VARIEDADES

Rainha de bateria da Portela, Bianca Monteiro faz ritual antes de entrar na Avenida

29 de janeiro, 2024

► ‘Estudante de Serviço Social e candomblecista e já raspou a cabeça em obrigação de iniciação na religião Basta a Portela entrar na Avenida para os olhos se voltarem para Bianca Monteiro, rainha de bateria da Azul e Branco há oito anos. Cria da comunidade e experiente no posto, ela busca trazer novidades a cada …

‘Estudante de Serviço Social e candomblecista e já raspou a cabeça em obrigação de iniciação na religião

Basta a Portela entrar na Avenida para os olhos se voltarem para Bianca Monteiro, rainha de bateria da Azul e Branco há oito anos. Cria da comunidade e experiente no posto, ela busca trazer novidades a cada ano à frente dos ritmistas. Para o carnaval 2024 não está sendo diferente. Com o enredo “Um defeito de cor”, que fala sobre a ancestralidade cultuada no sagrado feminino, Bianca faz mistério quanto a sua fantasia, mas garante que terá dança afro em sua apresentação.

— Este ano, estou trabalhando mais o corpo, fazendo dieta mais intensa e passando um pouquinho de fome (risos) por conta do figurino da personagem. Também me preocupo com a expressão corporal. Estou fazendo aulas de dança afro para dar uma melhorada nessa parte em que não sou tão boa — detalha a moradora de Madureira, de 35 anos.

Bianca Monteiro — Foto: Divulgação

Para dar conta de atravessar a Marquês de Sapucaí, Bianca intensificou os treinos nas últimas semanas. A estudante de Serviço Social recebe orientações de uma personal trainer e também é acompanhada por uma médica: primeiro, para driblar problemas respiratórios, como asma e bronquite; depois, para desenvolver sua alimentação.

— Estou focada, treinando praticamente todos os dias da semana. Além disso, tem a dança e faço corrida para melhorar meu condicionamento físico. Eu sou rebelde para dieta. Amo cozinhar e comer também. Gosto de tomar uma cervejinha, mas nesta época eu tento me alimentar o mais saudável possível, de três em três horas. Só não consigo tirar o açúcar no meu cafezinho (risos) — destaca.

Apesar do foco na dieta e nas atividades físicas, Bianca não se deixa levar pela pressão estética. Faltando 14 dias para o desfile da Portela, ela acredita que ter a mente sã é ainda mais importante.

— Não posso ficar abalada. Não adianta estar com o corpo perfeito e a cabeça péssima. Tento conciliar os dois para chegar bem ao desfile. De alguns anos para cá, gosto de vir com esse corpo característico da mulata. Acho linda mulher grande com quadril e cintura fina — afirma.

Bianca Monteiro — Foto: Divulgação

Rainha de bateria da Portela, Bianca Monteiro ficou careca após se iniciar no candomblé

Para cuidar da mente, Bianca se apega à fé. Candomblecista, ela diz que a crença a ajuda a superar as dificuldades:

— Eu faço macumba (risos), me cuido espiritualmente. Recentemente, fiz o santo. Quando você cuida da sua cabeça, consegue se manter. As pessoas não têm noção do quanto isso (a religião) faz bem, ajuda no autocontrole, a lidar melhor com as dificuldades. Hoje eu posso dizer que sou uma nova Bianca — afirma.

Uma das etapas para ser “batizada” no candomblé são as obrigações religiosas, que vão desde fazer oferendas até a raspar o cabelo. Depois de cortar os fios, ela fez questão de se mostrar careca nas redes sociais: ao mesmo tempo que recebeu muitos elogios, sofreu preconceito.

— Li coisas como “mas ela vai desfilar?” e “ela pode desfilar?”. Existem vários comentários assim, absurdos. Nem pego essa energia, isso faz parte da ignorância das pessoas. Chegaram ao ponto de ligar e mandar mensagem para o presidente (da Portela) para saber se ele ia me deixar desfilar. Cumpri todos os meus preceitos e todas as minhas obrigações dentro dos meus limites — conta, ressaltando: — Somos o que somos. Não estou fazendo nada de mal pra ninguém. Eu estou cuidando de mim. Meu pai (de santo) jogou (os búzios), Iansã me liberou. Quis ficar careca justamente para as pessoas saberem quem eu sou, é o que me fortalece.

Vinte e uma vezes desfilando só pela Portela, sem falar das que atravessou o Sambódromo em ensaios técnicos, ela pediu a liberação dos orixás para estar na Sapucaí mais uma vez.

— Tenho todo um ritual antes de entrar na Avenida. No carnaval, faço um trabalho especial para me resguardar além do desfile. Tem muita gente na rua, muita bebida, muita violência, né? A gente fica vulnerável a determinadas coisas. Então é como pedir uma proteção para curtir o carnaval tranquilamente e desfilar brilhando cada vez mais — destaca Bianca, que é noiva do professor Virgilio Magalde.

(Agência O Globo) — Foto: Divulgação

Legenda da foto: Bianca Monteiro

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