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VARIEDADES

Robert Downey Jr. estreia na Broadway como um romancista que usa I.A. para escrever novo livro

1 de outubro, 2024 / Por: Agência O Globo

Peça “McNeal”, de Ayad Akhtar, está em cartaz em Nova York até novembro

Robert Downey Jr. estreia na Broadway como um romancista que usa I.A. para escrever novo livro
Cartaz da peça "McNeal", estrelado por Robert Downey Jr. Foto: Divulgação / Broadway

Robert Downey Jr é a grande estrela da peça “McNeal”, de Ayad Akhtar, um experimento mental sobre arte e inteligência artificial que coloca a caneta contra o pixel. A trama é ambientada em “um futuro muito próximo” e coloca interações mediadas por computador (chatbots preditivos, grandes modelos de linguagem, inteligência artificial generativa) em oposição a seus antepassados ​​analógicos para levantar questões como: Que oportunidades criativas essa tecnologia oferece ao artista? Que oportunidades humanas ela desperdiça?

Jacob McNeal, interpretado pelo formidável Robert Downey Jr., é um romancista literário másculo e esforçado da velha escola, como Saul Bellow ou Philip Roth. Logo na divertida cena de abertura, ele não consegue fazer o ChatGPT informar quais seriam suas chances de ganhar o Prêmio Nobel. “Espero que isso tenha sido útil”, digita o bot. “Não foi, seu puxa-saco sem alma”, ele responde.

É preciso entender que McNeal é um homem que assume seus defeitos, neste caso a vaidade, como uma adorável idiossincrasia, como se fosse um chapéu de penas. Ele descarta com igual alheamento as implicações morais e afirma agressivamente suas credenciais anti-woke. Ao ser entrevistado por uma jornalista negra, pergunta se ela é uma “cota de diversidade”. E, como ela não morde a isca, acrescenta, como se um homem de sua sofisticação não fosse capaz de entender: “Eu disse algo errado?”

Ainda mais preocupante do que o que ele está disposto a dizer é o que ele está disposto a fazer para manter a lenda de sua grandeza. A maior parte da peça é ocupada pela história dele ter usado Inteligência Artificial para dar início a um romance, alimentando-o com partes de seus livros anteriores, temperados com Shakespeare, Ibsen, Flaubert e Kafka.

Mas a IA é apenas uma desculpa para o bloqueio do escritor. Mesmo antes do GPT ser desenvolvido, McNeal se envolveu em casos de plágio da velha escola: reaproveitando o trauma de uma ex-amante e roubando um manuscrito de sua esposa após seu suicídio. A IA é apenas uma maneira mais limpa e eficiente de fazer o que ele sempre fez.

É um crédito para Downey em sua estreia na Broadway que ele esteja disposto a ser tão sombrio — ainda que não seja uma surpresa, dados seus filmes, incluindo “Oppenheimer”, pelo qual ganhou um Oscar em março. Mas não é como se ele tivesse muita escolha. A peça precisa que ele seja ultrajante o suficiente para sustentar os pontos extravagantes da trama, que de outra forma são inexplicáveis ​​até mesmo para um homem que engole litros de bourbon ao enfrentar um diagnóstico de doença hepática avançada. Ainda assim, você sente Downey se esforçando para justificar McNeal sem torná-lo mais leve, um trabalho impossível em um papel impossível.

Mas a maioria dos papéis, incompletamente adaptados do argumento, são impossíveis. Apenas Andrea Martin, como a agente preocupada, mas profissionalmente dependente, consegue um esboço vívido de uma figura reconhecível, embora seja raro um agente que edite pessoalmente o trabalho de um cliente.

Já os cenários (por Michael Yeargan e Jake Barton) e as projeções (por Barton) são os elementos mais bem-sucedidos da produção, especialmente os painéis e imagens digitais. Quando McNeal, bêbado e doente, vomita, ele vomita palavras literais.

Essa é uma imagem brilhante para uma peça que considera todas as formas de escrita como alguma espécie de plágio. Shakespeare, McNeal aponta, pegou a maior parte do enredo de “Rei Lear” de uma peça anterior, então o que há de errado em copiar “Rei Lear”? Ou histórias de outras pessoas? A IA, ele sustenta, apenas faz o mesmo trabalho de qualquer autor, digerindo a vida e seus artifícios para criar uma história expandida a partir de uma fonte limitada.

É um ponto fascinante para um escritor levantar, o tipo de proposição que atrai Akhtar em peças anteriores, incluindo a vencedora do Prêmio Pulitzer “Disgraced”. Quanto à validade da proposta, bem, vamos esperar um romance criado por IA que seja tão atraente quanto “Madame Bovary” ou uma peça tão rica quanto “Rei Lear”.

“McNeal” está em cartaz no teatro Vivian Beaumont, em Manhattan, até 24 de novembro.


BS20241001134510.1 – https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2024/10/01/robert-downey-jr-estreia-na-broadway-como-um-romancista-que-usa-ia-para-escrever-novo-livro.ghtml