EDUCAÇÃO

Relembre os primeiros passos da educação pública no DF

21 de abril, 2025 | Por: Agência Brasília

Entre os primeiros colégios de Brasília, está a Escola Parque 307/308 Sul

A Escola Parque 307/308 Sul está entre as estruturas pioneiras de Brasília, que seguem em pleno funcionamento | Fotos: Felipe Noronha/SEEDF

Há 65 anos, em meio à poeira vermelha e aos sonhos da nova capital, uma revolução educacional nascia junto com Brasília. A história da educação pública no Distrito Federal tem início em 1956, com a criação do Departamento de Educação e Difusão Cultural, sob a direção de Ernesto Silva, membro da primeira diretoria da Novacap. Coube a Anísio Teixeira, então diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, elaborar, em outubro de 1957, o Plano do Sistema Escolar Público de Brasília.

No mesmo mês, enquanto tratores e operários erguiam a futura capital, surgia a primeira escola da rede pública do DF: o Grupo Escolar 1 (GE-1), mais tarde renomeado Escola Júlia Kubitschek, em homenagem à mãe do presidente Juscelino Kubitschek, professora primária aposentada. Projetada por Oscar Niemeyer e apelidada de Catetinho da Educação devido às semelhanças arquitetônicas com o Palácio do Catetinho — ambos construídos em madeira —, a escola foi erguida em apenas 20 dias no núcleo pioneiro da Novacap, hoje Candangolândia.

A Escola Júlia Kubitschek seguia os princípios da Escola Nova, oferecendo educação em tempo integral, modelo que rompia com os padrões da época. “Era uma proposta inovadora, voltada para o desenvolvimento completo das crianças”, comenta a professora Martita Icó, que atua no Museu da Educação há 15 anos.

A primeira turma contava com 150 alunos e quatro professoras, mas esse número logo aumentou com a chegada de novas famílias à capital em construção. “Foi um privilégio participar dos primórdios da educação em Brasília. Na Escola Júlia Kubitschek, mesmo com uma infraestrutura simples, vivíamos a educação do futuro. Atendíamos os filhos dos pioneiros em tempo integral, aplicando os ideais da Escola Nova. Cada aula era uma pequena revolução educacional em meio ao canteiro de obras da nova capital”, relembra Marilda Guimarães Mundim, 85 anos, uma das primeiras professoras da instituição.

Entre 1957 e 1960, o sistema educacional do DF cresceu rapidamente, alcançando cerca de 4.700 alunos matriculados em 22 escolas provisórias, que atendiam os filhos dos trabalhadores espalhados pelas frentes de obra. Em 1960, ano da inauguração oficial de Brasília, já havia 42 professores concursados atuando nas escolas pioneiras, muitos vindos de outros estados, atraídos pela chance de integrar um projeto educacional revolucionário.

O plano inovador de Anísio Teixeira

O Plano de Construções Escolares de Brasília (PCEB), idealizado por Anísio Teixeira em sintonia com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), transformou a capital em um laboratório de um projeto educacional único no Brasil. Integrado ao plano urbanístico da cidade, o PCEB inovou em vários aspectos: as escolas ofereceriam educação integral, com atividades acadêmicas, culturais e esportivas ao longo do dia.

A primeira turma da Escola Júlia Kubitschek contava com 150 alunos e quatro professoras | Foto: Divulgação/Arquivo Público do DF

Para isso, a cada quatro Escolas Classe, destinadas ao ensino formal, haveria uma Escola Parque, voltada a atividades artísticas, sociais e recreativas, inseridas no conceito de unidade de vizinhança das superquadras do Plano Piloto. “Anísio Teixeira sonhava com uma educação que formasse o ser humano em sua totalidade”, explica Martita Icó. “As Escolas Parque, estrategicamente localizadas nas superquadras, eram centros de formação cultural e cidadã.”

Nove dessas estruturas pioneiras ainda funcionam no Plano Piloto: Jardim de Infância 21 de Abril, Jardim de Infância da 208 Sul, Escola Classe da 206 Sul, Centro de Ensino Fundamental CASEB, Escola Classe da 108 Sul, Centro de Ensino Fundamental 01 de Brasília, Escola Classe 308 Sul e a icônica Escola Parque 307-308 Sul. Fora do Plano Piloto, destacam-se outras escolas pioneiras, como a Escola Classe 01 de Taguatinga, Escola Classe Cerâmica da Benção, Escola Classe Granja do Torto, Escola Classe Riacho Fundo, Centro Educacional Fercal, Centro de Ensino Médio EIT, Centro de Ensino Fundamental 01 do Paranoá e Centro de Ensino Fundamental Tamanduá, símbolos vivos desse projeto visionário.

Legado que permanece

“Anísio Teixeira não apenas concebeu estruturas físicas integradas à cidade, mas estabeleceu uma filosofia educacional que ainda nos guia”

Hélvia Paranaguá, secretária de Educação

Para a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, o legado de Anísio Teixeira segue presente na rede pública do DF. “Seu projeto visionário foi muito além de seu tempo. Ele não apenas concebeu estruturas físicas integradas à cidade, mas estabeleceu uma filosofia educacional que ainda nos guia. A educação integral, a valorização das artes e da cultura e a democratização do conhecimento são pilares que ele inseriu no DNA da educação do Distrito Federal e que continuam nos orientando. Após 65 anos, sua visão humanista e transformadora segue nos inspirando, adaptada aos desafios atuais.”

Apesar das transformações ao longo das décadas, os princípios como a educação integral, a formação cultural e a busca pela democratização do ensino ainda influenciam a educação no DF. “Aqueles primeiros anos definiram muito do que somos. O espírito inovador e o compromisso com uma educação transformadora permanecem nossa marca”, resume Hélvia Paranaguá.

*Com informações da Secretaria de Educação

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