
Toffoli marca acareação com investigados no caso Banco Master
Medida faz parte do processo sobre fraudes financeiras

Texto foi aprovado pelos senadores com mudanças no que havia sido definido pelos deputados e terá de voltar à Câmara
Em discussão há quase quatro décadas, a Reforma Tributária deu mais um passo ontem no Congresso Nacional. O Senado aprovou o maior e mais importante projeto de regulamentação do novo sistema de tributos por 49 votos a 19.
A reforma prevê a adoção, no Brasil, de modelo já adotado em outros países, com unificação de impostos e facilitação da cobrança, mas foram feitas alterações pelos senadores para incluir mais exceções ao sistema de cobrança de impostos sobre o consumo de bens e serviços.
Com alterações feitas pelos senadores, a proposta volta para a última análise da Câmara, e a tendência é que a votação ocorra semana que vem. Depois, o governo prevê que o texto seja sancionado pelo presidente Lula ainda neste ano.
A maior parte das alterações no Senado vinha sendo comunicada à Câmara, o que facilita a tramitação da proposta. Agora, os deputados vão decidir apenas se aceitam ou não as mudanças — e, nesse caso, a Câmara tem a palavra final.
O projeto trata de temas como cashback para baixa renda (devolução de imposto), composição da cesta básica e detalhes do funcionamento de impostos criados com a reforma: o federal Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o estadual Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Eles irão substituir IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS.
Mudanças feitas no Senado devem elevar a alíquota padrão da reforma para mais de 28%, o que deixará o IVA brasileiro o maior do mundo. Porém, o relator Eduardo Braga (MDB-AM) prevê que a taxa deve cair conforme a transição entre sistemas tributários for ocorrendo, com a diminuição da sonegação fiscal. Além disso, foi definida trava de 26,5%. Se o valor do imposto foi maior que isso, o governo terá de propor corte de benefício.
Uma das mudanças com maior impacto feita pelos senadores foi incluir os serviços de saneamento básico na alíquota reduzida em 60%. Isso teria impacto de 0,38 ponto percentual na alíquota final, segundo o secretário de Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. A Abcon, entidade que representa concessionárias privadas de água e esgoto, comemorou, dizendo que isso vai evitar alta de 18% na tarifa de água, reequilíbrio de contratos e desaceleração de investimentos.
— O Ministério da Fazenda está satisfeito. Como toda etapa, preferíamos que tivesse menos exceções, mas sabemos que é o curso político. O fundamental é que a espinha dorsal está mantida — disse Appy, um dos pais da reforma.
O Senado manteve armas e munições de fora do Imposto Seletivo, o chamado “imposto do pecado”. Bebidas açucaradas, como sucos industrializadas e refrigerantes não terão a taxa adicional. Eles foram retirados na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) e mantidos de fora pelo plenário.
— No Brasil, nós vamos pagar mais impostos por flores do que por armas; vamos pagar imposto mais alto por fraldas do que por armas; vamos pagar imposto mais alto por brinquedos do que por armas — criticou o senador Randolfe Rodrigues, PT-AP, líder do governo.
Na cesta básica, além de itens como carnes e queijos, o texto do Senado acrescentou mais tipos de farinhas, massas e fórmulas proteicas na cesta básica zerada, além da tapioca e da erva-mate. O relator tirou os óleos de milho e de soja da cesta básica zero e os colocou na alíquota reduzida em 60%.
Entre os medicamentos e dispositivos que terão 60% de desconto na alíquota, o relator incluiu produtos de Home Care, usados para tratamentos de idosos, pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida quando tratadas em casa; além de serviços de esterilização e instrumentação cirúrgica.
Os senadores acrescentaram trecho que equipara os serviços de saúde veterinária à saúde humana, levando a categoria a ter uma alíquota reduzida de 60%. Braga acatou emenda que aumentou o limite de benefício para carros para pessoas com deficiência. Antes, a isenção era até R$ 70 mil, agora é até R$ 120 mil.
Braga ainda acrescentou que serviços funerários, de cremação e de embalsamamento terão 60% de redução. As academias foram incluídas na lista de serviços com 30% de redução de alíquota, assim como profissionais liberais. Na quarta-feira, o texto foi votado na CCJ do Senado.
— O Congresso demonstrou mais uma vez a coragem ao aprovar um texto tão complexo, que afeta interesses de todas as ordens, mas que será fundamental para o desenvolvimento econômico do país. Entendemos que o texto, tal como veio da CCJ, é capaz de retirar de cena um sistema arcaico de tributação para dar início a um novo modelo moderno, eficiente — disse Braga, que se empenhou em negociações de última hora para garantir os votos necessários.
Na lista de mudanças, foi colocado que motoristas e entregadores de aplicativos terão apenas 25% do valor bruto mensal recebido na base de tributação — o restante fica isento. Bares, restaurantes, hotéis, parques de diversão e temáticos terão alíquota reduzida em 40%. Para imóveis, foi ampliado de 40% para 50% o percentual de redução de novos tributos na alienação. Na locação, só haverá cobrança de pessoa física com o mínimo de três imóveis alugados e receita de ao menos R$ 240 mil anuais.
— A Reforma Tributaria é uma das matérias mais complexas que já passou pelo Parlamento brasileiro — disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O que diz a reforma? A reforma cria o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) — que reúne ICMS, estadual, e ISS, municipal — e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), referente a PIS/Cofins e IPI, federais. Juntos, formam o Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
Trava: Haverá um limitador de alíquota padrão. A regra funcionará como uma espécie de gatilho: toda vez que a taxa de referência ameaçar ultrapassar o índice de 26,5%, medidas de redução de carga tributária seriam acionadas.
Cesta básica ampliada: Alguns produtos terão uma alíquota zerada. É o caso de proteínas de origem animal, como carne, frango e peixe, leite fluido pasteurizado ou industrializado, fórmulas infantis, manteiga e margarina, feijões, raízes, coco, café, farinhas, açúcar, massas, pão francês, queijos, sal e mate.
Cesta básica com desconto: Há ainda uma lista de produtos que terão desconto de 60% sobre a alíquota dos futuros impostos. Na lista, estão crustáceos (exceto lagostas e lagostim), mel, amido de milho, sucos naturais e polpas de frutas sem adição de açúcar, pão de forma, extrato de tomate, bolacha, óleo de soja, de milho, canola e demais óleos vegetais.
Imposto Seletivo: O Imposto Seletivo (apelidado de imposto do pecado) terá uma alíquota maior que a padrão. A ideia é que esse imposto seja cobrado de produtos ou atividades nocivos à saúde ou ao meio ambiente. O objetivo é desestimular, por meio da cobrança extra, o consumo desses produtos. O Imposto Seletivo será aplicado nos seguintes produtos e serviços: veículos; embarcações e aeronaves; produtos fumígenos; bebidas alcoólicas; bens minerais (exceto para exportação); concursos de prognósticos e fantasy sport;
Cashback: O projeto prevê 100% de cashback (devolução) de imposto federal sobre energia elétrica, água, esgoto para a população de baixa renda. No Senado, foram incluídas as contas de telefone e internet. Com isso, os inscritos no CadÚnico terão a devolução total do valor pago em (CBS) sobre os itens. Já para IBS, o cashback será de 20%. Caberá às autoridades locais determinar ou não a ampliação da devolução do imposto. O projeto também prevê cashback de 100% de CBS para botijão de gás.
Nanoempreendedor: Os parlamentares criaram a figura do nanoempreendedor, que não existe na legislação brasileira. A categoria é composta por empreendedores que faturam R$ 40,5 mil anualmente (R$ 3.375 mensais) que poderão escolher entre ficar no Simples Nacional, regime simplificado para micro e pequenas empresas cumulativo (com taxação em cascata), ou migrar para o IVA, que tem alíquota maior, mas não é cumulativo. Pelo texto, o nanoempreendedor que migrar para o IVA deixará de recolher para a Previdência Social. O texto ainda estabelece que os motoristas de aplicativos ou entregadores terão considerados como receita brutal para incidência de imposto apenas 25% dos ganhos com corridas.
Medicamentos: Todos os remédios pagarão menos imposto. Medicamentos populares, como antigripais, foram incluídos na alíquota reduzida de 60%. Outros, usados em tratamentos graves, terão alíquota zero, como remédios para tratamentos oncológicos; doenças raras; DST e AIDS (o projeto traz essa descrição); e doenças negligenciadas.
Profissionais liberais: A reforma prevê redução em 30% das alíquotas do IBS e da CBS sobre a prestação de serviços de 18 profissões regulamentadas de natureza científica, literária ou artística, como administradores, advogados e arquitetos e urbanistas.

Medida faz parte do processo sobre fraudes financeiras

Comitê e Receita querem transição educativa em reforma tributária

Ano começará com a bandeira tarifária verde

Novo projeto foi necessário para adequar valores de referência para cálculo do imposto. Não houve alteração nas alíquotas
