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Deputado federal Marcos Pollon perde protagonismo em meio a polêmica com seus pares na Câmara
Em um discurso inflamado na tribuna nas últimas semanas, o deputado federal Marcos Pollon (PL), de 44 anos, invocou uma máxima do líder histórico do PDT, Leonel Brizola, para vociferar contra ex-aliados. “A política ama a traição, mas abomina o traidor. O que isso quer dizer? Que toda a perfídia, a balbúrdia, o burburinho de um movimento de traição é muito agradável aos espectadores, mas o traidor paga um preço muito alto”.
O advogado sul-mato-grossense, eleito com a promessa de turbinar a pauta armamentista no Congresso, referia-se a parlamentares de direita apoiados por ele e que hoje discordam de suas posições, consideradas radicais. A disputa atual, mais especificamente, se dá em torno de um projeto que endurece o Estatuto do Desarmamento ao propor um aumento da pena para quem dispara uma arma de fogo de uso restrito ou proibido, o PL 4149. A avaliação dos divergentes é de que Pollon não abre espaço para o diálogo e prejudica a pauta armamentista.
Deputado federal eleito com a “benção” do então presidente Jair Bolsonaro, Pollon começou seu mandato com protagonismo no Congresso. Agora, tem sofrido reveses que o deixaram enfraquecido tanto no Parlamento quanto no universo do tiro, segundo deputados, correligionários e atiradores ouvidos pelo Globo.
A postura beligerante na tribuna é só o sintoma de um entrevero maior entre armamentistas. Uma denúncia anônima recente, amplamente explorada por antigos apoiadores em suas redes sociais, acusa Pollon de ter usado em benefício próprio seu movimento de promoção da política armamentista: a Associação Nacional Movimento Proarmas (Ampa), conhecida como Proarmas, criada em 2021 com a pretensão de se tornar a versão brasileira da Associação Nacional do Rifle (NRA), a entidade de lobby armamentista mais poderosa dos Estados Unidos.
A denúncia começou com uma postagem feita no X, sob o pseudônimo Emily Thorne, protagonista da série Revenge (Vingança, em inglês). Segundo a personagem delatora, ao se filiar ao movimento Proarmas, uma associação sem fins lucrativos, o apoiador estava, na verdade, comprando cursos online e assessoria de outro CNPJ, uma empresa privada de Pollon. Com o suposto golpe, Pollon teria enriquecido às custas da causa armamentista. Um dossiê assinado pelo mesmo pseudônimo e com denúncias semelhantes, ao que o Globo teve acesso, também circula pelo Whatsapp de políticos de Brasília.
Pollon afirma não ter enganado os membros do Proarmas. Ao Globo, diz que anunciou “publicamente” a plataforma de cursos, e que o Proarmas sempre foi mantido com os recursos dessa empresa. Questionado sobre o percentual do faturamento repassado à associação sem fins lucrativos, afirma que nunca fez as contas. “Mesmo porque o valor investido era muito maior. Não tem como fazer a dosimetria disso aí, não é esse o objetivo. E, como é de livre adesão, ajuda quem quer”. No passado, em uma live em que se recusava a prestar contas, foi menos comedido. Disse que, se quisesse, poderia gastar esse dinheiro com “cachaça e puta”.
Em suas redes sociais, um dos ex-aliados de Pollon fez uma transmissão ao vivo para checar as denúncias e foi além. O advogado César Mello afirma que Pollon transformou o Proarmas em uma holding familiar, com capital social de R$ 1,3 milhão. Mello, que era um dos apoiadores mais próximos do criador do Proarmas até o último pleito presidencial, foi eleito primeiro suplente de deputado estadual (PP) pelo Paraná.
Está agora, ele próprio, sendo investigado pelo Ministério Público Eleitoral por abuso de poder político. Pollon nega que o Proarmas tenha se transformado em uma holding. Segundo ele, a holding em questão tem 100% do capital oriundo de dois terrenos do pai.
— Eram de propriedade dele há mais de 10 anos. Foram integralizados no capital. Quem fez essa narrativa sabe que é mentira, e construiu justamente porque as pessoas não entendem a complexidade disso. Tenho algumas empresas com o nome Proarmas. A única relação que essa empresa [holding] tinha com a associação era o registro do site. Como é uma empresa que nunca teve movimentação, converti numa holding — explica Pollon.
Caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) satisfeitos com a explicação de Pollon foram às redes sociais, suas frentes de batalha, defender o parlamentar. Um deles chamou quem desconfia do líder do Proarmas de “comunistas do tiro”. “Quem luta para desagregar faz o trabalho da esquerda”, escreveu. A outros, entretanto, a satisfação não foi suficiente. A querela repercutiu também no Congresso, segundo um correligionário da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, popularmente chamada de Bancada da Bala.
— O Pollon instrumentalizou o apoio político do Proarmas. Os deputados que contaram com apoio do Proarmas em 2022 e continuaram apoiando o Pollon receberam esse impacto. Eles achavam que iria se repetir em 2026, mas não vai acontecer. O Pollon acabou perdendo suporte, ficou desacreditado. Ele está isolado — diz o parlamentar. — Os atiradores que apoiaram se sentiram enganados e trouxas. Os políticos viram que o cara ganhou dinheiro com uma causa que é super importante.
Segundo esse mesmo deputado, Pollon passou de uma “postura de negociação” no início do mandato para um comportamento atual de “vitimismo extremista” – em referência ao fato de que ter se declarado autista recentemente.
— Ele se colocou em uma posição de radicalismo, afastado. Ele deixou uma engrenagem de trabalho para um objetivo positivo para ser um peão louco que fica batendo em todo mundo. Ele perdeu a relevância na pauta. É só um doido que fica gritando lá, parece até aquele pastor da Bíblia — opina.
Impressão semelhante tem outro correligionário. Para ele, Pollon peca pela inabilidade para ouvir e conversar mais com o Ministério da Justiça, defensor de uma política de controle de armas, na tentativa de chegar a um meio termo no que será votado em plenário.
— A última vez que eu o vi na tribuna, ele usou até palavras de baixo calão, e isso depõe contra o mundo parlamentar. É lamentável que, quando ele defende com tanta radicalidade, acaba não levando a sensibilidade ao governo de tentar modificar alguma coisa.
O deputado se referia a um discurso recente na tribuna, em que Pollon chamou de “burro” quem discorda de seu ponto de vista. Um dos principais alvos do ataque é o relator do PL 4149, o deputado federal Max Lemos (PDT-RJ). Dias antes, Lemos incluiu no texto um artigo que anistiava pessoas com armas registradas de crimes previstos no Estatuto do Desarmamento. Horas depois, sob o argumento de que houve um “erro de redação”, retirou o artigo. Pollon considerou uma traição.
— Eu vejo o Pollon como o único radical nesse assunto — resume o deputado Max Lemos. — Respeito a posição dele, só não dá pra fazer o que deseja.
Candidato a deputado federal com maior votação em seu estado, com 103 mil votos, Pollon ascendeu na onda do fortalecimento da direita e do bolsonarismo. Se no passado era a indústria quem influenciava, em Brasília, a flexibilização das regras para armas, naquele momento passaram a ser civis como Pollon a se sobressair nos bastidores.
Pollon diz militar pela cultura armamentista desde 2005, inspirado por Bene Barbosa, do Movimento Viva Brasil, um dos precursores da causa. Até meados de 2020, era só mais um que se valia das redes sociais para espalhar conteúdos pró-armas, com caráter mais técnico e jurídico. Sua influência começou a alcançar novos patamares em maio daquele ano. No auge da primeira onda da pandemia da Covid-19, ele compareceu ao cercadinho do Palácio da Alvorada.
Vestindo um agasalho do Palmeiras e com uma máscara estampando a bandeira do Brasil pendurada na orelha, Pollon pedia mudanças em uma instrução normativa da Polícia Federal que impedia o porte de armas. Bolsonaro sinalizou que atenderia à reivindicação. Virou para um assessor e ordenou: “Anota aí”. A cena foi filmada, viralizou, e a instrução foi revogada e substituída. Depois da abordagem no cercadinho, Pollon se tornou próximo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), hoje licenciado do cargo por motivos pessoais.
Nos bastidores, correligionários dizem que a relação com a família Bolsonaro já não vai bem. O desgaste teria começado na pré-campanha das eleições municipais no ano passado. Depois de a direção nacional do PL indicar que apoiaria o pré-candidato do PSDB à prefeitura de Campo Grande, Pollon ficou enfurecido e se lançou na disputa. Em vídeo publicado em suas redes sociais, afirmou que matinha sua palavra de nunca endossar um tucano, referindo-se ao colega na Câmara dos Deputados, Beto Pereira (PSDB).
Pollon se lançou pré-candidato a contragosto e sem permissão de Bolsonaro. Depois do vídeo, ele foi afastado da presidência do PL de Mato Grosso do Sul, a pedido de Valdemar Costa Neto, presidente nacional da sigla.
Questionado sobre se está enfraquecido no Congresso, Pollon é enfático:
— Um parlamentar enfraquecido não teria condição de, praticamente sozinho, ter impedido a votação de um projeto que até ontem ia ser votado com unanimidade. E nós já vamos para sete semanas ou mais em que esse projeto de lei é colocado e retirado da pauta. Vou mais longe. Existe a grande possibilidade de vencermos essa questão — pontua. — Quando vou para qualquer estado da federação ou município do meu estado, os políticos são extremamente calorosos. Com meu líder político, o Eduardo Bolsonaro, e com o presidente Bolsonaro, estou muito bem, obrigado.
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