacientes”, de acordo com a médica, acabam não considerando o histórico de possíveis comorbidades, uso de produtos de qualidade ou complexidade do procedimento.
A regulação para a realização desses procedimentos é feita pelos conselhos federais de cada profissão. Diferentes profissionais de saúde são liberados, como dermatologistas, dentistas, enfermeiros, biomédicos e farmacêuticos. Mas as entidades disputam regras mais rígidas.
No censo médico divulgado pelo Conselho Federal de Medicina na semana passada aponta 575.930 profissionais ativos neste ano. Destes, 12 mil são dermatologistas, 6,7 mil são cirurgiões plásticos e 3,2 mil cirurgiões vasculares.
A dermatologista ressalta que em muitos casos, não há uma rede médica preparada para atender as complicações e que “quando acontecem, esses profissionais [não médicos] vão embora e tem que ser tratadas por uma outra pessoa, de preferência um médico”, critica.